JornalCana

Etanol deve perder mais mercado para a gasolina em 2014

Apesar do esforço das usinas para que o etanol volte a cair nas graças do motorista brasileiro, a demanda doméstica deverá permanecer muito aquém do potencial. Especialistas projetam que o mercado de combustíveis no país crescerá 4% no ano-safra 2014/15. Mas esse avanço não virá do consumo do biocombustível. É o uso de gasolina que deverá voltar a crescer.

A comercializadora de etanol Bioagência, por exemplo, estima que a demanda por etanol hidratado (utilizado diretamente nos tanque dos veículos) vai apenas repetir em 2014/15 os 10,9 bilhões de litros que deverão ser registrados no ciclo atual, o 2013/14. É um volume ainda muito distante do pico de 2009/10, quando a demanda alcançou o recorde de 15,6 bilhões de litros.

Com os valores do hidratado na bomba limitados a 70% da cotação da gasolina para manter sua competitividade e o controle de preços do combustível fóssil exercido pelo governo, há pelo menos três anos as usinas não investem na construção de unidades de etanol. Assim, o país tende a ter em 2014/15 a mesma oferta de cana do ciclo anterior.

Na hora de escolher o volume de cana que será direcionado para a fabricação de açúcar ou etanol, as usinas optam pelo mais rentável. O etanol anidro, depois do açúcar cristal, é o que tem oferecido melhores remunerações à indústria desde novembro de 2013, conforme o presidente da consultoria Datagro, Plínio Nastari. “Se os preços continuarem assim, a indústria vai preferir produzir anidro. O açúcar de exportação será a última opção”, diz Nastari.

Portanto, a produção desse tipo de biocombustível deverá ser a única a apresentar crescimento no próximo ciclo. “Como é misturado à gasolina, o anidro deverá acompanhar o crescimento do consumo do combustível fóssil”, diz o diretor da Bioagência, Tarcilo Rodrigues. E o avanço do anidro poderá ser até maior, uma vez que as usinas tentam que o governo eleve o percentual obrigatório de mistura do produto na gasolina dos atuais 25% para 27,5%. Segundo apurou o Valor, o Ministério da Fazendo vê a medida com bons olhos.

Rodrigues lembra que há capacidade instalada no país para atender a uma demanda maior de hidratado, mas que o consumidor de combustíveis continua muito sensível aos preços. Pesquisa realizada pela Nielsen no ano passado a pedido da associação que representa as usinas do Centro-Sul (Unica) identificou o “preço” como o principal fator levado em consideração pelo motorista na hora de decidir pelo etanol, ainda que pese a vantagem do produto de causar menos impacto ao ambiente.

Diante de uma oferta similar e de um mercado potencialmente maior – a frota de veículos flex fuel em 2013 cresceu 2,8 milhões de unidades -, a tendência, assim, é que os preços do biocombustível ao consumidor fiquem próximos da paridade de 70% com a gasolina, o que deverá restringir o aumento da demanda, uma vez que os consumidores “cobram” uma diferença maior.

A despeito da limitação da capacidade interna de refino de gasolina no país e da margem negativa que recai sobre a Petrobras com a importação de gasolina, é esse derivado de petróleo que tem coberto a explosão da demanda por combustíveis que vem ocorrendo nos últimos anos no Brasil, proporcionada sobretudo pelo aumento da renda da população.

Segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP) compilados pela Bioagência, entre as safras 2009/10 e 2013/14 o consumo de gasolina no país cresceu 56%, de 26,8 bilhões para 41,8 bilhões de litros. No mesmo intervalo, a demanda por etanol hidratado caiu 30%, de 15,6 bilhões para 10,9 bilhões de litros.

O consumo mensal de hidratado atingiu seu recorde em setembro de 2009, quando alcançou 1,5 bilhão de litros – o desempenho se repetiu no mês seguinte. O presidente da Datagro, Plínio Nastari, acredita que, com o avanço da frota flex fuel nos últimos anos, essa demanda potencial esteja na casa dos 1,9 bilhão de litros por mês, o equivalente a 22,8 bilhões de litros anuais – mais que o dobro do consumo atual.

Em 2014/15, os donos de carros flex devem comprar 2 bilhões de litros adicionais de combustíveis (alta de 4%) e, para Rodrigues, a tendência é que todo o crescimento seja mesmo atendido, mais uma vez, pela gasolina. Mas há uma chance de esses números mudarem. Em primeiro lugar, a remuneração do hidratado precisar ficar, durante toda a safra, maior do que a do açúcar de exportação, detalha o diretor da Bioagência. Com isso, afirma ele, as usinas poderão optar por fabricar mais hidratado em detrimento do açúcar. Em 2013, essa condição só aconteceu entre fevereiro e junho e, depois, desde dezembro até agora, de acordo com levantamento da Datagro.

A outra premissa para inverter o cenário baixista para o consumo do biocombustível, na avaliação de Rodrigues, seria um reajuste da gasolina, que, em termos absolutos, elevaria o “teto” para os preços do etanol. “A defasagem no preço da gasolina [em relação às cotações internacionais] é da ordem de 16%. Se metade disso, ou seja, 8%, fosse repassado ao preço na refinaria, já seria suficiente para gerar um forte estímulo à produção de hidratado”, afirma o diretor da Bioagência.

Inscreva-se e receba notificações de novas notícias!

você pode gostar também
Visit Us On FacebookVisit Us On YoutubeVisit Us On LinkedinVisit Us On Instagram