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“QUEM ME VALERÁ?”

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Neste Brasil de dimensões continentais e dialetos mil, a expressão “Quem me valerá?” é bastante utilizada pelo sertanejo nordestino nos momentos difíceis pelos quais ele costumeiramente passa. No caso, este lamento típico significa um verdadeiro pedido de socorro aos céus ou a alguma boa alma. Quem, neste mundo de meu Deus, ou o próprio, estenderá a mão?

É neste estado de espírito que se encontra hoje boa parte dos nordestinos, que sofrem pela seca insistente ou pelo descaso dos poderes. No caso do setor em si, há subsídios que vão e vem (veja na página 81), água da chuva que não vem — ou quando vem a safra do ano já foi — e o desânimo é tal que nem mesmo os filhos de grandes fornecedores querem dar sequência à carreira dos pais no canavial (página 82).

“A seca é o desequilíbrio climático imponderável que requer árduos mecanismos de prevenção e convivência. O problema prejudicou os rendimentos nos canaviais e consequentemente, retraiu futuros investimentos. Portanto, certamente, pelos próximos dois anos, teremos quebra na produção”, antevê Renato Cunha, o presidente do Sindaçúcar de Pernambuco (página 81).

Os fornecedores insistem, amam o setor e seu pedaço de chão. Mas admitem que estão entregando os pontos. Alguns estão mudando de atividade e outros geograficamente. Apenas em Pernambuco, das 42 usinas existente há vinte anos, hoje apenas dezoito estão moendo e prevê-se que mais cinco ou seis desligarão definitivamente a chave geral da indústria nos próximos três anos. Os fornecedores, por sua vez, assediados pelo alto valor que suas terras — na maioria situadas próximas do litoral ou dos grandes complexos comerciais, imobiliários e industriais — agregaram, já admitem vendê-las, como alguns já têm feito, e migrar para outra atividade, como a criar bois no Pará, por exemplo, como alguns também têm feito.

Enfim, diante do dilema exposto acima, pergunta-se: é possível ainda fazer alguma coisa? Será possível recuperar o setor do Nordeste e fazê-lo voltar aos seus momentos de glória? Nós do JornalCana cremos que sim. Resta saber a quem cabe este papel?

Quem assumirá esta retomada? Talvez uma solução esteja na formação de um triunvirato entre governo, usinas e fornecedores. O triunvirato, por definição, é formado por três forças em pé de igualdade, mas no caso, aqui, os fornecedores não estão no mesmo nível de força das usinas e tampouco as usinas no mesmo nível de poder do governo. Mas cada um pode oferecer sua contrapartida nesta empreitada de salvar o setor nordestino da falência completa.

Se algo não for feito agora que extrapole medidas paliativas de salvação como as recentes, o setor sucroenergético nordestino, hoje claudicante, em breve ficará concentrado nas mãos de seis ou sete grupos hoje um pouco maios fortes mas que, por sua vez, também continuarão a sentir na pele as mesmas agruras até que capitulem.

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