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Artigo: O sucesso do carro flex e a miopia governamental

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Em março o Brasil comemorou dez anos do lançamento dos carros flex, que hoje somam 92% dos veículos novos do País. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) estima que já tenhamos fabricado mais de 20 milhões deles. Em poucos anos essa experiência se transformou em um dos mais efetivos programas de redução de emissões de gases de efeito estufa do mundo.

A inovação tecnológica deu aos consumidores brasileiros o poder de comandar a maior experiência de substituição em massa de combustíveis fósseis por renováveis do planeta: de escolher entre gasolina ou álcool, na hora de abastecer. A inserção dessa tecnologia em nosso mercado também trouxe novo alento para o setor sucroenergético, que passou por um ciclo de notável crescimento em cenário econômico que por vários anos permitiu uma competição saudável entre o etanol e a gasolina.

Os debates sobre os novos rumos desse programa no futuro próximo foram uma das marcas da quarta edição do Ethanol Summit, onde estive presente, na semana passada.

Lançado em 2007 pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) e realizado a cada dois anos, o evento, um dos mais importantes do mundo, é voltado para as energias renováveis, especialmente o etanol. Reuniu representantes da indústria, academia e governos de todos os continentes.

Entre os temas de discussão, sustentabilidade, mercados e investimentos, tecnologia, cenários para 2020, mobilidade e o novo ciclo de crescimento para o setor sucroenergético nacional e seus impactos. Destaco uma inovação revolucionária, a do etanol de segunda geração, ou celulósico, produzido a partir de restos de plantas, como palha e bagaço de cana, e outros tipos de biomassa.

Com o surgimento das primeiras usinas de porte comercial, o interesse pelo tema se reforça. Os Estados Unidos são o principal investidor, com cerca de 70 projetos celulósicos distribuídos por 20 estados. E a primeira usina comercial brasileira, da empresa GranBio tem inauguração programada para 2014, em São Miguel dos Campos, a 60 quilômetros de Maceió (AL).

O futuro aponta para os novos usos e produtos oriundos da cana de açúcar: bioplásticos, química fina, resinas especiais, embalagens e querosene para a aviação. Todos alinhados com a economia de baixo carbono. E situa na cooperação entre os países consumidores e produtores a mais eficiente forma de avançarmos em uma agenda global para a consolidação do etanol como uma commodity internacional.

Mas é preciso que todos façam a lição de casa, começando pelas questões regulatórias, que definem as regras do jogo, condição fundamental para garantir e orientar investimentos setoriais. Hoje, por exemplo, apenas um terço dos veículos flex utiliza etanol hidratado. No último ano, enquanto o PIB cresceu menos de 1%, o aumento do consumo de combustíveis leves no Brasil chegou perto de 8%. Até 2020, estima-se incremento da ordem de 50% neste consumo, volume que terá que ser atendido, em boa medida, pelo aumento da oferta de etanol, se não quisermos que seja coberto por gasolina importada.

Recentemente também, o Governo Federal lançou um programa de inovação para o mercado automobilístico, denominado Inovar Auto, com o objetivo de incentivar a produção de veículos com tecnologias mais avançadas e com menor consumo de combustível. Mas o programa tem uma lacuna: a falta de estímulos claros e fortes à maior competitividade para o etanol em relação à gasolina.

Correção importante de rumos – voz corrente, e recorrente, dos participantes do Ethanol Summit à qual me integro – é a definição de políticas públicas que, de fato, reconheçam as externalidades econômicas, sociais e ambientais positivas que a produção e o uso em larga escala do etanol trazem para o País. Políticas públicas bem estruturadas são um ingrediente essencial para gerar condições que incentivem um novo e longo ciclo de desenvolvimento para o setor sucroenergético.

Hoje, como bem lembra Elizabeth Farina, presidente da UNICA, certamente o setor sucroenergético está entre os mais importantes da economia brasileira, com faturamento superior a 36 bilhões de dólares, geração de divisas da ordem de 16 bilhões de dólares e mais de 1 milhão de empregos em cerca de 20% dos municípios brasileiros. O setor pode ser um dos mais importantes vetores do desenvolvimento sustentável do País, desde que balizado por incentivos corretos.

É fundamental também – ao contrário do que tem acontecido por miopia governamental – que os preços de mercado não sejam distorcidos, na direção contrária do indicado pelas externalidades positivas do etanol quando comparadas às externalidades negativas da gasolina e fator que precisa ser definitivamente amparado pelas políticas públicas tão necessárias para o nosso etanol volte a crescer!

*Arnaldo Jardim – Deputado federal e Membro da Comissão Mista Permanente do Congresso Nacional sobre Mudanças Climáticas

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