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A inovação como aliada na projeção sustentável do setor sucroenergético brasileiro

O setor sucroenergético brasileiro tem oportunidade de redefinir o conceito de sustentabilidade na geração de energia

A inovação como aliada na projeção sustentável do setor sucroenergético brasileiro

Impulsionado pela necessidade urgente de soluções energéticas mais limpas, o setor sucroenergético brasileiro está vivendo uma das maiores transformações de sua história.

O Brasil, com sua vasta produção de cana-de-açúcar, tem uma oportunidade única: não apenas continuar sua trajetória como líder no mercado de biocombustíveis, mas também redefinir o conceito de sustentabilidade na geração de energia.

Em 2024, a produção de etanol no Brasil cresceu 6%, refletindo o dinamismo de um setor que se adapta rapidamente às novas exigências do mercado global.

Com a aprovação do “PL do Combustível do Futuro”, o país abre caminho para a substituição gradual dos combustíveis fósseis por biocombustíveis até 2030, criando uma oportunidade valiosa para as usinas se modernizarem e se consolidarem como pilares de um sistema energético mais sustentável.

No centro dessa transformação está a inovação. Tecnologias como o etanol de segunda geração, produzido a partir do bagaço da cana-de-açúcar, e o biogás, agora aproveitado como substituto do diesel nas operações das usinas, exemplificam como é possível o setor sucroenergético gerar mais com os mesmos recursos.

O etanol de segunda geração, por exemplo, maximiza a produção sem expandir a área plantada, utilizando resíduos que antes eram descartados.

O biogás, por sua vez, transformado em biometano, reduz significativamente a dependência do diesel, tornando a cadeia produtiva mais autossustentável e com menor impacto ambiental.

Há novas tecnologias voltadas também para o setor de aviação.

O SAF- Sustainable Aviation Fuel, é uma alternativa ao combustível fóssil que pode ser produzido a partir do etanol, além de outras fontes de energia renovável.

De acordo com o Ministério de Minas e Energia, os investimentos no segmento devem alcançar R$17,5 bilhões até 2027.

Na navegação também há avanços para a oferta de combustível alternativo, vindo de fonte limpa e renovável, neste caso o e-metanol. É um combustível marítimo derivado do hidrogênio renovável.

Outra inovação crescente no Brasil é a produção de etanol a partir do milho.

De acordo com estudo da Consultoria Agroícone, na safra 2023/24 o Brasil produziu 6 milhões de litros de etanol de milho, um aumento de 36% em comparação com a safra anterior. Para a safra 2024/25, a previsão é alcançar 7,3 milhões de litros, consolidando o país como o segundo maior produtor mundial desse biocombustível, atrás apenas dos Estados Unidos.

Essa nova prática não apenas amplia a produção de energia renovável, mas também integra a produção de biocombustíveis à alimentação animal, criando uma verdadeira economia circular.

As plantas de etanol de milho geram DDG (farelo de milho de alto valor nutritivo), fortalecendo a produção de proteína animal e ampliando a competitividade do setor, especialmente nas regiões de confinamento de gado.

Entretanto, o futuro do setor não depende apenas do aproveitamento de novas matérias-primas.

A digitalização e a automação estão moldando a indústria do futuro. Usinas que adotam tecnologias de controle automatizado e digitalização não só otimizam seus processos, mas também melhoram a rastreabilidade e a qualidade dos produtos.

Dada a crescente exigência internacional por transparência e conformidade ambiental, as tecnologias de rastreabilidade asseguram que as usinas atendam às regulamentações e, ao mesmo tempo, cumpram a demanda por biocombustíveis de origem sustentável.

Além disso, a digitalização não só aumenta a eficiência, mas também protege as usinas contra riscos cibernéticos.

A conectividade das plantas, especialmente nas regiões mais remotas, impõe desafios quanto à segurança de dados e à proteção de ativos.

As tecnologias de automação e segurança cibernética são fundamentais para garantir que as operações das usinas permaneçam ininterruptas e seguras, permitindo ao setor expandir sem comprometer sua integridade.

O apoio à inovação também passa pela colaboração com instituições financeiras, que viabilizam novos projetos por meio de linhas de crédito e subsídios.

Essas parcerias facilitam o acesso das usinas a tecnologias de ponta e permitem que invistam em pesquisa e desenvolvimento, para se manterem competitivas em um mercado global cada vez mais exigente.

Com o avanço das tecnologias de biocombustíveis, automação, digitalização e segurança, o Brasil tem a chance de não apenas fortalecer sua posição como líder global no setor, mas também contribuir de forma decisiva para uma matriz energética mais limpa e sustentável.

A inovação está no centro desse movimento, e é ela que pode garantir um futuro mais verde, eficiente e competitivo para o setor sucroenergético.

O desafio está lançado: é hora de acelerar a transformação e aproveitar as oportunidades que estão sendo criadas.

Felipe Rover
Gerente corporativo para os segmentos de Açúcar, Etanol e Bionergia da Siemens Brasil