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COP30: O Brasil no centro do debate sobre transição energética global 

Além da oportunidade de sediar um grande evento - a COP30 -, Brasil tem a chance de mostrar que a transição energética pode ser feita com escala e sustentabilidade

Artigo exclusivo publicado na edição 358 da revista do JornalCana

Em novembro de 2025, os olhos do mundo estarão voltados para Belém, capital do Pará, na Amazônia brasileira. A cidade sediará a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP30. Trata-se de um momento simbólico e geopolítico: pela primeira vez, uma COP será realizada na região que representa o maior bioma tropical do planeta e que concentra parte decisiva dos debates sobre clima, biodiversidade e desenvolvimento.  

Para o Brasil, além da oportunidade de sediar um grande evento, é a chance de mostrar que a transição energética pode ser feita com escala e sustentabilidade. 

Ao longo das últimas décadas, o Brasil construiu uma das matrizes energéticas mais limpas e diversificadas do mundo. A participação de renováveis é de 49,1%, enquanto a média mundial é de aproximadamente 14,6%. Somente a bioenergia responde por 17% da matriz total brasileira e 30% dentro do conjunto de fontes renováveis, tendo se transformado em um dos pilares da sustentabilidade nos transportes.  

Essa conquista é resultado da combinação entre políticas públicas bem estruturadas, como o RenovaBio, marcos legais como a Lei do Combustível do Futuro, e um setor produtivo que alia ciência, agricultura de baixo carbono, eficiência industrial e responsabilidade social. 

Não por acaso, o uso de etanol no Brasil desde o lançamento dos veículos flex, em 2003, já evitou a emissão de mais de 710 milhões de toneladas de CO₂. Isso representa uma das maiores contribuições globais para a descarbonização do transporte terrestre. 

O diferencial brasileiro está na capacidade de gerar impacto climático positivo em grande escala, com um biocombustível que reduz até 90% das emissões em comparação à gasolina e cuja produção respeita critérios ambientais, sociais e territoriais. A cana-de-açúcar e o milho usados para produção de etanol ocupam apenas 1% do território nacional, sem pressionar áreas de floresta ou de produção de alimentos. 

Mais do que mitigar emissões, o setor de biocombustíveis contribui para o desenvolvimento sustentável de diversas regiões. A atividade gera mais de 2,2 milhões de empregos diretos e indiretos, melhora a renda per capita de centenas de municípios brasileiros e adota práticas modernas de manejo, como a rotação de culturas e o uso de coprodutos — como a vinhaça na cana e o DDG no milho — que servem como biofertilizantes e ração animal, respectivamente.  

O uso da segunda safra de milho, cultivada em áreas já utilizadas para soja, é mais um exemplo de como o setor otimiza recursos e respeita os limites do solo. 

Brasil como Fornecedor de Soluções Sustentáveis

O potencial brasileiro vai além do transporte terrestre. O mundo busca respostas para a descarbonização de setores difíceis, como a aviação e o transporte marítimo. Nesse contexto, o Brasil desponta como um fornecedor confiável de soluções reais e escaláveis.  

O Combustível Sustentável de Aviação (SAF) produzido a partir do etanol é uma das apostas mais promissoras para tornar o transporte aéreo mais limpo. Isso vale para o biobunker, combustível marítimo renovável em estágio avançado de pesquisa e desenvolvimento. Essas soluções não são teóricas: contam com base científica, estrutura regulatória e capacidade industrial já em operação. 

A COP30 será a vitrine ideal para mostrar ao mundo que o Brasil já pratica uma transição energética concreta. Diferentemente de países que ainda debatem o papel dos biocombustíveis com viés ideológico, o Brasil apresenta um modelo que funciona, atrai investimentos, gera empregos e reduz emissões.  

A credibilidade desse modelo está também nos instrumentos de mercado que o sustentam, como os CBios — créditos de descarbonização que precificam carbono com base na eficiência ambiental da produção de biocombustíveis, criando um ambiente favorável ao investimento em fontes renováveis. 

Além de cumprir papel decisivo nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do Brasil no Acordo de Paris — com metas de curto, médio e longo prazos, como a neutralidade de emissões até 2050 —, os biocombustíveis brasileiros oferecem um caminho viável para países do Sul Global que compartilham condições agroclimáticas similares. Isso torna o Brasil referência em políticas públicas, tecnologia e governança para a transição energética. Um exportador de soluções tropicais para problemas globais. 

Nos últimos anos, o país deu passos importantes nesse caminho. O fortalecimento do RenovaBio, a aprovação da Lei do Combustível do Futuro e o lançamento do programa Mover, que une inovação industrial à sustentabilidade, demonstram uma agenda energética coerente com os desafios do século XXI. 

A parceria entre governo, setor privado e instituições de pesquisa tem sido fundamental para garantir que essas políticas avancem com consistência e visão de longo prazo. 

Agora, mais do que nunca, o Brasil precisa comunicar essa trajetória ao mundo com a mesma competência com que já produz energia limpa. A COP30 é o momento para isso. É a oportunidade de transformar os resultados do que já fazemos em referência global. E é quando teremos a chance de afirmar que a transição energética, para ser justa e efetiva, precisa reconhecer e valorizar as soluções regionais. 

O etanol, o biometano, o SAF e demais biocombustíveis não são apenas alternativas sustentáveis — são ativos estratégicos de uma nova geopolítica da energia. O Brasil está pronto para liderar esse processo com responsabilidade, tecnologia e protagonismo internacional. 

Evandro Gussi

Presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA)

Presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA)