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A vantagem da exploração do pré-sal acabou

O economista americano Jeffrey Currie comanda a equipe de investimentos globais em commodities do banco Goldman Sachs. É dele a responsabilidade de analisar as tendências de preço de matérias-primas como petróleo, minério de ferro e soja.

“No caso do Brasil, há dois cenários importantes. O preço do petróleo não deve voltar tão cedo para o patamar de 100´dólares, mas a produção de soja, mesmo com a queda do preço em dólares, continua sendo atraente”, diz Currie, que falou a EXAME durante uma visita recente a São Paulo.

Por que o preço do petróleo despencou para o patamar de 50 dólares o barril nos últimos meses?
Jeffrey Currie –
A descoberta do petróleo de xisto nos Estados Unidos mudou radicalmente esse mercado. Até 2012, ninguém levava a sério esse tipo de exploração. Mas, em 2013, a extração de xisto dos Estados Unidos foi equivalente à produção anual da Líbia no auge de sua capacidade — e a um custo muito menor.

Estima-se que o custo para produzir um barril de petróleo à base de xisto esteja em cerca de 60 dólares, enquanto tirá-lo de águas profundas sai muito mais caro, algo por volta de 110 dólares.

Por que os grandes produtores de petróleo ainda não diminuíram a produção para tentar elevar o preço?
Jeffrey Currie –
Países como a Arábia Saudita estão tentando manter sua participação de mercado. Eles sabem que, se reduzirem a extração de petróleo, os produtores de xisto vão tomar o espaço. Pelas contas dos grandes produtores, tem valido a pena até agora vender o petróleo abaixo do custo de extração. O governo saudita já reservou 750 bilhões de dólares para arcar com essa estratégia.

Qual será o ponto de equilíbrio do preço do barril?
Jeffrey Currie –
Creio que o novo patamar será de 65 dólares o barril, valor que deverá ser alcançado em 2016.

Como a queda no preço do petróleo atinge a Petrobras, já abalada por dívidas e denúncias de corrupção?
Jeffrey Currie –
O grande desafio da Petrobras é manter-se competitiva, mesmo com o advento do xisto em grande escala. O Brasil tinha a vantagem de ter desenvolvido uma das mais baratas tecnologias para a extração em águas profundas, mas esse benefício acabou. A realidade é que, se a Petrobras não produzir petróleo em águas profundas a um preço ainda menor, estará em enorme desvantagem em relação ao xisto.

Não foi apenas o preço do petróleo que caiu. Outras commodities também recuaram. Por quê?
Jeffrey Currie –
A queda na cotação de commodities como o minério de ferro e a soja é explicada pela valorização do dólar. De 2001 a 2014, vivemos com o dólar excessivamente desvalorizado. Agora, estamos enfrentando a fase de ajuste.

Qual é o impacto no mercado de commodities?
Jeffrey Currie
– Existem duas forças atuando simultaneamente. Moedas como o real têm se desvalorizado frente ao dólar numa velocidade maior do que a da queda do preço das commodities. O saldo disso é que houve uma valorização das matérias-primas em reais, mesmo com a queda do preço em dólares.

O que cabe a países exportadores de commodities, como o Brasil, fazer nessa situação?
Jeffrey Currie –
Se eu fosse um produtor de soja brasileiro, tentaria cultivar o máximo possível. O valor em real nunca esteve tão alto.

(Fonte: Exame)

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