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Até onde ele quer chegar?

“O que vai acontecer daqui para frente é difícil prever, mas estamos no jogo”

Depois da compra do negócio de distribuição da Esso e da associação com a Shell, os concorrentes de Rubens Ometto querem saber qual será o próximo passo da Cosan, que tem 23 usinas de açúcar e álcool e já é a maior companhia sucroalcooleira do mundo

Brigo até o fim. Se não der, sigo em frente, diz o presidente da Cosan. Seu estilo agressivo de fazer negócios gera desafetos, embora o empresário negue rusgas com os seus principais concorrentes

Rubens Ometto Silveira Mello não entra em um jogo se não for para ganhar, seja em uma partida de golfe com amigos, seja nos negócios, onde se sente mais à vontade. Competitivo, o empresário, que desde novembro está na presidência do grupo Cosan, deu mais uma “tacada certeira” ao fechar uma joint venture com a companhia petrolífera Royal Dutch Shell na semana passada.

O novo passo dado por Rubens Ometto surpreendeu o mercado. “Até onde ele quer chegar?”, questionou um de seus principais concorrentes no setor de açúcar e álcool. “A Cosan ainda vai longe”, respondeu o empresário ao Valor.

A entrada de Rubens Ometto no setor sucroalcooleiro, no início dos anos 80, ocorreu, de certa forma, contra a sua vontade. Engenheiro mecânico formado pela Escola Politécnica da USP, o maior acionista do grupo Cosan começou a trabalhar como assessor da diretoria do Unibanco. A carreira deslanchou cedo. Com 22 anos, foi para o grupo Votorantim e dois anos depois já era o diretor-financeiro da companhia. Antes de ser convocado pelo seu tio Orlando Ometto para assumir os negócios da família, no início dos anos 80, Rubens ajudou a fundar a Táxi Aéreo Marília, a empr! esa que deu início à TAM, e foi o primeiro presidente do conselho da companhia aérea, da qual sua família detinha 70% de participação, antes de vender o negócio para o comandante Rolim Amaro. Também pilotou Kart, mas hoje prefere o golfe.

Os Ometto chegaram ao Brasil em 1887. Agricultores na Itália, dedicaram-se ao plantio de cana e produção de aguardente na região de Piracicaba, em São Paulo.

“Rubens sempre teve visão de negócio”, disse ao Valor Pedro Mizutani, presidente da Cosan Açúcar e Álcool, que está há 28 anos no grupo. Mizutani começou a trabalhar na usina Costa Pinto, em Piracicaba (SP), que pertencia à família do empresário, como trainee, em 1982, quando o grupo Cosan nem tinha sido ainda oficialmente formado – a fundação da companhia foi em 1986, com apenas duas usinas produtoras. Hoje, são 23, com capacidade de moagem de 60 milhões de toneladas. Seu principal concorrente, a francesa Louis Dreyfus processa a metade desse volume.

“O grupo não tinha o ! melhor carro, mas contratou o melhor piloto”, disse Mizutani, referindo-se à gestão bem-sucedida do empresário nos negócios.

A partir dos anos 90, logo após a forte crise do Procálcool, o grupo Cosan, com Rubens Ometto sempre no comando, voltou-se para o mercado de açúcar, o que ajudou a impulsionar os negócios da companhia. A expansão começou a partir dos anos 2000, por meio de aquisições, em pleno pico da crise de preços do setor sucroalcooleiro. Foi nessa época que o empresário passou a comprar usinas em dificuldades financeiras e a montar o seu império do açúcar e do álcool.

Com a estreia do grupo Cosan na Bovespa, no fim de 2005, a ambição do empresário começou a mudar de foco. Em 2007, o grupo lançou ações na bolsa de Nova York, colocando a empresa de vez no radar internacional. A operação foi considerada polêmica, uma vez que Ometto se garantiu no controle da empresa com uma classe de ações especial, com supe! rvoto (um peso de 10 votos para cada ação).

O grupo Cosan, que já tinha uma gestão profissionalizada desde o início de sua formação, investiu em executivos de peso, como o atual CEO da companhia Marcos Lutz (ex-CSN), para avançar no mercado.

Um dos poucos reveses que sofreu, engoliu a seco e seguiu em frente. Foi quando fez uma oferta hostil para a compra da usina Vale do Rosário. Recebeu um não logo de cara de seus principais acionistas, a família Junqueira Franco, que preferiu fazer associação com os Biagi. “Brigo até o fim. Se não der, sigo em frente”, disse o empresário ao Valor.

Seu estilo agressivo de fazer negócios, gera desafetos, embora o empresário negue rusgas com os seus principais concorrentes. As famílias Junqueira Franco e Biagi preferiram vender o controle da Santelisa Vale, recém-associada e com sérios problemas financeiros, para a multinacional francesa Louis Dreyfus a passar o controle para Cosan.

Rubens Ometto superou rápido o revés ! da Vale do Rosário. Meses depois, no início de 2008, já negociava a compra da Esso, que tinha sido colocada à venda pela gigante petrolífera ExxonMobil. “Foi uma questão de oportunidade. O grupo estava se verticalizando”, disse. A partir daí, a associação com a Shell faz todo o sentido.

Com 23 usinas de açúcar e álcool, o grupo é a maior companhia sucroalcooleira do mundo. No ano passado, a Cosan tornou-se líder no varejo de açúcar com a incorporação da Nova América, dona da marca União. O setor de açúcar e álcool tornou-se um negócio menor no grupo, após a entrada da Cosan em distribuição de combustíveis. Nem por isso Rubens Ometto deixa o setor. “O que vai acontecer daqui para frente, é difícil prever. Mas estamos no jogo”, afirmou o empresário.

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