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Cana-de-açúcar duplica preço da terra

A expansão do setor sucroalcooleiro levou o preço da terra na região de Rio Preto a dobrar no último ano. O movimento do mercado imobiliário mostra que o alqueire está custando atualmente cerca de R$ 30 mil. No mesmo período do ano passado, o alqueire valia em torno de R$ 15 mil. A ofensiva das usinas é forte e os seus efeitos ainda não aparecem nas estatísticas oficiais, mas o movimento já é sentido na atividade rural. Um bom sinal para quem vive da produção no campo ou para aquele que apostou em terra como investimento.

De acordo com levantamento do Escritório de Desenvolvimento Regional (EDR) de Barretos, a área plantada de cana aumentou 22,31% entre os anos de 2001 e 2003, passando de 177.044 hectares para 216.547 mil hectares. Com previsão de colheita na safra 2003/2004 de 19.385.984 toneladas, o que permite um crescimento de 35%. O desempenho galopante no preço das terras nos 14 municípios que compõem o EDR de Barretos confirma a tendência. Nessa região, o preço da terra que saltou de R$ 10 mil a R$ 15 mil o alqueire para cerca de R$ 30 mil a R$ 35 mil dependendo da localização. “As usinas estão disputando palmo-a-palmo as terras. E o produtor está recebendo boa remuneração ao migrar para a cana”, afirma o engenheiro agrônomo do EDR de Barretos, Amauri Stckomann de Paula.

O corretor de imóveis de Bebedouro Diego Garlipp afirma que a procura por propriedades rurais aumentou cerca de 30%, mas não há área disponível para negócios. “Se a terra já tiver plantação de cana, o preço do alqueire varia de R$ 45 mil a R$ 50 mil. Os produtores estão abandonando culturas como a da laranja porque o risco de doenças é grande. Com o arrendamento para as usinas, o produtor não precisa trabalhar”, afirma Garlipp. Em Monte Aprazível, a Associação dos Produtores de Cana-de-Açúcar (Aplacana), que há dois anos somava em seu cadastro 30 produtores, conta agora com 200. “A corrida vem há algum tempo. As usinas buscam terras para plantar. Na região de Ribeirão Preto, tradicional produtora de cana, é impossível, achar terra para plantar, então as usinas estão encontrando aqui oportunidade de negócios”, afirma o presidente da Aplacana, João Thomaz Leal Pimenta.

O mercado imobiliário em Monte Aprazível também aponta aumento do valor a terra que anteriormente era encontrada por cerca de R$ 15 mil a R$ 18 mil e agora chega entre R$ 25 mil a R$ 30 mil. Na região de Catanduva, a produção em 2003 é estimada em 9.720.3556 toneladas, com área plantada saltando de 127.630 hectares para 131.807 hectares, representando crescimento de 3,27% nos últimos dois anos. “A terra valorizou muito por causa das usinas. Eles arrendam ou compram as propriedades. Se for terra com cana, o alqueire custa de R$ 30 mil a R$ 35 mil. Se estiver sem cultura, tem o valor de R$ 22 mil a R$ 25 mil. Antes, os preços eram entre R$ 12 mil a R$ 15 mil”, explica o corretor de imóveis de Catanduva, Waldemar Constâncio. Em Rio Preto, a área de novos plantios cresceu 58%. Em 2002, eram 10.466 hectares, subindo agora para 16.598 hectares, em 2003. As terras cultivadas, aumentaram 70%, passando de 20.820 hectares para 35.419 hectares neste ano.

O valor da terra é condicionado à atividade nela existente ou, seja, a cultura desenvolvida em cada região. A explicação é do engenheiro agrônomo Alceu Veiga, do Instituto de Economia Agrícola (IEA) do Estado de São Paulo. O órgão ainda não fechou o seu levantamento do preço da terra no Estado de São Paulo, pesquisa realizada anualmente, mas a valorização da terra na região não gera estranheza para o órgão, ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento. “A terra quando havia alto índice de inflação era uma reserva de mercado. Mas hoje, a sua valorização se dá pelo cultivo das culturas e a cana traz boa remuneração”, afirma Veiga.

Oferta é risco para o futuro

A oferta excessiva de cana-de-açúcar nos próximos anos não é um bom sinal para o setor. A expansão do setor sucroalcooleiro é vista com cautela pelo presidente das Usinas e Destilarias do Oeste Paulista (UDOP), Luiz Guilherme Zancaner, que reúne 33 indústrias do noroeste paulista. “Em 2004 e 2005 o cenário não será florido para o setor como está sendo este ano. Poderemos passar de uma fase de vacas gordas para o período de vacas magras”, afirma o dirigente. De acordo com a UDOP, o setor sucroalcooleiro nas regiões norte e noroeste paulista deve receber, nos próximos dois anos, investimentos na ordem de R$ 300 milhões, capazes de gerar 40 mil empregos diretos. Os investimentos destinam-se à ampliação da capacidade de produção de açúcar e álcool de usinas já existentes e à instalação de novas unidades produtivas. A sua ressalva é devido à preocupação com o excesso de matéria-prima que poderá não encontrar vazão e, conseqüentemente, sofrer queda de preços. “Os resultados das ações para exportar álcool combustível para outros países, como o Japão, irão demorar. São estratégias para médio e longo prazos. O setor pode estar atropelando os acontecimentos”, alerta Zancaner.

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