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Presidente do CeiseBr desabafa: crise de fornecedores de serviços para usinas de cana continua

Após cinco anos de crise, que fez mais de 80 usinas de cana-de-açúcar pedirem recuperação judicial, o setor sucroenergético começa a respirar neste 2016. O consumo ainda crescente de etanol e o cenário externo de redução de oferta de açúcar contam a favor das usinas.

Mas apesar desse cenário, os fornecedores de bens e serviços para as usinas ainda não têm motivos para deixar a crise para trás.

Para esses fornecedores, os negócios com o setor sucroenergético só devem retomar crescimento na próxima entressafra. Porque nessa entressafra, que é mais curta para a temporada 16/17, não há qualquer avanço nos contratos de serviços para as prestadoras de serviços para as usinas.

Essa é apenas uma das afirmações do empresário Paulo Roberto Gallo, que assumiu no fim de novembro de 2015 a presidência do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (CeiseBr).

Confira mais na entrevista de Gallo ao Portal JornalCana

Gallo, presidente do CeiseBr: crescimento de serviços para fornecedores é esperado em 2017
Gallo, presidente do CeiseBr: crescimento de serviços para fornecedores é esperado em 2017

Diretor da empresa Servseth Automação Industrial Ltda., Paulo Roberto Gallo assume pela segunda vez o comando do CeiseBr. Fica na presidência da entidade pelos próximos três anos.

O CeiseBr, que tem abrangência nacional e representa um setor que apenas em Sertãozinho (SP) possui 450 empresas com CNJP industrial, tem assento na Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Açúcar e do Álcool, cuja primeira reunião de trabalho está programada para este mês.

Leia mais: CeiseBr tem novo presidente

Portal JornalCana – O setor sucroenergético registra uma entressafra mais curta, inclusive com mais de 30 usinas da região Centro-Sul sem interrupção de moagem. Como é esse cenário para os fornecedores de bens e serviços para o setor?

Paulo Gallo – É interessante saber que as usinas estão produzindo, por conta de um cenário de preços bons. E isso ajuda a manter a produção dentro do máximo possível. Iria sobrar muita cana em pé e aproveitou-se para fazer volume de produção e aproveitar preços. De um lado, isso é bom. Mas para as empresas fornecedoras, isso atrapalha porque normalmente quem mandaria os equipamentos para revisões na entressafra, não fez isso. Então, com o processo em andamento, ou com espaço muito curto para manutenção, fez o que deu para fazer dentro das próprias unidades e mandou menos serviços que seriam necessários para serem processados no parque industrial em Sertãozinho, em Piracicaba, nas cidades que atendem ao setor.

A entressafra curta não foi um bom negócio para os fornecedores de bens e serviços?

Paulo Gallo – Do ponto de vista imediato, não. Mas é bom sinal no sentido que as usinas melhoram o caixa e isso irá se refletir no futuro. No frigir dos ovos, pelo menos se tem um mercado que está querendo se reaquecer.

A recuperação que se espera ainda não veio?

Paulo Gallo – Não. Se nada acontecer, se não houver nenhum grande cataclisma econômico, e no Brasil se acorda cada dia com uma notícia diferente, a virada de 2016 para 2017 deverá ser positiva, bem consistente.

Por que?

Paulo Gallo – Isso porque mantendo-se essa tendência de preços, tanto do etanol quanto do açúcar, consegue-se gerar caixa ao longo do ano para consertar o estrago lá de trás. É como o profissional que ficou um bom tempo desempregado, por três a quatro anos, e de repente arruma um emprego bom. Aí ele começa a ganhar bom dinheiro, mas ele tem todo esse período para consertar os três a quatro anos que ficou devendo junto a bancos. Então, primeiro teremos de ver as usinas consertarem o problema financeiro do passado para que possam retomar investimentos. O fato positivo é que depois de cinco a seis anos, pelo menos a tendência é de melhora.

Que tipos de ações o CeiseBr têm pela frente em favor dos fornecedores do setor?

