A safra 2024/25 com certeza ficará na história e principalmente na nossa memória! Como se já não bastasse todos os desafios que já estávamos vivendo em especial o estresse hídrico que deixou a cana seca, e me permito assim dizer desidratada, vieram as queimadas (criminosas ou não) afetando ainda mais o nosso setor.
A produção de açúcar que já não estava fácil ficou ainda mais complicada criando ainda mais sobrecarga na fermentação. Elevado teor de AR gerando muito mel, agora dextrana em excesso, assim temos piora na qualidade da cana físico-química e microbiológica também.
Tenho refletido muito sobre o cenário que estamos vivendo e quero compartilhar 10 insights sobre os efeitos da cana queimada na produção do Etanol:
1.Tempo de Queima/Corte são inversamente proporcionais ao Rendimento Fermentativo;
2.Temperaturas de Queima altíssimas (~800°C) provocando principalmente rachaduras na casca e exsudação do caldo potencializando contaminação bacteriana. Além disso é provável aumento de % Impureza Mineral (terra);
3. Segundo Parazzi et al. (1986) nas canas queimadas e mantidas em pé a deterioração é maior que quando cortadas, isso porque além das perdas por exsudação, na tentativa de sobreviver, a planta continua seu metabolismo (respiração -> perda sacarose);
4. Segundo MUTTON, MRJ (1998) alguns dos metabólitos tóxicos às leveduras (ácidos lático e acético) têm origem no campo, após o período de queima/corte;
5. STUPIELLO (1998) confirmou que quanto maior o intervalo de tempo entre colheita e processamento menor a produção de etanol e menor rendimento fermentativo, resultado da deterioração microbiológica;
6. Alguns fatores são sinérgicos, ou seja, a ação em conjunto tem um efeito muito maior que quando isolados: aumento tempo de queima + aumento Impureza Mineral + aumento Dextrana + Aumento AR cana + aumento contaminação —> Redução Rendimento Fermentativo;
7. Segundo MUTTON, MRJ (2008) considerando-se as deteriorações, estas podem ser tecnológicas e microbiológicas e o tempo de espera entre queima, corte e processamento dos colmos levam ao desenvolvimento de microrganismos contaminantes que provocam perdas devido à degradação dos açúcares. O destaque vai para produção de biomoléculas que podem interferir negativamente sobre o processamento industrial. Dependendo da natureza do metabólito formado durante a degradação dos açúcares, ele pode atuar como inibidor da viabilidade e do brotamento das células de leveduras nas dornas de fermentação, afetando os rendimentos industriais. A contaminação é um fato comprovado na maioria das unidades de produção de álcool do país, em função do desenvolvimento de outros microrganismos como bactérias e leveduras selvagens (nativas) que podem estar presentes na matéria-prima ou na água (lavagem, embebição, diluição etc.). Tal ocorrência pode promover a formação de outros compostos não desejados tais como mucilagens, produzidas por bactérias que floculam o fermento incorporando metabólitos ao caldo (ácidos orgânicos, polissacarídeos etc.), além de degradar o etanol, alterando sua composição química e promovendo transtornos na fermentação;
8. A matéria-prima mudou e a ação tem que ser rápida pois já sabemos os efeitos dela no processo. Mais do que nunca TEMPO é DINHEIRO, quanto mais rápido processarmos essa cana queimada, menores as perdas inerentes;
9. Para ações em tempos de crise temos 2 prioridades: agir rápido, de preferência PREVENTIVAMENTE e com INSUMOS DE QUALIDADE pois é muito arriscado arriscar nesses momentos, literalmente. A fermentação vai sentir e o que podemos fazer é agir onde temos controle. Tenho sugerido acompanhar o processo e aplicações de antibacterianos mais frequentes, em especial HJ GOLD que é um antibacteriano de amplo espectro além de ser indicado uso em pHs mais elevados otimizando a saúde da levedura que já está sensibilizada;
10. A mudança da matéria-prima pode alterar a microflora da fermentação. Mais do que nunca é importante avaliação de diferentes parâmetros. Para os que tem análises de cromatografia os dados são de grande importância nesse momento. Para os que ainda não tem precisamos olhar com atenção os dados e relacionar as possíveis causas e efeitos que estão afetando o processo.
Andresa Zago Martins de Menezes é Engenheira Bioquímica e Pós-graduada em Gestão Comercial – Consultora Técnica e Comercial Phibro Química Real