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Após corrida por alimentos, China buscará biocombustível

A demanda chinesa por terras no Brasil, na África e em parte da Ásia crescerá além da busca por segurança alimentar daquele país. Para o professor João Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura do governo de Lula, os biocombustíveis motivarão os próximos movimentos da China.

“A China e a Índia são os países que mais compraram carros nos últimos anos. A demanda deles por combustíveis será maior do que a de comida. E é evidente que o petróleo, com as questões ambientais, não é a melhor alternativa. A agroenergia terá um papel formidável nesse desenlace, e os países tropicais são os capazes de produzi-la”, disse Rodrigues, ontem, em sua sala na Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP).

O ex-ministro, que preside o Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), concorda que, nesta perspectiva, pode haver uma nova corrida por terras no Brasil – pois já existe no Congresso Nacional projeto para derrubar o parecer da Advocacia Geral da União (AGU) que restringe a venda de terras do País a estrangeiros.

“Em princípio, sou favorável à liberação da venda de terras a estrangeiros, com algumas limitações ou regras. A primeira delas: é inadmissível fundos soberanos comprarem terras no País”, disse Rodrigues. Ele reconheceu em seguida que o perfil de investimentos externos da China é justamente o que envolve este tipo de capital, “de modo que se põe outro Estado dentro de um Estado”.

Os aportes dos chineses na América Latina cresceram de US$ 7,33 bilhões, em 2009, para US$ 10,54 bilhões em 2010 – estes seriam os últimos dados disponíveis, segundo reportagem do diário norte-americano The Wall Street Journal.

Quando visitou a região, em junho, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, propôs a criação de um fundo cooperativo calculado em US$ 5 bilhões e destinado a “investimentos em infraestrutura”, com recursos públicos.

Considerando que, já alimentado, o “dragão asiático” passe a procurar fontes para dar sustentação à sua crescente frota de automóveis, o interesse pelos canaviais brasileiros será uma ameaça em potencial aos “interesses estratégicos nacionais” defendidos pelo ministro da AGU, Luís Inácio Adams, que elaborou o documento de restrição a negócios que envolvam terras brasileiras e investidores internacionais.

Rodrigues apoia a entrada de capital externo no campo do País, desde que haja limite de espaço (a exemplo da lei que determina no máximo 20% de um município nas mãos de estrangeiros), respeito ao zoneamento agrícola e utilização de máquinas e insumos produzidos no Brasil.

Cana: “alternativa formidável”

Rodrigues pesquisa o mercado de etanol de cana-de-açúcar desde o ano de 1973, a dois anos da criação do Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool). Sobre as dificuldades a- tuais desse segmento, que motivaram um encontro na quarta-feira com o ex-presidente Lula, Rodrigues diz que é preciso trabalhar três questões: a política de preço, a tributação e o financiamento a usinas endividadas. “Ao se resolver esses três problemas, o etanol voltará a ser uma coisa (sic) importante”, garantiu ao DCI.

Segundo Rodrigues, o reajuste do preço da gasolina é a medida fundamental para socorrer o álcool combustível no Brasil. “Hoje, a população toda paga compras da Petrobras. Todos pagamos. Se subir o preço da gasolina, só vai pagá-la quem a consome – menos gente e mais justo”, disse. “Mexer com a gasolina é, indiscutivelmente, um problema inflacionário. Mas eu pergunto: até quando dá para manter um preço artificial? Um dia isso vai estourar”, prevê Rodrigues. “[Os preços artificiais] não consertam um santo e matam o outro”, ilustrou. Rodrigues acredita que a cana, “uma alternativa formidável”, pode protagonizar a matriz energética brasileira no futuro, superando o petróleo em importância política, econômica e social.

Setor poderoso

Ontem, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Ocde) divulgou que, até 2020, a produção mundial de alimentos precisa crescer 20% e, para que isso aconteça, deve aumentar 40% no Brasil.

“É a primeira vez na história acadêmica mundial em que há uma pressão de fora para dentro pedindo ao Brasil que cresça o dobro do mundo. Sempre foi o contrário: o Brasil sempre foi o bicho-papão da agricultura mundial, assustando os concorrentes”, observou Rodrigues.

O ex-ministro é convidado de honra, e inclusive programou o conteúdo, do próximo Encontro de Líderes Empresariais (Lide) do Grupo Doria, nos dias 21 e 22 em Campinas. “O Lide descobriu o agronegócio, coisa poderosa no País”, comentou a respeito.

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