Nos últimos anos, o Brasil tem se destacado no cenário internacional quando o assunto é transição energética nos meios de transporte. Com uma indústria que há décadas produz etanol, um combustível renovável e limpo, e pioneirismo no lançamento dos carros flex, o País está na vanguarda da descarbonização da frota de veículos. Com a proximidade da reunião do G20, em novembro, e a realização da COP30, no ano que vem, o Brasil terá ótimas oportunidades para compartilhar esta história vencedora e que poderá inspirar muitos países a seguir esta trilha sustentável.
Entretanto, um dilema surge no horizonte. Não seria no mínimo contraditório propagarmos esta narrativa positiva, enquanto na reforma tributária os veículos flex são incluídos no Imposto Seletivo – o Imposto do Pecado, pois engloba produtos como as bebidas alcoólicas e o tabaco? Caso se decida pela discriminação dos veículos elétricos importados, então, esta contradição ficará ainda mais explícita.
Para avaliar as vantagens ambientais de um modal de transporte, é preciso olhar todas as etapas do ciclo de vida do veículo, incluindo extração de matéria-prima, fabricação do veículo, uso e descarte ou reciclagem. Neste critério, os veículos flex emitem menos que os elétricos a bateria. Considerando o ciclo de vida do poço à roda, o carro brasileiro flex atual é menos poluente do que o elétrico à bateria usado na Europa ou na China, que dependem de fontes com altos índices de emissão de gases, como termoelétricas e carvão. Além do fato de a extração de minerais que compõem a bateria demandar uso intensivo de diesel. Portanto, manter os veículos flex sob maior tributação é, no mínimo, um contrassenso.
Precisamos, também, entender a importância da renovação da frota para dar continuidade à descarbonização do setor automotivo. E para isto temos que estimular a venda de novos veículos evitando impostos adicionais neste importante segmento de nossa economia.
Recentemente, o Senado aprovou o programa MOVER, criado pelo Ministério da Indústria e Comércio para impulsionar o desenvolvimento tecnológico e a descarbonização dos veículos. Com incentivos fiscais que ultrapassam R$ 19 bilhões até 2028, o MOVER visa aumentar a eficiência energética dos automóveis. Essa iniciativa contrasta com a possibilidade de enquadrar os veículos no “Imposto do Pecado”, já que a tributação excessiva pode desestimular a atualização da frota, prejudicando o projeto de redução das emissões no setor de transportes.
Hoje, combustíveis fósseis ainda dominam 95% do setor global de transportes. Os veículos são responsáveis por cerca de 21% das emissões de CO2 no mundo. A hora é agora para incentivar a adoção de tecnologias sustentáveis, como os veículos híbridos flex. Combinando eletrificação e motores a combustão flex, esses carros utilizam etanol como biocombustível de baixo carbono.
A tendência dos híbridos é uma realidade nos EUA. No primeiro trimestre, as vendas de híbridos cresceram 43%, enquanto de elétricos à bateria, apenas, 2,7%. Com isso,
as montadoras elevaram a capacidade de produção de veículos híbridos gasolina/elétricos e híbridos plug-in para o mercado americano. O Brasil já larga na frente com o híbrido flex movido a etanol.
Jacyr Costa Filho é presidente do Cosag – Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e sócio da consultoria Agroadvice