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O maior objetivo é garantir que o RenovaBio se torne realidade

Em entrevista exclusiva ao JornalCana, Evandro Gussi, novo presidente da UNICA, afirma ser favorável à manutenção da taxação sobre o etanol importado e garante: há tempo suficiente de regulamentar o RenovaBio para que entre em vigor em 2020

Como o pai do projeto que deu origem à lei do programa de Estado RenovaBio se sente na presidência da principal entidade representativa do setor sucroenergético brasileiro? 

Antes de mais nada, sempre rejeito o título de pai do Renovabio. Ele é uma obra construída a muitas mãos, tanto do setor público como da iniciativa privada. Tenho a grande satisfação de ter contribuído como seu autor, na Câmara dos Deputados, pois se trata de uma política moderna, que vai levar o Brasil a outro patamar em relação à segurança energética, ampliando a participação de fontes de energia nacionais e renováveis, como é o caso do etanol. Sob a perspectiva setorial, o RenovaBio trará maior previsibilidade para o setor e, com isso, atrair investimentos e avanços em eficiência.

Quanto à presidência da UNICA, que assumi em fevereiro, é uma honra poder fazer parte deste setor único no país, a partir de uma entidade que, afora seu tamanho, é um símbolo de credibilidade. Somos, por nossas práticas e por nossos produtos, um exemplo de modernidade e de sustentabilidade, que deve ser reconhecido como um orgulho nacional.

Quais suas principais prioridades no curto prazo (até o fim de 2019) à frente da Unica?

O meu trabalho na UNICA será focado em garantir que o setor tenha tranquilidade para trabalhar e mercado para vender seu produto. Nesse sentido, temos frentes de trabalho nacionais e internacionais. Na frente nacional priorizamos para 2019 o andamento da regulamentação do RenovaBio junto aos órgãos competentes.

O setor sucroenergético brasileiro enfrenta várias ações de outros países, como subsídios a produtores da Índia. Como a UNICA deve enfrentar essas questões?

Já estamos atuando nos casos da tarifa de salvaguarda da China e do subsídio à exportação na Índia e na Tailândia para o açúcar. Além disso, temos como prioridade concluir o acordo com o Mercosul e com a União Europeia e garantir a inclusão do açúcar no Mercosul, único produto que está totalmente fora das regras de comércio do bloco.

Quanto ao etanol, nossa posição é que todo o volume importado seja taxado. Somos autossuficientes em etanol, China e União Europeia já colocaram suas taxas sobre o etanol norte-americano.

O Brasil tem que ser firme. Se os Estados Unidos querem abertura de mercado, eles têm que fazer o mesmo, abrindo o mercado para o nosso açúcar. Sem contrapartida real e equânime, não parece haver espaço para negociação.

Como o sr. deve conduzir as relações da UNICA com o Governo federal e com o Congresso Nacional?

Temos trabalhado para garantir regras claras e previsíveis para o setor. A minha intenção é manter os relacionamentos já construídos pela UNICA e intensificar o trabalho de relações institucionais, sempre seguindo uma cartilha estrita de compliance. Nosso maior objetivo é garantir que o RenovaBio se torne realidade.

Há tempo de o RenovaBio entrar em vigor em janeiro de 2020, como previsto no cronograma inicial? 

Sim. Até agora todas as datas legais foram cumpridas. Estamos identificando um grande comprometimento das instâncias competentes com o cronograma estabelecido.

O açúcar, que vem de anos de superávit de oferta mundial, cedeu o mix para o etanol nas unidades durante a safra 18/19. Em sua opinião, a safra 19/20 tende novamente a ser mais alcooleira? 

Dado os preços do açúcar no mercado internacional, desde setembro de 2017 as empresas aumentaram a produção de etanol e reduziram a de açúcar. No período de abril de 2018 a janeiro de 2019, a remuneração do etanol hidratado teve um preço relativo 19% superior ao açúcar VHP no mercado externo e o etanol anidro de 26%.

O resultado financeiro das empresas variou conforme a flexibilidade de cada unidade de produzir mais ou menos açúcar.

São muitos fatores a serem levados em conta para fazer previsões para a nova safra, alguns deles ainda indefinidos.

Contudo, a percepção neste momento dos agentes de mercado é de que possamos ter um preço de açúcar um pouco melhor no cenário internacional, pela tendência de reversão do quadro de superávit para déficit. Se essa previsão se consolidar, é possível que haja uma reversão para açúcar na próxima safra.

De todo o modo, é cedo para fazer uma projeção assertiva do que vai acontecer no mercado mundial e englobando todos os demais fatores, como taxa de câmbio, preço do petróleo, condições dos canaviais etc. O período da safra mundial de açúcar é de outubro a setembro e o nosso é de abril a novembro, então teremos um cenário mais definido em setembro de 2019, quando começará a nova safra mundial.

O açúcar também enfrenta adversários como adoçantes e queda gradativa mundial de consumo. Há como reverter essa situação? 

Mundialmente, tem sido observado um crescimento de 1,5% ao ano no consumo de açúcar. Ainda que haja uma redução nos países ricos, temos mercados com demanda em expansão, como África e o Leste e Sul da Ásia.

Nessas regiões, o açúcar é uma fonte importante de energia e tem seu consumo incrementado por movimentos de urbanização e aumento do consumo de alimentos industrializados. De todo modo, é importante tratar as relações entre açúcar e saúde com honestidade intelectual.

O problema da obesidade está ligado a uma série de fatores para além do consumo de açúcar, como estilo de vida e sedentarismo.  A UNICA participa de discussões sobre a regulamentação do uso de açúcar em produtos industrializados. Apontamos que o estabelecimento de restrições deve ser feito com cautela, pois o caminho mais acertado é oferecer informações nutricionais para que o consumidor possa fazer suas escolhas.

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