Mercado

Créditos de carbono dão lucro em seringais

Depois da cana-de-açúcar, é a seringueira que promete render divisas aos produtores brasileiros no recém-criado mercado de créditos de carbono. Assim como Malásia e Tailândia, os maiores países produtores de borracha natural do mundo, as associações do setor no Brasil conseguiram o aval da ONU – Organização das Nações Unidas – também para os seringais nacionais.

Segundo o engenheiro florestal Tarcísio José Gualberto Fernandes, que defendeu uma tese de mestrado sobre o assunto, a seringueira pode seqüestrar 1.109 toneladas de gás carbônico equivalente por hectare, que são mantidos na biomassa por 30 anos. No eucalipto, também cotado para a geração de créditos, o volume chega a 320 toneladas/hectare.

Além disso, a borracha natural, que é extraída da seringueira, substitui a borracha sintética, um derivado do petróleo. Nesse caso, a seringueira também se enquadra nos créditos por emissão evitada – o mesmo caso da cana-de-açúcar, já que o álcool é um combustível renovável capaz de substituir a gasolina.

Os Certificados de Emissões Reduzidas, ou créditos de carbono, são um mecanismo de flexibilização para que os países desenvolvidos sigam os parâmetros adotados pelo Protocolo de Kyoto. Ao invés de reduzir a emissão de gases poluidores, esses países financiariam projetos para absorver CO2 da atmosfera.

Para Wanderley Sant Anna, presidente da Associação Paulista dos Produtores e Beneficiadores de Borracha, os recursos obtidos com o crédito de carbono poderão financiar a expansão da cultura do país, que hoje ocupa uma área estimada em 90 mil hectares. Cada novo hectare custa R$ 6 mil e a seringueira demora sete anos para dar retorno.

Por isso a oportunidade chamam a atenção dos produtores. A OMB, dona do segundo maior seringal do país, está finalizando seu projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). O objetivo é substituir 2 mil hectares de pastagem, com baixa absorção de carbono, por seringueiras.

Levando em conta os US$ 0,98 por tonelada de carbono indicados pela bolsa de Chicago, esse projeto poderia significar US$ 2 milhões em recursos para a empresa. Já o Banco Mundial quantifica a tonelada em até US$ 5 por hectare. Nesse caso, a OMB obteria US$ 10 milhões.

“A seringueira é uma cultura de longo prazo. E não há o conceito de financiamento de longo prazo no Brasil. Os créditos de carbono minimizariam os custos iniciais da implantação dos seringais”, diz Carlos Alberto Soares, diretor-superintendente da OMB. O projeto passará por uma certificação florestal e pela aprovação do governo federal.

“Será uma longa estrada para o setor”, diz Sant Ana, referindo-se às dificuldades para a regulamentação dos créditos de carbono. Segundo José Miguez, secretário-executivo da comissão interministerial do governo que trata das mudanças climáticas globais, as regras de como o reflorestamento será utilizado no mercado de créditos de carbono só devem ser definidas em reunião que acontecerá em dezembro.

Miguez explica que há dúvidas sobre o que acontece quando a árvore morre ou é destruída por um incêndio, liberando novamente o CO2. “É um crédito de natureza temporária”. Além disso, os EUA – maiores poluidores mundial – e a Rússia se recusam a assinar o Protocolo de Kyoto.

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