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O Brasil na COP30: liderança global em energias renováveis 

Com 49% da matriz energética composta por fontes renováveis, o Brasil supera de longe a média global, de apenas 15%

O Brasil na COP30: liderança global em energias renováveis 

O Brasil chega à COP30 com uma posição privilegiada. Em um cenário global ainda fortemente dependente de combustíveis fósseis, o país pode — e deve — se apresentar como uma potência verde. Com 49% da matriz energética composta por fontes renováveis, o Brasil supera de longe a média global, de apenas 15%.  

Na matriz elétrica, a vantagem é ainda mais expressiva: 85% da nossa eletricidade vem de fontes renováveis, contra um mundo onde o carvão ainda representa 38% da geração. O carvão, vale lembrar, é hoje a maior fonte de poluição na China e na Índia, primeiro e terceiro maiores emissores de gases de efeito estufa no mundo. 

É essa diferença que o Brasil pode transformar em influência política e econômica na COP30, que será realizada em Belém do Pará. Um momento estratégico para reposicionar o país como protagonista da transição energética global. Temos condições reais de mostrar soluções concretas e sustentáveis que já estão em curso. E que podem escalar. 

Boa parte desse diferencial vem do campo. A bioenergia, que era menos de 10% da matriz energética nos anos 1970, hoje responde por cerca de 30% da oferta total nacional, segundo estudo do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Só a biomassa de cana-de-açúcar, incluindo o etanol e a geração elétrica a partir do bagaço, representa quase 17% da energia produzida no país. Sem a bioenergia, a parcela renovável da nossa matriz cairia de 49% para 20%, aproximando-se da média mundial. 

Esse protagonismo é fruto de décadas de investimentos em tecnologia agrícola e energética. Além da cana, o biodiesel, o biogás, o óleo vegetal e, mais recentemente, o etanol de milho vêm ampliando a oferta energética do agro.  

São fontes que reduzem emissões, geram emprego, agregam valor à produção rural e impulsionam cadeias produtivas nacionais. E o melhor: muitas utilizam infraestrutura já existente, o que acelera a transição e reduz custos. 

Brasil e a Sustentabilidade

O setor de transportes, um dos maiores emissores de gases de efeito estufa no mundo, é um exemplo claro de como o Brasil já avança. Enquanto representa cerca de 20% das emissões globais, aqui esse número é de aproximadamente 15%, graças ao uso histórico e consistente de biocombustíveis. Para cada tonelada de CO₂ evitada, ganhamos não só em sustentabilidade, mas em competitividade industrial e credibilidade internacional. 

Só no primeiro trimestre de 2024, o uso de biocombustíveis evitou a emissão de 15 milhões de toneladas de CO₂, segundo a ÚNICA. Isso equivale ao plantio de 36 mil hectares de floresta nativa. Ou a 50 mil campos de futebol. É um resultado expressivo, com impacto ambiental, climático e econômico. 

O avanço do Brasil não para por aí. Na aviação, por exemplo, o SAF — combustível sustentável de aviação — surge como peça-chave da descarbonização global. A Lei do Combustível do Futuro, já aprovada na Câmara dos Deputados, cria o marco legal para o SAF no Brasil. A proposta é começar com 1% de mistura ao querosene tradicional em 2027, chegando a 10% nos próximos anos. É um passo fundamental, já que 75% das emissões da aviação vêm de grandes aeronaves e voos de longa duração, onde a eletrificação ainda é impraticável. 

No transporte marítimo, que representa cerca de 3% das emissões globais, o biodiesel também aparece como alternativa viável para a frota atual. Enquanto o hidrogênio verde, o metanol e a amônia são apostas de longo prazo, o biodiesel pode ser usado desde já, com motores e embarcações existentes. É uma solução de transição que já está disponível. 

O Potencial do Biometano e o Reconhecimento Internacional

Outro ativo estratégico do Brasil é o biometano. Um estudo recente divulgado pela Fiesp mostra que São Paulo — estado que já lidera a produção de etanol — também tem enorme potencial para o biometano. Foram mapeadas 181 plantas com capacidade de gerar até 6,4 milhões de metros cúbicos por dia. Isso equivale a 32% do consumo atual de gás natural no estado, ou 24% do diesel usado no transporte. O estudo mostra ainda que esse volume poderia mitigar até 16% das metas de descarbonização do estado e gerar 20 mil empregos diretos. É mais um exemplo de como a agenda climática pode ser motor de desenvolvimento. 

No cenário internacional, o Brasil também vem sendo reconhecido. Um estudo da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, identificou o Brasil como um dos quatro países com maior potencial para liderar a transição energética global até 2050. O relatório destaca a força brasileira em sete áreas estratégicas: bioenergia, minerais críticos, fertilizantes verdes, veículos híbridos com biocombustíveis, produção de SAF, energia eólica e aço de baixo carbono. 

Desafios e Oportunidades para o Brasil

Mais do que abundância de recursos, o país já possui uma base industrial capaz de impulsionar uma “indústria verde” em larga escala. O desafio agora é acelerar políticas públicas focadas, com prioridade real para essas áreas, integrando infraestrutura, inovação, segurança jurídica e qualificação de mão de obra. O momento exige direção estratégica, e não pulverização de recursos. 

Com a COP30 se aproximando, o Brasil tem a oportunidade de virar o jogo climático a seu favor. Em vez de ser pressionado, pode liderar. Em vez de ser cobrado, pode inspirar. Temos uma matriz energética mais limpa, um setor agroindustrial que já é parte da solução e uma indústria pronta para se reinventar. 

O mundo precisa de exemplos reais de transformação energética. O Brasil tem tudo para ser esse exemplo. Agora é hora de o mundo conhecer o enorme potencial do nosso País como potência agroambiental.