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As luzes da ribalta podem apagar

Por falta de investimentos, outro blecaute poderá ocorrer em 2008. O horário de verão é apenas um paliativo para o problema energético nacional, cuja solução efetiva somente será viável com maciços investimentos. Mais do que qualquer outro país, o Brasil tem recursos naturais que lhe permitem suprir de forma adequada a fundamental demanda.

Em termos mundiais, os recursos renováveis representam cerca de 20% do suprimento total de energia, sendo 14% provenientes de biomassa e 6% de fontes hídricas. Aqui, a proporção é de 35% de origem hídrica e 25% de biomassa. Ou seja, as fontes renováveis respondem por aproximadamente dois terços da matriz energética brasileira.

Considerando essas premissas, o “apagão” de 2001, que tantos prejuízos acarretou à economia nacional, somente se explica pela falta de visão histórica e ausência de políticas eficazes. O mais grave é que a lição parece não ter sido devidamente assimilada, numa evidência de que os governantes brasileiros não acreditam na sabedoria e pertinência daquele velho ditado sobre errar duas vezes.

Novamente os especialistas do setor, incluindo os profissionais que atuam na área elétrica e suas entidades de classe, alertam que em 2008 ou 2009 o País deverá ter outro e lamentável “apagão”, pois os investimentos necessários não estão sendo realizados.

Vive o Brasil um inaceitável paradoxo: precisa ampliar muito seu PIB para gerar milhões de empregos e reduzir o passivo trabalhista e social, mas não pode crescer, já que, se a economia tiver expansão anual de 5%, a oferta de energia elétrica será insuficiente. É matemático, inexorável!

É a equação de teimosa negligência na abordagem de um insumo imprescindível ao desenvolvimento. E enganam-se os que imaginam ser necessário investir apenas na geração de energia – em fontes hídricas ou alternativas, como a biomassa. É premente também aportar recursos na transmissão e distribuição, além de se corrigirem distorções do sistema, que colocam em risco de apagão temporário vastas áreas, por problemas às vezes de pouca gravidade em um único ponto.

A recente queda de três linhas que ligavam Itaipu à região Sudeste, que exigiu a importação de energia da Argentina, foi uma contingência provocada por uma tempestade, mas é necessário ficar atento, lembrando que aquele blecaute, que deixou dez estados sem eletricidade, foi provocado por um banal parafuso com defeito. É necessário, portanto, investimento em geração, transmissão, distribuição e manutenção dos serviços, hoje feita de forma inadequada e sem a periodicidade devida.

O problema do sistema de energia elétrica do Brasil não é novo. É preciso rever tudo. A questão é mais ampla e complexa do que se divulga. É necessário redimensionar a distribuição, levando em conta as características da demanda. É inadmissível para o País, detentor da maior bacia hidrográfica do Planeta e imenso potencial de bioenergia, importar eletricidade, pagando mais caro, com ônus para toda a sociedade.

Nesse contexto, por mais que o “mensalão”, o “mensalinho” e as denúncias de corrupção nos Correios e outros órgãos públicos tenham afetado a credibilidade do governo, é necessário implementar em termos práticos as Parcerias Público-Privadas (PPPs). Aos “sócios” do Estado nesses grandes projetos deve ser dada toda a devida proteção nas licitações, nos contratos e no estrito cumprimento da lei. É urgente o aporte de capital na infra-estrutura energética. Caso contrário, há sérios riscos de faltar luz e som até mesmo para a ribalta das CPIs.

kicker: O “apagão” de 2001, que tantos prejuízos causou, só se explica pela falta de visão histórica e ausência de políticas eficazes

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