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“Perspectivas para o setor sucroenergético nunca foram tão positivas”, afirma Mário Campos, presidente da associação das indústrias de cana de Minas Gerais

Mário CamposNo começo de maio último, Alexandre Carvalho, diretor de agronegócio do Itaú BBA, projetou em evento da consultoria F. O. Licht que a dívida líquida do setor sucroenergético beira os R$ 100 bilhões. Em 2015, esse volume negativo estava em R$ 95 bilhões, conforme o próprio banco de atacado do Itaú.

O endividamento financeiro do setor de usinas de cana-de-açúcar fica ainda mais preocupante com as recentes altas do dólar, já que boa parte das dívidas são dolarizadas.

Ao cenário de endividamento em alta, há a retração econômica do País, na qual o consumo de combustíveis ameaça fechar o ano em queda que pode chegar a 10%. Há também o cenário político federal, que está em fase de reorganização e afeta diretamente a economia no curto prazo.

Apesar da situação de revezes, o executivo Mário Campos, que preside a Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), afirma: “as condições macroeconômicas para o setor sucroenergético nunca estiveram tão positivas.”

Na entrevista a seguir para o Portal JornalCana, Campos explica os motivos de seu otimismo em relação ao setor sucroenergético.

Portal JornalCana – Assim como em outros estados canavieiros, a safra de cana-de-açúcar 2016/17 começou antes em Minas Gerais, que possui 36 unidades produtoras. Completados dois meses do início da moagem, como vai a safra?

Mário Campos – A safra está bem adiantada. A qualidade da matéria-prima está bem acima da qualidade da cana-de-açúcar da temporada 15/16. [Por conta do início antecipado da moagem] a produtividade agrícola registra perdas, mas o rendimento de Açúcares Totais Renováveis (ATR) por quilo tem sido superior ao registrado na safra anterior.

É possível citar informações da safra?

Mário Campos – Por definição do Siamig, houve a decisão de divulgar mensalmente informações sobre a safra. Assim, até o fim desta quinzena deveremos divulgar dados referentes ao mês de maio.

Como está o mix das unidades?

Mário Campos – Em termos de mix, o açúcar, que este ano tem valor melhor que o etanol, depende das unidades. As que podem fazer mais açúcar, maximizam essa produção. Em Minas Gerais, as usinas nunca tiraram o pé do açúcar. O estado tem plataforma considerável de exportação, não tanto quanto os estados de São Paulo e do Paraná, mas Minas tem essa vocação.

Fale mais a respeito, por favor

Mário Campos – Mesmo com o açúcar mais favorável, vemos no mercado a recuperação do mercado de etanol com paridade adequada. Os preços do biocombustível para as usinas, até por conta do açúcar, têm registrado elevação nas últimas semanas.

Como assim paridade adequada?

Mário Campos – Não se precisa vender etanol hidratado com 60% de paridade, ou mesmo 66%. Em situações de dificuldades econômicas, como as registradas no País, o consumidor corre para o combustível melhor em preços. Precisamos é motivar o consumidor a usar etanol. Falta informa-lo.

Como fazer isso?

Mário Campos – Em Minas Gerais, deveremos reiniciar a campanha própria “Eu Vou de Etanol”, que deu muito certo em 2015. Mas agora será diferente em termos de consumo. No ano passado, tivemos a redução do ICMS sobre o biocombustível [caiu de 19% para 14% no estado] e o consumo foi maior. Este ano, a gasolina registra até queda de preços nos postos, embora o preço do etanol também tem caído.

E como incentivar o consumidor a usar hidratado?

Mário Campos – Se em 2015 o foco [da campanha] era econômico, relacionado ao preço, nesse ano, além do econômico, há as externalidades positivas do etanol. A [intenção] é usar mais o produto etanol, em campanha mais institucional, o que é importante. Colar o etanol na agenda ambiental e, apesar da crise, o Brasil terá de discutir isso porque é macro-tendência mundial. E nisso entra a agenda de taxa de carbono, composição da Cide.

A disposição de ofertar mais açúcar, para aproveitar os preços bons, não pode afetar o etanol?

Mário Campos – No futuro o setor será grande fornecedor de açúcar, por isso terá de aumentar a oferta. Para o etanol, a tendência é a de ampliar a oferta no mercado interno, até porque cai a produção de petróleo. E essa queda força a maior importação de gasolina, o que, por sua vez, afeta o País em suas obrigações de cumprimento das metas ambientais [que são favorecidas com o etanol].

Há outra sinalização positiva do setor?

Mário Campos – Sim, a bioeletricidade tem tendência extraordinária, também com foco na agenda climática.

Que mais?

Mário Campos – Apesar do alto nível de endividamento, as perspectivas macroeconômicas para o setor sucroenergético nunca estiveram tão positivas. É preciso a união do setor em favor dessas agendas, porque somos produtores de commodities, não temos o consumidor na ponta, mas somos indutores de nossos produtos.

Qual sua receita?

Mário Campos – Temos que seguir mostrando o açúcar, que é melhor e mais barato diante outras soluções, e defender o etanol como possibilidade brasileira, além de defender a bioeletricidade como energia não só limpa, mas que, comparada as outras, gera muito mais empregos.

 

Previsões da safra em Minas Gerais: 

 

Safra 2016/17:

Moagem: 65,5 milhões

Mix: 41,2% para açúcar

58,8% para etanol

Açúcar: 3,5 milhões de toneladas

Etanol: 3,0(?) bilhões de litros

ATR: 136 k/t

 

Safra 15/16:

Moagem: 65,04 milhões de toneladas (1% abaixo da 16/17)

Mix: 39,4% açúcar

Açúcar: 3,25 milhões de toneladas (7% abaixo)

Etanol: igual a prevista para a 16/17

ATR: 132 k/t

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