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Transformação digital, mais um desafio para a indústria da cana

A consolidação deste processo precisa ser avaliada pelos gestores das usinas com urgência, já que a iniciativa colabora na implantação do ESG nas usinas

Processar a cana para dar origem ao açúcar, etanol e energia, entre outra gama de produtos, é uma tarefa que as usinas vêm aperfeiçoando ao longo dos últimos anos.

O grande desafio agora é digitalizar todo esse processo, de forma que as ações que se enquadrem nas práticas ESG, possam ser mensuráveis, resultando em aumento de produtividade e retorno financeiro.

Com o passar dos anos, a transformação digital vem se transformando numa necessidade básica para todas as empresas. Investir em soluções tecnológicas, seja para automatizar processos operacionais, ou para aprimorar o desempenho na gestão.

Aliada às práticas ESG, como elas podem impactar o setor bioenergético. Essa e outras questões à governança ambiental, social e corporativa foram respondidas por participantes da série de webinars ESG NAS USINAS, que vem sendo realizada pelo JornalCana.

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Com o tema: “A Transformação Digital como Fator Estratégico”, a Quarta Estratégica JornalCana, realizada no dia 27 de abril, contou com as presenças de: André Ferreira, Head de Engenharia de Valor Agri & Food da SAP; Ariel Souza, head de Tecnologia da Usina São Domingos; Dalbi Arruda, gerente-executivo de Tecnologia e Processos da Copersucar e Luciano Fernandes, especialista em Transformação Digital e head de operação Treesales.

Com o patrocínio das empresas AxiAgro e S-PAA, o webinar foi conduzido pelo jornalista e diretor da ProCana, Josias Messias, que destacou a complexidade do setor.

“No caso específico das empresas do agronegócio, que tem um negócio complexo, pois são grandes tomadoras de capital e de mão de obra, ficam expostas às diversas volatilidades e às mudanças constantes nas técnicas de gestão. Quanto de produção, transformação digital e ESG se conectam e podem agregar valor e trazer novos modelos de negócio?  indagou aos participantes.

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Luciano Fernandes

Para Luciano Fernandes, há duas grandes formas de trabalhar o digital: “seja pela necessidade de evolução, de controle, de fazer mais com menos, de otimizar os modelos tradicionais. Seja por uma crise ou questões de ESG. Então, podemos fazer a evolução digital seja por tendência e dor ou com tendência e amor. Ela ocorre por uma questão de controle das informações ou por engajamento nas questões digitais”.

De acordo com Fernandes, apenas 9% das empresas têm tido essa preocupação com o controle digital das informações. Nas demais que investem em tecnologia esse controle é extremamente manual. Poucas empresas estão engajadas em reportar o controle dessas medições.

“Nós estamos no momento de fazer mais com menos. Numa perspectiva mais profissionalizada, é onde eu posso fazer toda uma questão de tratamento de dados, exposição e controle dessas informações para que eu possa chegar, a partir daí, no controle ideal, e ao longo do tempo estar digitalmente monitorando os dados e controlando todos os indicadores. Um dos grandes desafios é habilitar essa estrutura para permitir essa engenharia de transformação”, explicou.

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Dalbi Arruda da Copersucar, lembrou do protagonismo da empresa no RenovaBio, com todas suas 34 usinas certificadas. “O setor sucroenergético escriturou 31 milhões de CBIOs, na última safra e nossa participação foi de mais de 5 milhões, o que mostra o comprometimento do setor como tema”, informou Arruda, lembrando que ESG é uma questão de estratégia da companhia. Com relação à transformação digital, a empresa investe na robotização.

Dalbi Arruda

“Decidimos começar a pisar nesse terreno, lançando mão das tecnologias com robotização, tendo como desafio que os robôs possam fazer algo por nós e pelos nossos clientes. Alguns robôs que se destacaram nesse processo, com capacidade de receber um e-mail do cliente e devolver para ele a informação que ele estava precisando, causando impacto nas operações internas, liberando pessoas que antes respondiam essas solicitações para outras atividades”, contou.

Ele citou ainda outro robô que se destaca é o que se integra com os principais clientes da companhia e recebe deles as programações de carregamento, interpreta os dados, verifica se está de acordo com as informações prestadas, e já prepara a criação de todo o planejamento de embarque.

“Esse barramento digital é uma plataforma, um conjunto de serviços digitais. Nitidamente, a transformação digital vai trazer mais transparência e mais confiabilidade para as informações”, avalia Arruda.

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Ariel Souza, da Usina São Domingos, falou sobre a importância de entender a inovação tecnológica como um processo. “É muito importante a gente olhar a questão de processo. Porque, às vezes, olhando para todo o processo você reinventa uma nova maneira de se fazer as coisas, e isso olhando apenas para tecnologia, não é possível.  Temos que ter essa visão de tecnologias abertas e que elas possam se conectar com outras”.

