
O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira com o vencimento março/26 negociando a 14.13 centavos de dólar por libra peso, uma queda acumulada de 29 pontos na semana, equivalentes a 6.40 dólares por tonelada.
Todos os vencimentos da safra 2026/27 no Centro-Sul também experimentaram quedas similares indicando que pode estar ocorrendo fixações de usinas arrependidas e operações de stop loss (uma venda para estancar prejuízos) oriundas de vendas agressivas de puts (opções de venda) efetuadas com o objetivo de capturar prêmio, que acabaram ficando no dinheiro e o detentor resolveu zerar o prejuízo.
O suporte de 14 centavos de dólar por libra-peso tem sido testado, um nível historicamente associado ao custo de produção do Brasil. No passado, cheguei a afirmar que 18 centavos haviam se tornado o “novo 14”, com o aumento expressivo dos custos, mesmo uma usina altamente eficiente dificilmente consegue produzir açúcar abaixo de 15.50 centavos de dólar por libra peso FOB Santos. A preços atuais, a rentabilidade é inviável, o que explica a migração de interesse para o etanol. O mercado sempre nos prega peças.
Curiosamente, o cenário de hoje é o espelho de 2023: naquele ano, o etanol era negociado com um desconto de 800 pontos em relação ao açúcar — algo nunca visto. Agora, a relação se inverteu, e o etanol negocia 250 pontos acima de Nova York, evidenciando uma distorção clara. Se antes o mercado estava exageradamente otimista, hoje parece exageradamente pessimista.
A incerteza quanto à posição dos fundos segue enorme. Com o shutdown americano já no seu 36º dia [em 07 de novembro], o mercado vive uma confusão sem fim. Sem dados oficiais de responsabilidade do CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência americana reguladora dos mercados de commodities, ninguém sabe ao certo qual é a posição dos fundos, e isso é fundamental — afinal, essas informações ajudam a dar um direcionamento mínimo. E quando essa situação chegar ao fim, a agência não vai divulgar as seis semanas de atraso de uma só vez, mas será em doses homeopáticas para testar os nervos de todo cidadão de bem.
Pelas estimativas mais confiáveis, os fundos especulativos estariam vendidos em cerca de 225 mil contratos, o equivalente a 11,5 milhões de toneladas de açúcar. Há quem diga que o número chega a 250 mil contratos, mas 225 mil parece razoável. Considerando que – segundo alguns traders – as usinas ainda têm cerca de 3 milhões de toneladas para rolar, a diferença de 8.5 milhões de toneladas deixa os fundos em uma posição bastante vulnerável.
Se precisarem recomprar, o custo será alto. Faltaria liquidez nesse nível de preço — encontrar quem queira vender açúcar tão barato não será tarefa simples. E rolar a posição também não faz sentido: o spread entre março e maio está na casa dos 25 a 36 pontos, algo em torno de US$ 8 por tonelada.
Para quem carrega 10 milhões de toneladas, isso representa um custo de US$ 80 milhões. Dificilmente os fundos aceitariam “jogar pela janela” esse dinheiro apenas para prolongar a posição. O mais provável é que liquidem suas posições até o fim do ano, fechando o portfólio e apresentando resultados aos cotistas.
Análise do Mercado de Açúcar e Etanol
Do lado fundamental, a falta de consenso é impressionante. Mesmo com 85% da safra 2025/26 já moída, o mercado ainda diverge sobre o tamanho final: trabalha-se com algo entre 595 milhões de toneladas de cana e 40 milhões de toneladas de açúcar — números que podem, ainda assim, ser ligeiramente menores.
As projeções para 2026/27 também seguem dispersas: de 590 a 640 milhões de toneladas. Os menores números vêm da Canaplan, enquanto as trades mais baixistas defendem estimativas altas — estratégia clássica para pressionar preços e comprar mais barato do produtor. Faz parte do jogo.
Outro tema recorrente é o avanço do etanol de milho, somado ao velho fantasma da “pressão do etanol americano” — um assunto que, na prática, não tem absolutamente nada de concreto em cima da mesa, mas volta e meia reaparece para compor a narrativa baixista. Essa discussão não existe e insistir no tema é perda de tempo.
O resumo? O sentimento do mercado é exageradamente negativo. O humor durante a Semana do Açúcar foi péssimo — como de costume, eufórico na alta e depressivo na baixa. Mas, a bem da verdade, aos preços atuais ninguém no mundo consegue produzir açúcar com lucro. Nem o Centro-Sul, nem o Nordeste, nem América Central, nem Europa. O custo de produção do açúcar hoje, sendo conservador, gira em torno de R$ 2.100 por tonelada FOB Santos, o que equivale a 17 centavos de dólar por libra-peso — cerca de 300 pontos acima do nível atual de Nova York. Ou seja, a realidade é dura: os preços estão muito abaixo dos custos, e o mercado, como sempre, exagera nos extremos.
Especulações e Perspectivas Futuras
Tem gente que acredita que parte da queda desse mercado é devido ao uso das tais canetinhas de emagrecimento. O que será que esse pessoal está fumando? Cada conversa de maluco.
Nosso colaborador Marcelo Moreira dá sua dica para o açúcar: Vencimento março-26 encerrou novamente em queda a 14.13 centavos de dólar por libra-peso. O suporte técnico/psicológico dos 14 centavos de dólar por libra-peso foi testado novamente nos últimos 3 pregões da semana (fechamento anterior/máxima/mínima/ fechamento atual, respectivamente a 14.43, 14.73, 14.04, 14.10 centavos de dólar por libra-peso). Já os demais vencimentos maio-julho-out-26 todos encerraram abaixo dos 14.00 centavos de dólar por libra-peso (respectivamente a 13.73, 13.68 e 13.95 centavos de dólar por libra-peso). No curto prazo o vencimento março-26 encontra resistências a 14.10, 14.31, 14,56, 15.00 e finalmente nos 15.80 centavos de dólar por libra-peso e suportes a 14.00, 13.73 e 13.00 centavos de dólar por libra-peso.
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