JornalCana

Produtores buscam alternativas para vencer desafios da safra 21/22

Diante da iminência de uma crise hídrica, agravada pela pandemia da Covid-19, o setor sucroenergético busca soluções para manter indicadores da safra positivos

Equilibrar custos e investimentos. Aprimorar a qualidade do produto. Investir em gestão de pessoas. Esses foram alguns pontos abordados por especialistas do setor sucroenergético que participaram da 4ª Estratégica do JornalCana com o tema: Custos, Perdas e Gestão Agroindustrial – Os desafios da safra 21/22, realizado no dia 2 de junho.

Sob a mediação do jornalista e diretor do ProCana, Josias Messias, o webinar contou com a presença de Denis Arroyo Alves, diretor executivo da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (ORPLANA); Guilherme Leira, diretor da Support Engenharia; Luiz Antonio Magazoni, diretor industrial da Usina São Domingos e Luiz Paulo Sant’Anna, diretor geral da Cevasa – Central Energética Vale do Sapucaí Ltda.

O evento online teve patrocínio da AxiAgro; GDT by Pró-Usinas; HRC; Project Builder e S-PAA Soteica.

Denis Arroyo, diretor executivo da ORPLANA

Para Denis Arroyo, diretor executivo da ORPLANA, que reúne 31 associações com mais de 12 mil produtores, na área de cana 90% do custo hoje é fixo. “Então você tem duas maneiras de trabalhar o custo:  o reais por hectare que precisa tentar diminuir através das compras, aquisições e operações e o segundo é ganho de produtividade que vai impactar diretamente na diluição desses custos.

De acordo com pesquisa realizada pela entidade, um dos fatores que implica de forma positiva na produtividade é a rotação de cultura. “Ela cresceu da safra passada para essa, alcançando 81%, com crescimento da soja e amendoim. Então o primeiro recado é que o produtor investiu em rotação e isso é muito bom. Outro ponto são os tratos culturais. Quando o produtor consegue uma remuneração melhor, como foi no último ano, elevando o controle das pragas.

Arroyo adverte, no entanto, que em relação à safra anterior, a produtividade será menor. E com base nesses dados a mensagem que ele deixa é: teremos uma produção menor, uma produtividade menor com reais por hectare, que tende a ser maior pressionado principalmente na questão de insumos e custos operacionais.

Segurança no Trabalho

Para Guilherme Leira, diretor da Support Engenharia, que desenvolve um trabalho de diagnosticar a área industrial, na busca de ganhos, sem que seja necessário a injeção de muitos recursos, uma questão muito importante é atenção com a área de Segurança no Trabalho.

“É preciso fortalecer alguns conceitos básicos como: identificação dos possíveis perigos, avaliação dos riscos, elaborar um plano de mitigação para anular a materialização do incidente ou acidente, treinar as pessoas envolvidas e acima de tudo desenvolver a cultura de cuidar uns dos outros.

Com relação a perdas no processamento industrial, Leira destacou que elas ocorrem com maior incidência na fermentação, seguidas pelo bagaço e na sequência pelas perdas indeterminadas. Lembrando também das ocorrências das águas residuárias, água dos multijatos, da lavagem de esteiras, torta e destilação. Segundo Leira, boa parte dessas perdas pode ser reduzida, sem a elevação de custos, desde que haja um bom trabalho de gestão e planejamento das ações.

“Tem gente que reclama que não tem dinheiro, que não dá para comprar, que não sei o que, e quando você faz uma análise dentro da área industrial, você começa achar pontos que não é possível que alguém não tenha visto aquilo. E eles são pontos que te trazem um ganho muito grande, que trazem o equilíbrio do processamento”, afirmou.

Em tempos de redução de custos, a Usina São Domingos vem apostando na simplicidade, transparência e envolvimento dos profissionais, para manter a produtividade e o equilíbrio de suas receitas. Prestes a completar 69 anos, a São Domingos foi a primeira usina de açúcar da região de Catanduva e ao longo desse período vem se destacando no desenvolvimento de processos sustentáveis em bioenergia.

