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Usineiros do Nordeste investem em tecnologia

As usinas de açúcar e álcool do Nordeste, responsáveis por 15% da oferta de cana do país, querem competir de igual para igual com as usinas do Centro-Sul do país. Com logística de exportação privilegiada em relação aos portos do Sul e do Sudeste do país, os empresários nordestinos estão concentrando seus investimentos em tecnologia agrícola e industrial para garantir maior eficiência e expandir seus negócios no exterior.

Os investimentos do setor nos Estados de Alagoas e Pernambuco, principais produtores do Nordeste, somarão, no total, de R$ 250 milhões a R$ 315 milhões, nesta safra, a 2004/05. As usinas de Pernambuco deverão investir de 6% a 10% de seu faturamento, estimado em R$ 1,1 bilhão. Já as empresas de Alagoas usarão 10% de sua receita, de R$ 1,8 bilhão, para expandir suas unidades.

Esses valores são considerados até baixos, se comparados com os realizados pelo setor no Centro-Sul, onde os aportes para a expansão da cultura deverão alcançar R$ 6 bilhões até 2010. Mas a onda nordestina que se avizinha mostra que os empresários locais querem se manter competitivos. Um exemplo recente foi o início da produção de açúcar Very High Polarization (VHP), antes restrito ao Centro-Sul, mas que agora tornou-se mais uma alternativa ao Nordeste, que se concentrava nos tipos demerara e refinado. O Nordeste exportará cerca de 3 milhões de toneladas de açúcar e o Centro-Sul, 14,6 milhões de toneladas.

Os investimentos na região vão desde irrigação, barragens e drenagem de áreas de várzeas à co-geração de energia e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). “Também haverá investimentos em modernização de frota e logística voltada para o mercado externo”, afirma Renato Cunha, presidente do Sindicato das Indústrias de Açúcar e Álcool de Pernambuco.

Em Alagoas, as usinas também apostam em pesquisas em melhoramento genético da cana. Segundo Pedro Robério Nogueira de Mello, presidente do Sindaçúcar/Alagoas, o setor fechou convênio com a Universidade Federal de Alagoas (Ufal), no valor de R$ 1 milhão, voltado para a pesquisa de melhoria genética.

Plínio Nastari, presidente da Datagro, lembra que as usinas do Nordeste aumentaram a eficiência da produção. O teor de sacarose (quantidade de açúcar na cana) em 2004/05 – estimado em 8,223 milhões de toneladas – representa salto de 44% sobre 2001/02. O Nordeste deve colher na atual temporada 63 milhões de toneladas de cana, 6,7% mais que em 2003/04.

De acordo com Nastari, o aumento da produção reflete a melhoria de produtividade da cana daquela região e a expansão da área, que era impensável há alguns anos. A região Nordeste perdeu espaço nas últimas décadas para as usinas do Centro-Sul. Com área topográfica acidentada, o que inibe ampliações, muitos empresários migraram seus investimentos para o Sudeste. E, com a valorização das terras no Centro-Sul, a migração agora ocorre também para áreas do Centro-Oeste, em Estados como Goiás e Mato Grosso do Sul.

O grupo pernambucano Tavares de Melo (GTM) está investindo R$ 75 milhões em suas quatro unidades industriais, nenhuma delas localizada em Pernambuco. Esse investimento representa um crescimento de 15% sobre a safra passada. De acordo com o presidente para a área sucroalcooleira do grupo, Carlos Tavares de Melo, parte desses investimentos será direcionada à Usina Estivas, no Rio Grande do Norte, e à Destilaria Giasa, na Paraíba. Do total a ser investido, R$ 50 milhões deverão ser aplicados nas usinas Maracaju e Passatempo, ambas no Mato Grosso do Sul.

O foco dos investimentos do grupo em suas usinas do Nordeste está na irrigação, o que deverá garantir um rendimento agrícola mais uniforme. “Devemos moer cerca de 5,1 milhões de toneladas de cana, 1% acima da safra anterior. Este crescimento já reflete parte dos investimentos que estão sendo realizados”, afirma Melo.

Só as empresas do grupo no Nordeste devem esmagar 2,8 milhões de toneladas de cana. Os investimento em irrigação visam corrigir a oscilação do desempenho agrícola, que chega a variar de 37 toneladas de cana por hectare a 80 toneladas por hectare. Melo afirma que, com a irrigação, esse desempenho pode chegar a 70 toneladas em épocas de seca e a até 85 toneladas em períodos chuvosos. “A irrigação também eleva o teor de sacarose da cana”, diz.

Melo afirma que as usinas do Nordeste têm vantagens logísticas. Somente a Usina Estivas (RN) tem à disposição os portos de Natal (RN), Cabedelo (PB), Recife e Suape (PE). A destilaria Giasa (PB) está localizada a 60 quilômetros do Porto de Cabedelo, onde o GTM é sócio de um terminal de armazenamento. “Já no Centro-Oeste a logística é mais cara. Em compensação, o custo agrícola é menor em função da alta produtividade”, observa.

Em Alagoas, a logística também tem um peso significativo nos investimentos. Com uma distância média das usinas até o porto em torno de 80 quilômetros – contra uma média de até 300 quilômetros em São Paulo-, o custo logístico é menor. “No caso de Alagoas, como não há espaço para ampliar as áreas cultivadas, temos que verticalizar a produção. A produtividade média nos últimos cinco anos passou de 40 toneladas por hectare para 55 toneladas”, informa Nogueira, do Sindaçúcar/AL.

O grupo JB, que possui uma unidade industrial em Pernambuco e outra no Espírito Santo, está investindo entre R$ 30 milhões e R$ 35 milhões ao longo da safra 2004/05. Parte dos investimentos é destinada ao suporte na área industrial. “Ampliamos o volume de cana a ser esmagado por conta da incorporação das terras da Usina Barão de Suassuna em 2002”, afirma o diretor do Grupo JB, Carlos Beltrão.

O volume de cana esmagada pelo grupo, que na safra 2001/02 foi de 550 mil toneladas, deverá chegar a 950 mil toneladas nesta safra. Para 2006/2007, o volume atingirá 1,1 milhão de toneladas. Beltrão diz que nos próximos dois anos os investimentos destinados à área agrícola da unidade pernambucana devem chegar a R$ 6,5 milhões.

O grupo JB também está investindo em outros setores como a geração de energia. A produção de energia está saindo dos atuais 28 MW para 53 MW até o ano de 2006. Deste total, 25 MW serão destinados ao fornecimento de energia para o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas (Proinfa). Os outros 23 MW deverão ser comercializados junto à iniciativa privada. O grupo também está finalizando uma parceria para atuar como uma marca única no varejo.

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