O head de Tecnologia da Usina São Domingos citou como exemplos as plataformas Axiagro e S-PAA, utilizadas pela companhia com excelentes resultados. “Falamos de uma tecnologia que possibilita trazer de forma online, minuto a minuto, 2.500 indicadores de uma máquina agrícola, obtendo uma redução de 3 litros de diesel/hora. Então fizemos uma inovação que impactou de forma significativa, na emissão de CO2 na atmosfera. E isso é transformação digital trazendo resultados”, disse.

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Ariel Souza

Ariel também ressaltou a importância da comunicação, através da utilização de uma linguagem simples e acessível a todos envolvidos no processo. “Nós estamos dando um treinamento para 400 pessoas. Para treinar um operador de máquina, a linguagem deve ser simples, para que todos possam participar ativamente do processo de transformação”.

André Ferreira, Head de Engenharia de Valor Agri & Food da SAP, também destacou a eficiência do agro no campo da sustentabilidade. “Quando a gente olha para tecnologia, o agro é um grande propulsor e consumidor. De 80 até 2.000, em termos de área, crescemos 64% por cento, mas em termos de produção crescemos acima dos 400%. Isso é tecnologia pura”, afirmou.

Para ele, falar de ESG para essas empresas tem que ter algo diferente, tem que ter algo a mais. “Tendo variedades mais resistentes às pragas ou tendo a aptidão para poder produzir em áreas com menor fertilidade, reduzir a aplicação de fertilizantes em 839 mil toneladas. Produzindo mais numa determinada área, reduzir a área plantada em 9.9 mil hectares. Tendo uma planta mais resistente, tenho que fazer menor aplicação, consumindo menos combustível, (377 mil litros), resultando em menos emissão de CO2 (26,5 mil toneladas). Tudo isso já é real e o agro já vem surfando essa onda há um tempo”, ressaltou.

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De acordo com Ferreira, a questão é trazer inteligência e evolução tecnológica para esses processos. “Como que eu tomo uma decisão, se não tenho a visão como um todo? Então, atualmente a colaboração de dados é algo muito importante. Se você pegar o primeiro IPhone e tentar utilizá-lo nos dias de hoje, vai ficar fora das redes de conexão, não conseguirá entrar em um aplicativo de transferência, whatsApp, enfim, fica totalmente fora de ambiente”.

André Ferreira

Ele explica que a plataforma da SAP vem desenvolvendo soluções para toda parte da produção agrícola e industrial. “Toda essa parte da gestão, trabalhar com capacitação, desenvolvimento   profissional, gestão de águas e efluentes, rastreabilidade da cadeia produtiva, já que a população está cada vez mais exigente, quanto a origem de um produto, o que vale também para investidores”.

Conselhos Administrativos podem definir rumos da gestão

 Mudanças cada vez mais profundas e aceleradas, no ambiente de negócios provocam transformações da governança corporativa, impulsionando o papel dos Conselhos de Administração nos últimos tempos.

Antes voltados para monitorar os resultados da diretoria executiva ou uma função meramente legal, os Conselhos vão se ocupando cada vez mais em garantir na tomada de decisões da empresa, que o direcionamento estratégico dos negócios, sejam respeitados de acordo com os principais interesses da organização como um todo.

Cabe ao Conselho, portanto, estabelecer as bases do processo de pensamento e de planejamento estratégico e levar a definição dos rumos do negócio e da empresa.

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Essa importante evolução é claramente expressa no código das melhores práticas de governança corporativa do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) o qual informa que o Conselho de Administração é o órgão colegiado encarregado do processo de decisão de uma organização em relação ao seu direcionamento estratégico.

Ele exerce o papel de guardião dos princípios dos valores do objeto social e do sistema de governança da organização sendo seu principal componente, ou seja, hoje o próprio manual do código das melhores práticas do IBGC, apontam o Conselho de Administração como o principal componente do sistema de governança corporativa.

Então seja por demandas do sistema financeiro, estruturação ou reestruturação societária avanço da governança ESG ou simplesmente para proteger o patrimônio e maximizar o retorno sobre o investimento da empresa, o fato é que a formação e a atualização do Conselho de Administração, é pauta estratégica para maioria das usinas e empresas do agronegócio e também foi discutida em um dos webinares da série ESG NAS USINAS, promovido pelo JornalCana.

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Milzíade Malgoska Sei

Com a mediação do jornalista e diretor da ProCana, Josias Messias, tendo como patrocinadores as empresas de tecnologia AxiAgro e S-PAA, o evento online reuniu um experiente grupo de conselheiros que já atuam no setor: Jacyr Costa, presidente do Cosag/Fiesp e conselheiro da Uisa e Usina Caeté, Milzíade Malgoska Sei, sócio Fundador da G2S – Governança, Gente & Sucessão, Pedro Mizutani, conselheiro de Administração em diversas empresas e Renato Gennaro, fundador e CEO da MAC Gestão.

Agir mais motivado pela razão do que pela emoção, tem contribuído para a contabilidade das empresas

 Milzíade da G2S destacou que as atividades das empresas do Agro têm um impacto ambiental muito grande e muitas ações vêm sendo desenvolvidas neste sentido. O problema, segundo ele, é que muitas vezes essas questões não são trabalhadas de forma integrada.

