Usinas

Bioeletrificação: protagonista ou coadjuvante?

Qual será o papel do setor sucroenergético na transição energética?

Bioeletrificação: protagonista ou coadjuvante?

Aquecimento global, mudanças climáticas e poluição atmosférica. No jogo da economia sustentável as cartas já estão sendo colocadas na mesa. A descarbonização da matriz energética do transporte vem surgindo como prioridade.

A indústria automobilística se movimenta e direciona cada vez mais investimentos no desenvolvimento de carros híbridos, elétricos em detrimento dos motores a combustão.

Como essa tendência pode impactar as usinas de cana-de-açúcar, responsáveis pela produção do etanol, biocombustível que por suas características pode se converter na principal alternativa desse período de transição? Para o presidente de um dos gigantes da indústria automobilística, caberá ao setor sucroenergético, definir se assume a posição de protagonista ou coadjuvante nesse processo.

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Essa foi uma das indagações apresentadas durante o Webinar do JornalCana, da quarta-feira  (22), com o tema: “O Papel do Etanol no futuro da mobilidade – Carros elétricos X Célula de combustível”. O evento reuniu Alfred Szwarc, especialista em biocombustiveis e diretor da ADS Tecnologia e Desenvolvimento SustentávelGonçalo Pereira, professor da Unicamp; Luiz Augusto Horta Nogueira, professor da UNIFEI, pesquisador NIPE/UNICAMP e Pablo Di Si, presidente da Volkswagen América Latina.

Sob a condução do jornalista e diretor do ProCana, Josias Messias, o webinar contou com o patrocínio das empresas AxiAgro, BioCon, S-PAA Soteica e TT do Brasil.

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O consultor Alfred Szwarc destacou alguns pontos que devem interessar ao Brasil nos próximos 20 anos. A descarbonização da matriz energética de transportes, que no seu entender já vem acontecendo, ainda tem muito a percorrer. “Cerca de 51 bilhões de litros de óleo diesel fóssil foram consumidos no ano passado. Somando-se o biodiesel, chega-se a 57 bilhões, mais 26 bilhões de gasolina tipo A misturada ao etanol, ou seja, temos um volume bastante grande de combustíveis fósseis que ainda precisam ser considerados”, elucidou.

Outro ponto destacado por Szwarc é a redução da emissão de poluentes e o aumento da eficiência energética. Para isso já está em desenvolvimento o programa Rota 2030, que tem como meta uma redução média de 12% no consumo de combustível. “Talvez devêssemos ser um pouco mais ambiciosos nessas metas, na medida em que qualquer aumento de eficiência energética, impacta positivamente a redução de emissão de gás carbônico”, disse.

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Szwarc recomenda cautela com relação ao fim dos motores de combustão e eletrificação acelerada, que vem ocorrendo em países do hemisfério norte, principalmente na União europeia e também nos Estados Unidos, Canadá, Japão e China.

“É uma questão complexa. Ela tem seus méritos, mas precisamos ser muito críticos em como fazer, e como participar. Não devemos copiar o que está sendo propalado em outros países”, disse o consultor que também chama a atenção para o fato do Brasil não estar exercendo uma liderança regional quanto ao tema, deixando de envolver outros países no processo de descarbonização na matriz de transportes.  O uso do etanol possibilita uma transição menos disruptiva. Para avançar é preciso que haja uma aliança entre governo, produtores de etanol e de veículos. Ele estima que veículos com células de combustível devem chegar ao mercado em 2030.

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Gonçalo Pereira

Alfred também chama a atenção para os motociclos. ”Sempre que se fala de transporte, focamos em veículos de quatro rodas, mas os de 2 também fazem parte do sistema de mobilidade. Segundo o IBGE, no Brasil 45% dos municípios têm frota superior a veículos de 4 rodas. Portanto, não podemos esquecer esse tipo de veículo”, disse.

Ciclo de vida

O professor da Unicamp, Gonçalo Pereira destaca as vantagens da utilização do etanol em relação às outras alternativas. “A grande revolução do petróleo está no fato dele ser líquido. Uma vantagem gigantesca e essa vantagem a gente tem. O etanol nada mais é do que uma bateria de alta densidade energética em estado líquido, com o detalhe que é renovável”, disse.

Gonçalo destaca a importância de se analisar o ciclo de vida quando for comparar combustível a outro. “Se não se controlar isso podemos estar sendo enganados. Estudo realizado em 2019 pela Universidade de Colônia, na Alemanha, mostrou que ao ser analisado do berço a o túmulo, um Tesla emite mais CO2 que um carro a diesel de potência semelhante na Alemanha. Ou seja, você está trocando 6 por meia dúzia e não tem absolutamente nenhum papel na descarbonização”, afirmou.

O professor também aponta a questão da empregabilidade. O problema não é só o combustível. Quando se olha um motor a combustão, cada peça representa um emprego.  O motor elétrico tem poucas peças, logo tem pouco emprego. Ele defende uma política que estimule o consumo de carro movido a etanol.

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Luiz Augusto Horta Nogueira

Para o pesquisador Luiz Augusto Horta Nogueira, os motores a combustão ainda têm muito a evoluir. Diversas tecnologias podem e têm sido implementadas em motores a combustão, especialmente a etanol, com notável ganho de eficiência. Considerando as aplicações em veículos híbridos, a operação em regimes próximos a condição nominal assegura ainda maiores ganhos.

Segundo ele, os veículos elétricos a bateria, não justificam o apoio e a isenção de tributos que eles tiveram. “Essa política para mim foi um tiro no pé. Precisamos rever isso e dispor de políticas públicas que tenham consistência e racionalidade, reconhecendo as nossas potencialidades”, reforçou.

Nogueira defende uma articulação para o desenvolvimento harmônico com os países da região. “Existe um mercado demandante de veículos brasileiros. Colômbia, Equador e Guatemala têm interesse em importar carros brasileiros flex, mas encontram dificuldade. Existe uma barreira cultural que precisamos superar’, disse.

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Centro de Pesquisa

Pablo Di Si

O presidente da Volkswagen da América Latina, Pablo Di Si, lembrou que eliminar o CO2, é um compromisso de todos. O grupo deverá investir 73 bilhões de Euros em carros elétricos e híbridos e planeja lançar 130 modelos até 2030.

Pablo informou que a Volkswagen irá liderar um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para mercados emergentes usando etanol e outros combustíveis de energia limpa para combustão e soluções híbridas com alterações mínimas nas plataformas mundiais atuais. “A nossa estratégia é levar a jaboticaba para o mundo. Precisamos tirar o melhor do Brasil e exportar”, disse.

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Ele explicou que o Grupo está engajado em um programa transversal, estimulando uma série de reuniões e parcerias entre o time VW, Sindicatos da Indústria da Cana-de-Açúcar, universidades e poder público. “Temos potencial para triplicar o volume de etanol. Nós estamos no momento de escolher se nós queremos ser protagonistas ou coadjuvantes. E acho que iremos ser protagonistas”, concluiu o presidente da Volkswagen da América Latina.

Para assistir o webinar completo, clique aqui:

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