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Avanço da biomassa de cana ainda é tímido

Avanço da biomassa de cana ainda é tímido

Um avanço, mas insuficiente para estimular as usinas processadoras de cana-de-açúcar a investir em novos projetos ou na modernização de plantas antigas a fim de aumentar a oferta de energia por biomassa de cana. Assim a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) considera os preços do leilão de energia A-5 previsto para o fim de novembro. O aumento dos valores praticados até então foi de 37%, com a previsão de R$ 197 por megawatt/hora. Mas o fato de a biomassa de cana concorrer com fontes não renováveis, como o gás natural, não agradou.

O segmento inscreveu 15 projetos com apenas 2% da oferta total de energia do leilão, afirma Zilmar José de Souza, gerente de bioeletricidade da Unica. O número de inscritos pode ter sido menor do que seria se o preço fosse divulgado antes, não depois das inscrições, afirma o executivo. “O setor vinha de preços muito ruins e não esperava valores mais remuneradores”, comenta. A situação representa uma recuperação em relação aos anos anteriores. Em 2012, por exemplo, o setor, que já havia entrado na crise por falta de correção dos preços de energia e do etanol, não apresentou projetos nos leilões.

Ainda assim, Zilmar não comenta se o preço é ou não suficiente para os projetos já existentes. “Varia conforme o empreendimento”, diz o gerente da Unica, explicando que um peso importante no custo é a ligação com a rede de transmissão, que fica por conta do investidor. A diretora de uma usina da região central do Estado de São Paulo que pede para não ser identificada declarou ao Valor que as tarifas praticadas no fornecimento de energia juntamente com a falta de correção dos combustíveis – que afeta o etanol – tem obrigado a empresa a promover seguidos exercícios de redução de custo para evitar prejuízos no cumprimento dos contratos.

Para o consultor Carlos Delpupo, diretor da Keyassociados, os preços oferecidos começam a se aproximar do necessário para viabilizar os projetos na área de biomassa, mesmo nos casos de cogeração – em que o investidor produz energia a partir de rejeitos agrícolas e industriais, utiliza parte no autoconsumo e libera apenas o excedente para a rede de distribuição. Nas contas de Delpupo, o megawatt-hora deveria custar entre R$ 180 – para usinas muito eficientes e próximas da rede de distribuição – e R$ 200 para remunerar a geração por biomassa.

“A cana ficou mais competitiva”, analisa Thais Prandini, diretora da Thymos Energia. “O preço começou a ficar interessante no leilão A-5.” Apesar disso, a bioletricidade vai apenas “pegar carona” nesse leilão, diz, porque as condições continuam mais favoráveis às térmicas. Ela acha saudável ter a biomassa de cana na matriz, mas não criar dependência em relação a essa fonte. “É importante ter um pouquinho de tudo. Biomassa tem preço bom, mas uma sazonalidade que outras fontes não têm. Depende muito da safra. Não dispõe de total segurança, como a usina a gás.”

O governo parece ter reconhecido que misturar fontes diferentes no mesmo leilão para competirem entre si não estava funcionando, mas a separação de fontes só ocorreu para valer no leilão de energia de reserva, marcado para outubro. “Um leilão que separa as fontes e não as coloca para competir entre si reforça a ideia de que vai haver um cenário muito claro do seu status na variedade da matriz energética brasileira”, afirma Delpupo.

Segundo ele, isso permite fazer um planejamento melhor, porque assegura a participação de fontes variadas na matriz e reduz a dependência de uma ou poucas fontes. Se houvesse essa participação, o país não estaria vivendo, há dois anos, problemas com a geração hidrelétrica devido à escassez hídrica. Para o consultor, o problema da biomassa é a garantia da oferta do insumo principal – no caso do setor sucroenergético, a palha e o bagaço da cana.

Thaís entende que no leilão de energia de reserva o governo está oferecendo um grande estimulo para o desenvolvimento da energia solar. “O preço separado no leilão de energia de reserva é para desenvolver a solar”, afirma. Ela questiona porque a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) não abriu também o leilão para fontes como eólica, cujo custo é mais baixo e ajudaria a reduzir o preço médio final.

De acordo com Zilmar, o setor pode responder rapidamente à necessidade de oferta de energia se os preços se tornarem mais competitivos. Não só pela instalação de novos projetos – paralisados há três anos devido aos preços baixos da energia e do combustível – como também pela adequação de usinas que hoje não exportam energia para a rede. A Unica calcula que das 389 usinas que produzem energia para autoconsumo, apenas 170 fornecem para a rede. As demais poderiam fazê-lo se encontrassem preços favoráveis que permitissem a modernização de suas instalações e justificassem o investimento.

(Fonte: Valor Econômico)

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