De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Brasil importa cerca de 80% dos fertilizantes consumidos. Apesar desse aparente desconforto comercial, é certo que o agronegócio brasileiro tem buscado alternativas em relação à sua dependência de fertilizantes, seja por meio do aprimoramento no manejo e na estocagem, seja por meio do reaproveitamento de subprodutos.
Com o setor sucroenergético, não seria diferente. Mesmo com eventuais restrições à importação de potássio (o “K” do “NPK”), o setor pode se considerar privilegiado, pois as usinas de cana-de-açúcar possuem uma verdadeira fábrica de potássio em seu próprio quintal, qual seja, a vinhaça. Esta é um dos principais subprodutos da indústria canavieira, sendo resultado do processo de fabricação de etanol. Na prática, a cada 1 litro de etanol, são gerados aproximadamente 12 litros de vinhaça. Esse incrível volume de vinhaça corresponde a uma solução riquíssima em minerais, matéria orgânica e água.
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O uso de vinhaça para fertirrigação (fertilização + irrigação) do solo é amplamente adotado pelo setor (aproximadamente 40% de toda a área cultivada de cana-de-açúcar é fertirrigada com vinhaça), sendo reconhecido pelos órgãos ambientais como um excelente exemplo de economia circular e bioeconomia.
Não se trata apenas do reaproveitamento de um resíduo industrial, mas de um modelo de adubação orgânica com potássio, cálcio, magnésio, fósforo, nitrogênio e enxofre, que garante eficiência ambiental e econômica ao manejo do solo pelo setor produtivo.
O aproveitamento energético da vinhaça dá-se por meio do processo de biodigestão da matéria orgânica presente na sua composição. Nessa matriz, a produção energética ocorre sem que exista qualquer perda do potencial fertilizante da vinhaça, ou seja, trata-se de um modelo de biorrefinaria, com aproveitamento de resíduos, substituição de insumos fósseis e químicos, em associação à produção de água limpa ao final do processo.
O aproveitamento agronômico e energético da vinhaça é apenas mais um exemplo do quanto a cadeia produtiva sucroenergética tem como um fundamento básico a sustentabilidade.
*Renata Camargo é coordenadora de Sustentabilidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA).