Nova York encerrou a semana com o vencimento outubro-24 cotado a 19,44 centavos de dólar por libra-peso, 104 pontos acima do fechamento da sexta-feira passada. Não foram apenas os 23 dólares por tonelada de variação positiva, mas também a desvalorização do real frente ao dólar que impulsionaram as fixações de açúcares para exportação das usinas, que — sorridentes a caminho do banco — abocanharam em média 166 reais por tonelada a mais do que o fechamento da semana anterior. Estamos falando da safra 25/26, que já deve estar beirando os 30-35% de volume fixado.
O levantamento que a Archer Consulting publicou na segunda-feira apontava que, até o dia 31 de julho, as usinas haviam efetuado a fixação de preços para um volume de 6,8 milhões de toneladas de açúcar ao preço médio de R$ 2.280 por tonelada, equivalente FOB Santos.
Tudo indica que as usinas vão entrar no quinto ano seguido de bons resultados operacionais, apesar de um governo que manipula sempre que pode o preço dos combustíveis para ganhar votos. Imagine se o setor convivesse desde sempre com mercados livres e com governos que respeitassem a lei da oferta e demanda, deixando que o mercado encontrasse seu preço de equilíbrio.
No entanto, como sabemos, a classe política passa a conta do subsídio à gasolina para o contribuinte (nós, no caso), e dona Dilma, criatura “muito admirada” pelo setor, trouxe um prejuízo de R$ 68 bilhões em valores da época para as usinas na triste época em que foi presidente. Mas essa é outra história.
Os incêndios que atingiram os canaviais em várias regiões do Centro-Sul repercutem no noticiário nacional e internacional, trazendo preocupação acerca dos efeitos que terão sobre o prosseguimento da safra corrente, bem como eventuais estragos na safra 25/26. Tudo ainda é muito preliminar, com números conflitantes vindos de diversas fontes.
Em termos de volume estimado danificado pelo fogo, especialistas com quem conversamos acreditam que uma área entre 65 mil e 100 mil hectares foi afetada, ou seja, de 0,8% a 1,2% do total de cana. O fato é que a queimada é localizada, enquanto a seca é generalizada, e essa última terá um impacto muito maior do que esse percentual citado. Vamos observar com cuidado os próximos números a serem publicados pela UNICA, que deverão fornecer um direcionamento mais consistente na trajetória de preços.
Alguns usineiros acreditam que os incêndios foram muito mais intensos do que se viu e divulgou. Segundo alguns agrônomos, isso vai afetar bastante o mix de produção, que já se voltou para alcooleiro devido à impureza e baixa qualidade da cana e à evidente dificuldade no processo de cristalização. Se antes o mercado esperava 605 milhões de toneladas de moagem e uma produção de 41,9 milhões de toneladas de açúcar, acreditamos que esse número se moverá para 590 milhões de toneladas de cana e 3 milhões de toneladas de açúcar a menos. Mas isso é apenas o começo.
Já falamos aqui na semana passada sobre o longo período de entressafra que vamos atravessar, um importante ingrediente para a fomentação de um clima de alta volatilidade em qualquer mercado de commodities. Não é apenas a tão propalada morte súbita dos canaviais que vai protagonizar esse ambiente conturbado, mas imagine se a previsão da consultoria Climatempo de que uma nova onda de calor em setembro pode trazer temperaturas acima de 40 graus se concretizar. Com um setembro sem chuvas, o final da safra no Centro-Sul poderá ser dramático.
As usinas estão colhendo as áreas de incêndio, canas queimadas há quase uma semana. E os incêndios continuam, ainda que sob controle, e com a seca e altas temperaturas previstas, não nos parece que o problema esteja resolvido. Parece-nos bastante óbvio que o mercado de açúcar em Nova York ainda não precificou a extensão dessa seca em toda a sua magnitude.
A percepção de que haverá uma redução considerável na produção de cana deverá se acentuar em mais duas ou três quinzenas, no máximo. A apuração do eventual estrago na cana do próximo ano ainda vai levar mais tempo. Uma primavera menos chuvosa impactará negativamente a produção da próxima safra. O cenário que se desenha adiante pode ser explosivo.
Os fundos especulativos reduziram suas posições vendidas. Pelo número publicado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções de commodities, nesta sexta-feira, com base na posição de terça-feira passada, eles estavam vendidos em 31.120 lotes, reduzindo em 39.039 lotes a posição que mantinham na semana anterior.
Veja que interessante: os fundos recompraram 39.039 lotes e o mercado variou (de 20/8 a 27/8) 189 pontos (17,65 para 19,54 centavos de dólar por libra-peso). Em tese, para recomprar o saldo, podem elevar NY em mais 150 pontos do fechamento de terça-feira. Nós temos falado da vulnerabilidade dessa posição dos fundos. E se eles decidirem mudar de posição e ficarem comprados?
Nosso palpite, calcado firmemente nos fundamentos, é que o potencial de alta em janeiro e fevereiro do próximo ano, quando já tivermos uma ideia mais clara do que poderá ser a safra do Centro-Sul, poderá ser significativo.
Eu, sinceramente, não teria coragem de ficar vendido nesse mercado, a menos que estivesse buscando um novo hobby de alta adrenalina. Afinal, nos últimos 25 anos, 88% das vezes os preços mais altos do açúcar em Nova York ocorreram entre outubro e fevereiro — o que é praticamente uma garantia infalível, certo? Ficar vendido em um mar de incertezas é pedir para sofrer.
Na análise técnica, nosso colaborador Marcelo Moreira diz que “o Out-24 fechou a semana cotado a 19.40 centavos de dólar por libra-peso, após testar duas vezes a forte resistência representada pela média móvel de 200 dias (situada em 20.01 centavos de dólar por libra-peso). As máximas da semana foram registradas na quinta-feira e na sexta-feira, com negociações atingindo 19.98 e 19.95 centavos de dólar por libra-peso, respectivamente. Caso ocorra um rompimento sustentado acima da média móvel de 200 dias, os próximos objetivos de alta estão em 20.64, 21.30 e 22.25 centavos de dólar por libra-peso. Por outro lado, os suportes mais próximos estão localizados no congestionamento das médias móveis de 100 e 50 dias, ao redor de 19.00 centavos de dólar por libra-peso.
O Jul-25 (pico da safra) encerrou a semana em 18.38 centavos de dólar por libra-peso, conseguindo fechar acima das médias móveis de 100 e 50 dias, que agora se posicionam como importantes níveis de suporte, em 18.35 e 18.10 centavos de dólar por libra-peso, respectivamente. As próximas resistências a serem observadas estão na média móvel de 200 dias, situada em 18.89 centavos de dólar por libra-peso, seguida pelo topo da banda de Bollinger dos 50 dias, em 19.40 centavos de dólar por libra-peso”.
Arnaldo Correa é consultor, palestrante, técnico para arbitragens e professor de gestão de risco em commodities agrícolas