“As nossas usinas vêm cada dia mais maximizando o uso de recursos e aproveitamento de resíduos. A questão da poluição já enfrentamos há muitos anos e essas questões estão sendo mitigadas ou até eliminadas. Na questão social, da mesma forma que a ambiental muito tem sido feito, só que não de forma integrada. Temos as questões do impacto das nossas atividades na comunidade, questões de saúde e segurança, sempre muito visadas com relação aos direitos dos trabalhadores.

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Pedro Mizutani

Na questão da governança o que que se olha um pouco mais no detalhe, é que tudo nasceu com esse foco no direito dos acionistas, gestão de riscos, transparência do modo geral e mais recentemente nós temos trabalhado muito nos Conselhos as questões de corrupção ou anticorrupção”, informou.

Para Pedro Mizutani um fator que tem corroborado para a importância dos Conselhos nas empresas é que ao agir mais motivado pela razão do que pela emoção, tem contribuído para a contabilidade das empresas. “Os conselhos administrativos ajudam nesse aspecto de tomada de decisões estratégicas, trazendo ainda na bagagem experiências vivenciadas em outras empresas”.

Mizutani destaca ainda, a importância da diversidade, e da participação de jovens nos Conselhos. Com relação a longevidade do conselheiro, ele defende a permanência no posto por um período pré-determinado.

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“Um conselheiro não pode ser eterno na empresa. Não pode ser conselheiro de 10 anos. O ideal é que ele permaneça três, no máximo quatro anos, porque você já deu a sua contribuição na empresa. Ao final desse período o conselheiro deve buscar novos horizontes, sob o risco de ficar viciado naquele processo, e a empresa acaba não saindo do lugar. É preciso abrir espaço, dar oportunidade, para a vinda de um novo conselheiro, que possa lançar um novo olhar, ter um

Josias Messias

a outra visão, que pode contribuir e ajudar a empresa. Portanto, estabelecer um período de atuação, é importante na formação dos Conselhos”.

Dentro da questão da diversidade, Josias Messias destaca que “um dos critérios de boas práticas, foi isso que o Pedro falou. A diversidade, não apenas do ponto de vista de sexo, de competências, mas também de percepções, ou seja, o Conselho é o lugar onde você pode reunir massa crítica, que se eventualmente menosprezada, pode gerar risco estratégico.

Messias lembra também algumas boas práticas de transição, sugeridas pelo IBGC. “Se uma empresa é familiar, antes do Conselho de Administração seja formado um Conselho de Família, para separar aquilo que é patrimônio daquilo que é negócio, separar os papéis. Então dar o primeiro passo com um Conselho Consultivo, ao invés de ser um Conselho de Administração, já que não tem uma exigência legal e você pode caminhar no sentido de criar um componente catalisador e não desagregador”.

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Renato Gennaro

Para Jacyr Costa, as mudanças estão ocorrendo de uma maneira muito rápida e a gente vê com exemplos efeitos que não só o nosso setor sofre, mas o modo geral de toda a economia quando a guerra Rússia e Ucrânia eclodiu, modificando completamente o cenário. O nosso setor deixou de ser intensivo em mão de obra como era no passado, para ser hoje de acesso ao capital, e as informações que dão segurança para os investidores do mercado financeiro aceleraram a formação de conselhos.

“As mudanças que estão ocorrendo, a necessidade de acesso a capital que hoje passou a ser um fator competitivo muito importante, visto a alta dos juros, você tem acesso ao capital mais competitivo, fundamental para que você tenha competitividade e perenidade dos seus negócios”, disse.

“O que eu vejo hoje, quando você fala da vertente financeira, acaba acelerando esse processo de formação dos conselhos. As empresas têm o objetivo de gerar lucratividade”, afirma Renato Gennaro.

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Jacyr Costa

Um consenso entre os participantes do webinar, é que essa transição de gestão familiar para profissional e implementação dos Conselhos Administrativos precisa ser acelerada. As usinas precisam ajustar seus sistemas de governança corporativa, para que elas possam reagir a tempo, diante das pressões impostas pela sociedade e também para obter e capturar benefícios financeiros e comerciais dessas pressões, evitando sofrer as consequências.

Para Milzíade “as novas gerações pessoas aí na faixa e de seus 30, 35, 40 anos esse pessoal já vem com uma ideia diferente. O grande desafio é convencer as gerações anteriores da importância dos temas que nós estamos discutindo aqui”, disse.

O conselheiro Jacyr Costa destacou também a evolução que o setor sucroenergético vem protagonizando nos últimos anos. “Há 50 anos atrás éramos produtores de açúcar, depois nos transformamos em produtores de açúcar e de etanol, biocombustível na década de 2.000 como bioeletricidade.  Hoje já está se falando do biogás. Nosso setor está cada vez mais sustentável e hoje temos uma pluralidade de mercados. Nossa vocação é a vocação ambiental”.

Esta é a matéria de capa do JornalCana de junho. Para ler, clique AQUI!

 

 

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