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As dicas de Luiz Paulo Sant’Anna

Diretor geral da Cevasa, o executivo compartilha estratégias para ampliar a produtividade da unidade industrial, mas sem a necessidade de realizar grandes investimentos financeiros

O que é preciso para o setor ampliar a produção diante anos seguidos de crise?

O setor sucroenergético enfrenta uma das maiores crises de sua história. Endividamento, aumento do custo de produção, perda da competitividade e problemas climáticos afetam o setor.

Desde 2007, várias usinas fecharam com perdas de mais de 60 mil empregos. Para reverter este cenário é necessário retomar o crescimento, fazer diferente e investir em tecnologia e novas técnicas de produção industrial e na área agrícola.

Na indústria, o cenário atual está voltado para o mix alcooleiro, já que o açúcar atualmente não remunera a indústria pelos seus preços baixos no mercado internacional.

Com isso, a melhor saída é o etanol e, desta forma, o mix de produção está superior a 60% para o biocombustível.

Com pequenos investimentos podemos produzir mais, buscando maior produtividade da fermentação e destilação.

É neste contexto que precisamos investir em levedura personalizada, trabalhar com altos teores de álcool no vinho, reduzir o consumo de vapor nos aparelhos de destilação e investir em tecnologia.

Investir em leveduras personalizadas?

Em tempos de transformação, encontrar seu diferencial no mercado é essencial para obter destaque e se manter fortalecido.

Um fator importante, e de grande peso, está nas leveduras personalizadas. Com anos de pesquisas, foi possível chegar a variedades cada vez mais eficientes e integradas ao processo.

Para melhorar o desempenho na produção de etanol e diminuir os custos de produção, é necessário realizar pesquisas para selecionar uma linhagem de levedura nativa com alto desempenho.

Essas leveduras são selecionadas entre as que aparecem na fermentação e, por isto, estão mais adaptadas ao processo da unidade.

Apresentam maior persistência e reduzem as perdas causadas por contaminações bacterianas, quando comparadas com outras leveduras.

Em média, estima-se que as unidades operam com ociosidade industrial de 20%. Como reduzir isso?

Na industrial estima-se em 20% de ociosidade, porém se a planta é mista, com produção de açúcar e etanol, e conforme já relatado anteriormente, ao virar o mix para mais etanol isso já leva à maximização da planta.

Entretanto, nos preços atuais do açúcar, que não remuneram o negócio, o resultado será ruim caso ambos produtos sejam maximizados. 

Uma das alternativas é trabalhar com alto teor de álcool na fermentação na faixa de 15-17% em volume.

Para viabilizar isso é necessário que a levedura suporte temperatura acima de 38ºC ou controlar a temperatura da fermentação na faixa de 32ºC.

Para controlar a temperatura da fermentação é necessário que a temperatura da água seja abaixo de 24ºC.

Com estas temperaturas é possível trabalhar com 17% GL sem perdas de eficiência e viabilidade.

Fermentação com 17% de álcool em volume produzem muito menos vinhaça, reduzindo também os custos de distribuição de vinhaça na lavoura.

A era digital é cada vez mais real com a Usina 4.0. Qual sua avaliação?

É perceptível que estamos entrando em uma nova era. É uma fase  transição na qual as empresas precisam perceber e receber a mudança direta de paradigma seja qual for o setor que atua. É chamada Indústria 4.0, que veio para revolucionar o mercado trazendo inovação e tecnologia.

Ele altera a forma de relacionamento e consumo, com processos cada vez mais inteligentes, onde tudo torna-se mais eficiente, mais autônomo e muito mais personalizado.

O que também precisamos entender é que a 4.0 não se limita a uma evolução tecnológica. É uma mudança de cenário econômico e de estratégia, tanto de posicionamento quanto de comportamental do mindset [percepção da realidade que nós temos sobre nós mesmos].

E, para isso, são utilizadas diversas formas de tecnologia e de inteligência artificial como suporte para essa demanda.

Como a Indústria 4.0 chega ao setor sucroenergético?

Em nosso cenário, podemos aplicar os conceitos da Indústria e utilizar o termo Usina 4.0, que é a criação de um ambiente onde toda a cadeia de valor, quando pessoas, informações e equipamentos estejam conectadas.

A usina estará vinculada a um ambiente de informações ágeis e dinâmicas, contemplando melhorias para diversos processos.

Dê exemplos, por favor.

Por exemplo: informações meteorológicas. Elas são imprescindíveis para o trabalho de campo. Quanto mais riqueza de informação, e mais ela é personalizada ao processo, permite-se uma melhor tomada de decisão sobre colheita e produção.

O intuito é ter um processo produtivo conectado para diminuir impactos negativos, contribuir para o aumento de produtividade e, além da entrega dos resultados, será possível superar o grande desafio que é assegurar a segurança da operação.

Essa nova era convida as usinas a saírem da zona de conforto, dando espaço para uma produção mais ágil, uma liderança mais eficiente, e um maior aproveitamento do potencial dos nossos ativos.

Diante desse cenário cada vez mais tecnológico, como as unidades devem investir na gestão das pessoas?

Pessoas e gestão estão no centro dessa transformação. O olhar para o futuro passa sem dúvida nenhuma pela mudança na forma que as empresas tratam o seu ativo principal, que são as pessoas.

Toda essa revolução digital com impacto nas relações humanas, as novas conformações das famílias, a nova realidade demográfica, o olhar para a inclusão e a diversidade, exige que as empresas formatem novas estratégias para extrair o melhor das pessoas.

Reduzir turnover, criar um ambiente de aprendizado contínuo, incentivar a meritocracia, intensificar a formação de cultura organizacional forte, atrair e manter os grandes talentos, formar novos líderes.

Isso tudo tem se tornado o desafio dos RH’s. e no setor sucroenergético essa realidade se mostra ainda intensa.

O futuro chega mais cedo ou mais tarde e os que estão ajudando a construí-lo demonstram maior capacidade de serem os vencedores desse jogo.

Luiz Paulo Sant’Anna

Data nascimento: 28/04/1965

Local: Dolcinópolis (SP)

PERFIL

Engenheiro e Químico industrial, Luiz Paulo Sant’Anna também tem no currículo MBA: Gestão Empresarial pela FGV e Gestão Industrial pela Esalq/USP.

Fez carreira na área industrial até a posição de diretor na Renuka do Brasil. No mesmo grupo chegou a COO (diretor de operações agroindustrial).

Depois foi para Atvos como diretor Superintendente de Polo. Atualmente é CEO (diretor geral) na Cevasa, empresa da Cargill Agrícola S.A.

Em 2018, foi eleito na categoria Executivo Mais Influente 2018 no Prêmio MasterCana Brasil 2018. Recebeu o troféu em 29 de outubro.

Confira a matéria na edição 309 do JornalCana – Página 38

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