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Ano chuvoso e crise fazem usinas de SP anteciparem moagem da cana

Em um setor marcado pelo alto endividamento e que sofreu atraso na colheita em 2015 por causa das chuvas, prejudicando a moagem, usinas de açúcar e etanol do país estão arriscando e moendo cana em janeiro.

Segundo levantamento da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), 56 usinas estão moendo cana num período em que tradicionalmente elas estão paradas para manutenção. No mesmo período do ano passado eram 16 as unidades em operação.

Isso significa, de acordo com consultores e empresários do setor ouvidos pela Folha, que ou essas usinas têm um plano de manutenção programado para os próximos meses que permita moer cana agora ou estão em operação para tentar fazer caixa.

O endividamento do setor supera o faturamento global de uma safra toda. A estimativa é que o acumulado chegue a R$ 80 bilhões, para uma safra entre R$ 65 bilhões e R$ 70 bilhões. O cenário não é pior porque medidas governamentais deram um “fôlego” ao setor, como o aumento da Cide cobrada na gasolina, que deixou o etanol mais competitivo.

Desde 2008, cerca de 60 usinas paralisaram as atividades e 300 mil empregos foram perdidos.

“Moer agora, com essa chuva toda, é ter condições precárias, a cana fica muito pobre. E deixar menos de 90 dias para manutenção da usina é para preocupar, pois pode comprometer a próxima safra”, disse Celso Torquato Junqueira Franco, presidente da Udop (União dos Produtores de Bioenergia).

Tradicionalmente, o período de janeiro a março é destinado à manutenção dos equipamentos das usinas, para que elas tenham condições de operar de maneira ininterrupta até dezembro.

Para ele, uma hipótese para usinas que não estão endividadas e estão moendo é que elas façam parte de um mesmo grupo e tenham unidades próximas, que permitam parar uma usina mais tarde para manutenção enquanto outra opera normalmente.

ATRASOS

Além da necessidade de dinheiro, unidades estão em operação neste mês porque 2015 foi mais chuvoso que os anos anteriores e a moagem sofreu atraso.

“A cana que está sendo moída agora poderia ter sido moída em dezembro, mas a chuva não permitiu. Ou poderia ser em março, mas optaram por agora. Um problema de caixa pode explicar isso, pois não é condição normal fazer isso em janeiro, principalmente chovendo como está”, disse Junqueira Franco.

Dados da consultoria Datagro apontam 49,5 dias de interrupção nos trabalhos devido à chuva no ano passado, ante 41,7 da safra anterior, e uma sobra para a safra deste ano entre 35 milhões e 37 milhões de toneladas de cana. A produção total deve chegar a 605 milhões de toneladas.

Com esse cenário de endividamento, o índice de renovação de canaviais não passou de 14,5% na atual safra, ante os 18% recomendados. Isso significa trabalhar com cana mais velha, de menor rendimento.

Dados do IEA (Instituto de Economia Agrícola) mostram que os canaviais atingiram em 2015 produção de 76,8 toneladas por hectare em São Paulo, principal produtor do país, bem abaixo do potencial da cultura, acima de 80 toneladas.

NAS BOMBAS

Para William Hernandes, sócio da consultoria FG Agro, o cenário do setor não permite prever como será o comportamento do preço do etanol ao consumidor neste ano. Para ele, isso vai depender, entre outros fatores, do direcionamento das usinas em relação à produção de açúcar ou etanol.

“Temos de considerar que teremos uma provável piora da qualidade da cana [devido à baixa renovação de lavouras] e podemos ter uma safra mais açucareira que a atual. Aí a disponibilidade de etanol vai ficar bem restrita de novo”, disse.

Fonte: (Folha de S. Paulo)

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