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O assunto remuneração tratado com menos tabu e trauma

dinheiro (2)

Em épocas de valorização e reconhecimento de melhores profissionais, aqueles que as empresas não podem perder por tratar-se de pessoas que realmente fazem a diferença no negócio, o item remuneração é constante desse assunto e precisa ser urgentemente revisto quanto à forma de tratamento e gestão.

Não estou aqui falando de novidades na área e na prática de remuneração. Com certeza temos muito a evoluir nesse sentido ainda em algumas realidades onde o tradicionalismo ainda impera, muitas vezes por esbarrar em questões legais que não têm permitido maiores avanços. Mas isto é muito polêmico e nem vou entrar aqui nessa esfera. Estou falando de algo mais simples que é o como tratar esse assunto, da parte de ambos os lados da relação de trabalho, com mais leveza, profissionalismo, transparência e assertividade.

Há quem sonhe, e nesse grupo eu me incluo, que vai chegar um tempo onde profissionais e empresas farão negociações individuais no momento da contratação ou de um enquadramento salarial no cargo, baseadas em muita maturidade e profissionalismo. Isto sim será uma grande evolução e prática do verdadeiro reconhecimento individual, já que as pessoas são diferentes e dão tons diferentes nos cargos que ocupam. Diz-se ser esta a forma mais justa de valorização de profissionais pelo conjunto da obra, a qual este investiu e se aprimorou por muitos anos, na busca de fazer uma entrega diferenciada.

Mas enquanto isto não acontece (e não vamos perder essa nobre prática de vista), podemos pelo menos tratar o assunto de forma mais transparente, dentro das bases traçadas na relação de trabalho. Vou explicar. Ainda hoje, pessoas têm medo de falar em salário com seus superiores e estes fogem de tocar no assunto ou se colocar disponíveis para tratá-lo no dia a dia. Muito disso se dá porque as empresas não têm um plano claro de crescimento no cargo e em carreira, mas nada impede que as pessoas possam ter informações e tirarem suas dúvidas, mesmo que ouçam um não. Pelo menos são ouvidas, recebem uma resposta e se sentem respeitadas. Mesmo que não ouvem o que gostariam. Isto é fato!

Trabalhei 16 anos somente com remuneração e ainda participei de inúmeros processos relacionados à gestão de clima organizacional. Sempre que pesquisas de clima eram realizadas, o item salários era sempre um dos mais mal vistos. Mas a tradução disso nem sempre dizia respeito a salários baixos. Aliás, quase nunca. A referência a esse assunto sempre estava calcada em dois fatores: o de fazer justiça, diferenciando os melhores no cargo (pessoas não aceitam ganhar menos ou igual a outras que elas entendem como menos competentes que elas); e o de ter informações sobre suas possibilidades de crescimento de cargo, salário e oportunidades de carreira. Essas eram as verdadeiras reclamações. E ainda são, diga-se de passagem.

As pessoas nas empresas são hoje muito mais bem informadas do que eram antes. Elas acompanham e sabem das crises, das dificuldades, do mercado e têm elementos para comparar o que ganham com outras situações. Então volto a dizer que o problema não é isso. Claro que temos sim empresas que ainda remuneram as pessoas abaixo do mercado ou com salários irrisórios, mas não é a grande maioria. Pessoas querem entender onde estão e para onde podem ir e quais são os critérios de crescimento.

Então, empresas e RH’s: vamos trabalhar e estimular a maior transparência no âmbito profissional, tendo menos medo, inclusive de perder o poder da informação restrita até então a nós, pois isto vai ajudar na evolução da gestão, das práticas, das relações e do amadurecimento profissional como um todo. E que tal começar na porta de entrada? Fico incomodada de ainda ver empresas, através das suas áreas de Recursos Humanos, não tratarem esse assunto de forma profissional desde a hora que vão captar alguém no mercado. E sempre buscando os melhores, mas tratando-os de forma padrão e dentro de paradigmas antigos e que hoje não deveriam estar aí.

Quem disse que não podemos falar o salário da vaga desde o primeiro contato? Qual a razão para nos dias de hoje (2014) alguém ainda perguntar sobre pretensão salarial? Por que esconder uma informação que já está estabelecida a alguém que você vai atrás e convida a participar do processo? Alguém que você viu um potencial diferenciando e que pode agregar ao seu quadro? Tudo isto só mostra como ainda estamos distantes de uma relação verdadeiramente respeitosa com as pessoas que virão ou já estão na nossa organização.

É hora de mudar e fazer diferente nesse assunto não vai tirar o poder da área, da empresa e dos gestores. Muito pelo contrário: a credibilidade será muito maior. O entendimento, o comprometimento e o respeito serão mútuos. Isto só pode gerar coisa boa, não é?

Faço um apelo para que empresas e profissionais de RH se reinventem no tratamento do assunto salário: trate-o naturalmente que vocês verão o resultado. Apaguem de vez, principalmente, a tal da pergunta de pretensão salarial. Isto só desmerece e deixa o candidato mais ansioso. Se a empresa já sabe quanto vai pagar pela vaga, não há o que esconder e regatear. Diga ao candidato que a vaga vale X desde o primeiro contato e aí a pessoa terá direito a optar por participar caso seja interessante para ela. Não vamos garantir nada, fazendo ainda dessa forma.

Com posturas mais transparentes e informações mais claras, tenho a certeza que a maturidade das pessoas emergirá naturalmente. Adultos querem ser tratados como adultos. Falamos da imaturidade vista cada vez mais e mesmo assim patrocinamos procedimentos e regras que não combinam com a era da valorização do capital humano, do conhecimento e da inteligência emocional.

Pratiquem o melhor e mais razoável, para que possamos, como área, contribuir para a tão sonhada e necessária evolução nas relações de trabalho.

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