Mercado

Diversidade energética brasileira

A experiência brasileira na diversidade do uso de combustíveis – diesel, gasolina, álcool, GNV e o incipiente biodiesel – atrai a atenção internacional e será abordado no 23º Congresso Mundial de Gás Natural, em junho, em Amsterdã. Nos EUA, o Senado tem debatido opções de combustíveis, como as alternativas energéticas brasileiras, por causa, sobretudo, da preocupação com o elevado preço da gasolina naquele mercado. Se o Brasil consegue, por que não nós?- indagou um apresentador de TV. No caso específico do gás natural, as reservas nacionais comprovadas demonstram que o insumo está disponível em volumes representativos, enquanto o petróleo começa a apresentar um certo esgotamento de suas reservas no mundo. Associado a isso, a política de preços do gás não está sujeita às ingerências de cartéis, como no caso do petróleo, com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

Além dos grandes consumidores, como os EUA e o Japão, o crescimento de economias emergentes, como a da China, tem elevado a demanda por energéticos em enormes quantidades, uma das razões pela qual o preço do petróleo tende a atingir patamares elevados.

A maior demanda por energéticos em todo o mundo, contudo, provém da área de transportes. O crescimento e o desenvolvimento sustentado de países como o Brasil, a Índia e o Paquistão, regiões de grandes desigualdades, dependem do fornecimento de energia em quantidade suficiente e dimensionam a importância social do gás natural veicular (GNV). O combustível tem papel relevante na expansão da indústria e contribui para a viabilização econômica da estrutura de distribuição para os demais usos.

Derivados de petróleo são reconhecidamente um dos maiores causadores da poluição urbana. Os veículos acionados a gás natural reduzem drasticamente o impacto ambiental. A substituição do diesel por GNV num caminhão coletor de lixo, por exemplo, tem o mesmo efeito que retirar 325 automóveis a gasolina de circulação, em termos de redução da poluição atmosférica. O ruído produzido por motores a diesel também é reduzido em mais de 50%. Recentemente, o professor José Alencar Oliveira Júnior, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), doutor em Engenharia de Transportes, advertiu em estudo que as mudanças climáticas causadas por emissões de carbono na atmosfera agravam fenômenos climáticos, como secas intensas, e catástrofes de inundações, como as que vêm ocorrendo na Europa e na China. Alerta ainda para a necessidade de reduzir os poluentes atmosféricos e de efeito estufa, que provocam o aquecimento global, destacando o GNV como alternativa para o transporte coletivo. O Brasil precisa de incentivos para essa troca.

Outro fator a ser considerado é a economia. O custo de conversão de veículos para GNV, tornando-os bicombustíveis, é compensado pelo ganho não só com o preço do gás, mas também com a eficiência de seu uso. Hoje, com R$ 10, o proprietário de um veículo flexfuel roda aproximadamente 36 km, enquanto o de um mesmo modelo com GNV circula até 103 km.

O consumo de gás para uso veicular na matriz energética brasileira é da ordem de 13% da demanda total, depois do industrial e do térmico. A despeito de ter-se cogitado que o suprimento para o mercado de GNV não é prioritário, em face da ocorrência de um possível colapso da oferta de energia hidrelétrica, não há nenhuma garantia de que o volume a ser desviado do consumo veicular para outros segmentos supriria o

gap de oferta, no caso de uma crise de energia.

O GNV não é concorrente dos demais combustíveis. É alternativa, com enorme potencial de expansão, gerador de milhares de empregos e âncora de desenvolvimento social e econômico, necessitando de investimentos imediatos. Sobretudo na exploração das reservas nacionais, produção e transporte, o que poderá elevar o Brasil à categoria de maior fornecedor de energéticos do mundo, a partir de recursos próprios.

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