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Mesmo com ciclo positivo, 44% dos grupos de usinas de cana seguirão no vermelho

O ciclo positivo esperado a partir de 2016, por conta do déficit na produção mundial de açúcar e do avanço do etanol no mercado brasileiro, não alivia a situação financeira de 44% dos grupos controladores de usinas de cana-de-açúcar no País.

A avaliação é de Alexandre Figliolino, diretor Comercial de Agronegócio do Itaú BBA, instituição pertencente ao Grupo Itaú. 

Levantamento do Itaú BBA revela a existência de 178 grupos no controle das 360 usinas de cana-de-açúcar em atividade na safra sucroenergética 2015/16.

“Grupos com nível de endividamento dentro dos padrões, estruturado, não todo dolarizado, que têm base operacional saudável, com canavial saudável, tendem a desalavancar [a partir do ciclo positivo previsto a partir de 2016]”, afirma Figliolino.

Pelas contas dele, 100 dos 178 grupos integram essa ‘legião’ de bem posicionados. “Será geração de caixa na veia das empresas.”

Os demais 78 grupos sucroenergéticos, emenda, seguirão no vermelho por conta do endividamento fora dos padrões. “Esses terão de apelar para pedaladas, para usar um termo que está na moda.”

Figliolino, em evento da Canaplan em Ribeirão Preto: muitos grupos terão de 'dar pedaladas'
Figliolino, em evento da Canaplan em Ribeirão Preto: ‘pedaladas’ serão a saída para muitos

 

Confira 10 avaliações do diretor do Itaú BBA:

1

O ciclo de expansão [do setor sucroenergético] virá a partir de 2018, sobre outra ótica. Mas, para ocorrer, precisa de bases sólidas para voltar a gerar confiança nos investidores. [O setor sucroenergético] é muito intensivo em capital. Fazer greenfield em região de fronteira exige muita confiança.

2

A CPMF é o boi de piranha da Cide. Se a primeira não passar, e vier o aumento da Cide, ajudará o setor sucronergético, que vem de crise há quatro anos. Outra ajuda vem do esperado aumento de preços de combustíveis para auxiliar a Petrobras.

3

A taxa de câmbio tem a ver com o que pode ocorrer com o futuro do cenário político brasileiro. Vejo 3 cenários:

A – Cenário com o impeachment, quando o Brasil volta a ser o mais importante, diante o vajerinho político de hoje. Irá estabilizar a taxa de câmbio

B – Cenário intermediário: arrastar a situação até 2018. Cenário com volatilidade monstruosa, e é mais do mesmo que ocorre hoje, desagradável, com recessão, baixo nível de atividade.

C – Cenário de populismo. Como tentativa desesperada de se manter no poder, o atual governo pode fazer de tudo. Daí não tem teto para taxa de juros, dólar ou inflação. Nossa sorte é que efetivamente, à medida que houver a deterioração, forças de mercado irão se contrapor a esse cenário e o negócio pode ter equilíbrio. Mas não se descarta esse cenário, onde sai Levy e entra Nelson Barbosa, por exemplo. É um inferno de Dante, mas não dá para descartar.

4

Com relação à taxa de câmbio, um grande formador dela são as relações de troca, como a balança comercial, com a parte de serviços. Existe modelo de que, a partir dessas variáveis, haveria taxa de R$ 3,40, que é bem equilibrado. Diante do que está hoje [sexta-feira, 16/10], de R$ 3,80, reflete insegurança, quadro político instável, perda da credibilidade, da imagem do Brasil lá fora. A diferença de R$ 3,40 para R$ 3,80 reflete isso.

 

5

O setor sucroenergético vai viver momento positivo, que é o alinhamento da recuperação dos preços do açúcar no mercado mundial. Era esperado lentamente, apesar dos níveis elevados de estoque. Mas é um movimento convergente entre atuantes no mercado. Isso, combinada com a taxa de câmbio desvalorizando o real, é música para o setor. Vai ajudar as empresas. Isso aliado à questão dos combustíveis. Temos aí mudança de humor grande no mercado. Mudança de expectativa. É a volta de certo otimismo.

 

6

Não é tudo flores. Temos, primeiro, o fruto do déficit fiscal, taxas de juros elevadas, que é muito ruim, afeta demais as empresas, conforme o nível de endividamento.

7

Segundo questão: volatilidade. Estamos assistindo a isso. Houve momentos de mercado recente de em um mesmo dia há limite de baixa e de alta. É loucura. R$ 4,24 a R$ 3,70 em trinta dias. É muita variação. E o BC, que tem papel clássico de tentar tirar um pouco do grau de volatilidade, tem atuado bem na taxa de câmbio, como tem que fazer. Ele tem que ser sutil na intervenção. Se for mais incisivo, pode gerar mais ataques especulativos. Temos que ter muito cuidado na atuação do BC. Só tirar o excesso de volatilidade.

8

Resumindo, finalmente entramos em ciclo mais positivo (o setor). Empresas razoavelmeente bem postaddas voltam a respirar. Estava difícil ficar no azul, na última linha, e isso tudo irá criar um novo ambiente de expectativas que vai começar a rodar com movimentos consolidatórios. Com investimentos.

Contatos com o autor dessa reportagem: delcymack@procana.com.br

 

 

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