Coquetel de enzimas

Luiz Antônio Magazoni

Segundo o diretor industrial, Luiz Antônio Magazoni, a usina bateu alguns de seus recordes na safra do ano passado: 2.600.368 toneladas de moagem, com a produção de 230.000 toneladas de açúcar, batendo também o recorde de produção de energia com 21.521 Mwh. Apesar desses dados positivos, Magazoni adverte que a crise hídrica que se avizinha neste ano, com certeza vai trazer muitas dificuldades. “Em 2021 tivemos uma chuva de reposição em janeiro e fevereiro, e desde março as águas se foram e ainda não voltaram, e estamos vivendo uma época seca.

Uma das alternativas encontradas pela usina, foi a utilização de um coquetel de enzimas, para melhorar a qualidade do produto. Quando a cana vem deteriorada para fazer a cristalização na fábrica é muito difícil. E a enzima nos permitiu operar bem no ano passado e terminar a safra legal.

Em 2020 a companhia trabalhou com um índice de pureza da cana na casa de 86,10%. E até a segunda quinzena de maio deste ano, o índice de pureza está em 83%. “Veja bem os equipamentos são os mesmos, as pessoas são as mesmas, porém a pureza está três pontos percentuais abaixo e isso acaba afetando a qualidade. Com relação a nosso Mix, na segunda quinzena de maio do ano passado, estávamos com um Mix de açúcar de 67%, e nesse mesmo período deste ano ele caiu para 65%.

Com a utilização da enzima, o diretor informa que conseguiram manter no ano passado um bom nível de RTC, que também foi histórico, pois alcançaram 93,36%. “E estamos mantendo uma boa média também nessa quinzena de maio, em comparação ao mesmo período do ano passado com 94,70%.  Isso é resultado do envolvimento de toda a equipe. Estamos mantendo a maior constância possível, fazendo um trabalho bacana na lavoura no combate as impurezas, e enfim todo esse comprometimento tem contribuído para que esses números estejam bons”, finalizou Magazoni.

Em sua apresentação o diretor geral da Cevasa, Luiz Paulo Sant’Anna, defendeu um planejamento das ações dividido em três setores: Estratégico, que envolve a alta administração e onde são abordados: visão da empresa, orientação externa, ações de longo prazo, planos gerais e objetivos genéricos. O Tático, que abrange gerente e supervisores, centrado nas principais ações do departamento, e por fim o Operacional, que inclui os coordenadores, líderes e operadores, que trabalham com foco no curto prazo e busca de resultados específicos.

Luiz Paulo Sant’Anna

“Não se consegue fazer gestão e trabalhar desafios, sem que haja o envolvimento de pessoas, o que envolve além do aspecto técnico industrial, também o emocional e comportamental. O medo provocado pela pandemia deixou as pessoas muito vulneráveis emocionalmente. Estamos vivendo um período bem atípico. Você olha para Ribeirão Preto e tem lockdown. Você olha para Franca: lockdown. Você olha para Batatais: lockdown. Aí você olha para o nosso time e fala: como é que você vai pegar toda aquele trabalho técnico planejado para fazer acontecer esses indicadores, se as pessoas estão lidando com isso. Pessoas com sentimentos, medo e aflições”, elucidou.

Diante desse cenário, o diretor comentou que o objetivo do trabalho comportamental foi de trazer mais equilíbrio, pensando na família que é o que realmente importa. Esse trabalho inclui ainda o aspecto religioso já que os colaboradores estavam sentindo falta do culto ecumênico, que deixou de ser feito para evitar aglomerações. E para preencher essa lacuna, esse trabalho foi diluído em turnos. “Buscamos um trabalho voltado para a atenção total, como uma maneira de trazer um pouco de alento e conforto para as pessoas que estão realizando aquele plano de negócio que você tanto deseja”, afirmou.

Segundo Sant’Anna, o programa inclui também um trabalho de simplificação dos dados de perdas para que todos possam se conscientizar para ter uma dimensão real. “Ao invés de passarmos dados percentuais, nós transformamos esses números em bens. Por exemplo, ao invés de informar apenas o percentual 2.13, por exemplo, transformamos isso em equivalente a 194 cestas básicas. Para que os operadores possam assimilar os dados técnicos com mais facilidade”, conclui.

Joacir Gonçalves

 

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