Paulo Gallo – Embora o CeiseBr não seja entidade de controladores de usinas, tem interesse grande nesse setor porque nossas associadas atendem principalmente a esse segmento. Historicamente o CeiseBr tem várias ações de gerência política, porque o setor de açúcar e de etanol é muito dependente de políticas públicas. Isso porque estamos falando de energia elétrica, de consumo de combustível líquido, no caso do etanol.

Explique mais, por favor

Paulo Gallo – Um dos principais problemas enfrentados pelo setor nos últimos anos foi a política de preços da Petrobras, porque todo mundo sabe que a gasolina baliza o preço do etanol. Então foram de quatro a cinco anos terríveis com o preço da gasolina achatado para baixo, de uma maneira muito artificial, e o resultado está aí hoje que é a situação da Petrobras. Diante isso, por exemplo, o CeiseBr entende que devemos fazer gestões.

Há alguma ação programada junto ao governo federal?

Paulo Gallo – Neste mês de março irei a Brasília para a primeira reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Açúcar e do Álcool, órgão vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e que tem um profissional da região, Ismael Perina Júnior, como comandante. O CeiseBr é a única entidade representante da indústria nessa Câmara. O objetivo é ajudar a estabelecer políticas de governo. Na verdade, gostaríamos que isso virasse política de Estado, porque quando vira de Estado independe-se de quem está no poder.

O que pode ser avaliado nessa primeira reunião?

Paulo Gallo – Temos ações visando exportações. Fechamos recentemente um convênio com o Arranjo Produtivo Local do Álcool (Apla), com sede em Piracicaba (SP) e cujo objetivo é fomentar exportações. É um órgão setorial, que trabalha junto com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) em eventos para levar nossos produtos ao exterior e que também trazem compradores. Isso é muito importante.

Fale mais a respeito

Paulo Gallo – Em agosto próximo, por exemplo, temos a Fenasucro [feira de fornecedores para o setor], e durante o evento trazemos compradores potenciais indicados pelo próprio grupo que compõe o Apla, que são as empresas fornecedoras. E esse compradores vêm ao Brasil custeados pelo governo brasileiro. Não gastam para vir para cá. Esses estrangeiros representam usinas do exterior e o Apla, nesse aspecto, é um facilitador. Para esse ano, temos programadas dez ações, uma no país (na Fenasucro) e as demais para países como Argentina, Equador e para a África.

E a Europa?

Paulo Gallo – Também temos ações previstas para a Europa, porque grande parte do financiamento dos novos projetos estão previstos para acontecerem na África e são irrigados com dinheiro europeu. A África pode se tornar um mercado importantíssimo para a gente. Sabemos que iremos concorrer com indianos e chineses, para fornecer plantas de etanol e de açúcar, e queremos sentar com os investidores para mostrar nosso diferencial.

Há ação do CeiseBr com o BNDES?

Paulo Gallo – Sim, para facilitar essas exportações. Isso porque o chinês e o indiano têm muita facilidade de crédito no exterior, e isso com juro internacional.

Fornecer bens e serviços é uma estratégia?

Paulo Gallo – Sim, porque enquanto aqui [no Brasil] dentro está recessivo, temos uma vantagem muito grande do câmbio, uma vez que o real está desvalorizado, e consegue-se vender em dólar a um preço bem mais competitivo. A gente acredita que mesmo com a situação do preço baixo do petróleo, isso é uma tendência de curto prazo. Não pode ficar desse jeito porque pode afetar os planos de sustentabilidade internacional.

Em abril, na capital paulista, o senhor participará de rodada de debates de evento da consultoria F. O. Licht. O que será discutido? 

Paulo Gallo – O objetivo principal do dia que estaremos fazendo apresentação é discutir competitividade e produtividade. Atuamos no setor há vários anos, mas se percebe que há espaço para melhorar a questão, principalmente com relação à gestão de processos. Não são apenas processos industriais, mas também na cana, que é a base de tudo. Percebemos que há condições de melhoria na gestão do processo como um todo. E vamos tentar debater quais serão os caminhos para isso.

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