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APTA faz diagnóstico da piscicultura no Médio Paranapanema

Um retrato preciso da piscicultura no Médio Paranapanema – esse é o resultado de uma pesquisa da APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios). Inédito no estado de São Paulo, o estudo revela o número de piscicultores na região, o sistema de produção adotado, as espécies cultivadas, o destino da produção e o entrave dessa atividade, que é alternativa importante para o agronegócio regional: a burocracia envolvida na regularização.

Com lucro estimado em 30%, a piscicultura é a segunda opção de produtores de cana-de-açúcar, milho e soja, embora essas culturas apresentem, em média, um terço do rendimento gerado com a criação de peixes, por unidade de área.

O resultado dessa pesquisa orientará novos trabalhos na APTA com o melhoramento genético das espécies mais cultivadas na região e o desenvolvimento de tecnologias que reduzam os custos de produção. Com os dados científicos, os pesquisadores da APTA, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, esperam estimular a elaboração de políticas públicas que facilitem a legalização da atividade.

Para apresentar esse diagnóstico regional e transferir informações sobre piscicultura será realizado um curso no Pólo APTA Médio Paranapanema, em Assis, na próxima sexta-feira, 29, das 8h às 17h30. No evento, os participantes terão acesso a informações sobre sistemas de criação de peixes, alimentação, nutrição uso de recursos hídricos e regularização da atividade.

De acordo com a pesquisadora da APTA, Fernanda de Paiva Badiz Furlaneto, na região há 360 piscicultores. Desses, 99 têm objetivos comerciais com a atividade, sendo que 81 trabalham com viveiros-escavados (reservatório escavado em terreno e dotado de sistema de abastecimento e drenagem de água), 12 com tanques-rede (sistema intensivo de criação de peixe em gaiolas flutuantes, colocadas em rios, represas ou reservatórios de usinas hidrelétricas) e seis com viveiros e tanques.

Os que produzem em viveiros, destinam sua produção a pesqueiros da Grande São Paulo. Os usuários de tanques-rede encaminham o produto para a indústria de filé de tilápia. Outros 218 piscicultores produzem para consumo próprio e 43 interromperam suas atividades em razão do custo e da dificuldade de legalizá-las.

A pesquisa mostrou também que no universo de 360 piscicultores há 1218 viveiros-escavados e 629 tanques-rede. No total, a área de espelhos d’água soma 379 hectares. Nesse cenário, 53% são pisciculturas de pequeno porte (0,1 a 0,2 hectare de espelho d’água), 29% de médio porte (acima de 0,2 a 1,0 hectare de espelho d’água) e 18% de grande porte (acima de 1 hectare de espelho d’água).

Para chegar a esses resultados, a equipe trabalhou durante um ano, a campo, visitando cada propriedade dos 20 municípios pertencentes ao Consórcio Intermunicipal do Vale do Paranapanema (CIVAP). Nesse grupo, que produz 1665 toneladas de peixe por ano, os principais são Assis, Cândido Mota, Palmital, Maracaí e Paraguaçu Paulista.

Segundo a pesquisadora da APTA, não há no Estado de São Paulo nenhum outro estudo nessa área com tamanha precisão. Iniciada em março de 2007 e finalizado em fevereiro de 2008, a pesquisa foi desenvolvida no Pólo APTA Médio Paranapanema, com sede em Assis. O projeto teve apoio do Fehidro (Fundo Estadual de Recursos Hídricos).

Na avaliação do coordenador da APTA, João Paulo Feijão Teixeira, esse diagnóstico ressalta a importância da ação regional da Agência. “Ao considerar características da produção regional, com observação dos sistemas de produção e das espécies cultivadas, a pesquisa viabiliza um perfil fiel do setor, capaz de orientar a geração de tecnologias eficazes e necessárias à manutenção da atividade geradora de emprego e renda. Com isso podemos levar soluções aos produtores e concretizar a inovação”, avalia Feijão.

Boa rentabilidade está relacionada à tecnologia

Segundo Fernanda Furlaneto, a boa rentabilidade na piscicultura depende da tecnologia adotada e das espécies cultivadas. Por isso essa pesquisa da APTA é bastante relevante, tanto no diagnóstico como na continuidade dos estudos – essa avaliação mostrou as principais espécies criadas na região. A partir desses dados, a APTA intensificará as pesquisas com foco no aumento da produtividade, redução do custo de produção e conseqüente aumento na lucratividade.

Na região, 18 espécies são cultivadas em viveiros escavados. Nesse universo, as principais são: tilápia, com 43%, pacu e patinga, com 15% cada, e tambacu, representando 13%. A tilápia é a única espécie produzida em tanque-rede e é destinada à produção de filé.

A pesquisa revelou que, no Médio Paranapanema, a produtividade média de tilápias é de 15 a 20 toneladas por hectare de espelho d’água, por ciclo de oito meses. Isso em viveiro escavado. Já nos tanques-rede, a tilápia produz entre 60 e 150 Kg/m³/ciclo.

Os peixes redondos (pacu e seus híbridos) alcançam 10 toneladas por hectare de espelho d’água, por ano, em viveiros escavados. A pesquisadora explica que a escolha do sistema depende do capital de investimento. “No tanque, o investimento é maior, visto que é um sistema intensivo de produção”, diz.

Impacto ambiental e custos

Os impactos ambientais causados pela criação de peixes são um dos aspectos avaliados quando o produtor busca a regularização. Por isso, a APTA está estudando também a relação entre piscicultura e o impacto no ambiente.

Avalia-se, por exemplo, se os resíduos de ração e de fezes dos peixes criados em tanques-rede interferem na qualidade dos recursos hídricos. “Espera-se que a legalização das pisciculturas seja menos burocrática se os resultados científicos comprovarem que a atividade é de baixo impacto ambiental”, afirma Fernanda Furlaneto.

Outras pesquisas estão em andamento na APTA para reduzir custos com alimentação, que somam, em média, 65% do total da produção. Um desses trabalhos visa ao aproveitamento de subprodutos da região, como o uso do farelo de algodão em substituição ao farelo de soja.

Com reflexo direto no custo, esses resultados poderão estimular a piscicultura no Médio Paranapanema, onde a importância da atividade deve-se, especialmente, à geração de emprego e renda. ”Estima-se que são gerados seis empregos diretos e 18 indiretos, para cada hectare de espelho d”água utilizado pela atividade”, afirma a pesquisadora da APTA.

Sobre a APTA

Com um corpo de 900 pesquisadores científicos e 1600 funcionários de apoio e administrativos, a APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios) tem 15 pólos regionais de pesquisa sediados em 15 localidades do Estado de São Paulo — Jaú, Ribeirão Preto, Pindorama, Andradina, Adamantina, Presidente Prudente, Assis, Piracicaba, Capão Bonito, Pariquera-Açu, Pindamonhangaba, Monte Alegre do Sul, Colina e Votuporanga.

Ligada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento, a missão da APTA é gerar e transferir ciência e tecnologia para a agropecuária paulista, por meio dos pólos e dos seis institutos de pesquisa ligados à Agência. São eles o Instituto Agronômico (IAC-APTA), o Instituto Biológico (IB-APTA), o Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA), o Instituto de Pesca (IP-APTA), o Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL-APTA) e o Instituto de Zootecnia (IZ-APTA).

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