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50% da palha deixada no campo poderia gerar toda energia consumida em MG

Especialistas debatem aproveitamento da palha

Com uma tonelada de palha seca de cana é possível produzir cerca de 250 litros de etanol. Se aproveitarmos toda palha disponível nos canaviais poderíamos aumentar em 50% a capacidade de produção.  O “Aproveitamento da Palha de Cana para Geração de Energia Elétrica” foi o tema do webinar promovido pelo STAB – Regional Sul, no último dia 10.

O engenheiro Francisco Linero, representante do Centro de Tecnologia Canavieira -CTC e diretor da FL Consultoria e Engenharia , apresentou outros números da palha que também impressionam. Numa safra de 657 milhões de toneladas de cana, existe um potencial para produção de 28.871 GWh/safra. Segundo ele, com 50% da palha deixada no campo, seria possível gerar 68% da energia consumida em todo Estado de São Paulo, ou ainda toda a energia consumida em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Embora os números possam ser expressivos, Linero afirma que as iniciativas de aproveitamento da palha ainda são escassas. Ele estima que apenas 5% da palha disponível tem sido utilizada para essa finalidade. Esse baixo percentual, em parte, pode ser atribuído aos investimentos necessários para as usinas fazerem o recolhimento e processamento dessa palha, de forma que sua utilização se torne viável.

Para o pesquisador João Luís Nunes Carvalho do Laboratório Nacional de Bio Renováveis, o grande dilema dos produtores é saber qual a quantidade de palha que deve ser mantida no campo, ou qual a quantidade que pode ser removida.

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Francisco Linero

Carvalho é autor de um grande estudo envolvendo o aproveitamento da palha, ao longo de 5 safras, em diversas usinas, sendo realizados 26 experimentos, obtidas em mais de 70 colheitas, com mais de 10 mil amostras colhidas nos mais diversos tipos de solo, a fim de avaliar os efeitos de sua remoção, visando aumentar a produção de biomassa sem comprometer a qualidade do solo.

Para o pesquisador, uma coisa que o estudo deixou bastante evidente é que não existe uma resposta única. “Depende de uma série de fatores. A remoção de palha não seguiu uma tendência lógica na grande maioria das regiões. Por isso, nós criamos aqui no projeto um guia de boas práticas para remoção de palha. Uma ferramenta que vai auxiliar a pessoa na tomada de decisão, englobando condições climáticas, época da colheita, tipo de solo, manejo adotado, idade da cultura, entre outros fatores”, explicou.

Segundo João Luís, a palha é um recurso natural que deve ser usado para modular o sistema solo-planta. “Deve ser usada com sabedoria sem comprometer a qualidade do solo, visando aumentar a produção de biomassa, porque não adianta nada aumentar a produção de biomassa e bioenergia em um ano e comprometer isso nos anos posteriores”, disse.

Colheita da palha

José Bressiani, diretor de tecnologia agrícola na Granbio, falou sobre a experiência da empresa no trabalho de recolhimento da palha. A empresa entrou em operação no ano de 201, focada nas tecnologias de segunda geração para converter as fibras das plantas em etanol e bioquímicos. Como a empresa não produz cana, foi desenvolvida uma política para recolhimento de palha de outras usinas, inicialmente estimado em 150 mil toneladas de palha.

Segundo Bressiani foram colhidas cerca de 3 mil toneladas de palha, até chegarem à melhor avaliação dos equipamentos (enfardadora/carregador/ carreta recolhedora) em relação a rendimentos e logística. Ele explica que a operação mais crítica é o enfardamento, por ser a mais cara de toda a operação. “Nesse aspecto só vamos conseguir evoluir quando tivermos um maior volume”, justificou.

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Bressiani também abordou a questão do armazenamento da palha, que precisa ser coberta. “Em 2017 participamos de um workshop sobre armazenamento de biomassa, onde vimos todos os pontos críticos, medidas de segurança, monitoramento, e com base nisso, redesenhamos nossos sistemas de armazenamento com pilhas menores, para minimizar o problema de incêndios”, explicou.

Francisco Linero apresentou o impacto na indústria mediante duas rotas para colheita da palha. Na rota 1, com sistema de estação de limpeza a seco da cana, que assegura um melhor controle das impurezas minerais e aumento da disponibilidade de biomassa e energia para as caldeiras.

José Bressiani

Já a rota 2, que inclui o enfardamento independente do processamento da cana, implica na manutenção da densidade de carga nos caminhões de cana, não interfere no processo produtivo de açúcar e etanol, recolhimento e transporte da palha seca, sendo recomendado a limpeza das impurezas minerais da palha e operar com misturas inferiores a 15% de palha no peso total da biomassa.

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“Apesar de caro, esse sistema tem respostas significativas lá na frente, e permite ganho nos custos de transporte do material energético”, afirmou.

Eduardo Peres, sócio da AgroEnergia, disse que o mercado tem demanda para absorver a energia de biomassa. “O desafio é mais na questão agrícola e da indústria, do que na comercialização. Uma vez isso convertido em energia elétrica, temos como trazer com preço competitivo. O consumidor não tem interesse em saber do processo produtivo, mas sim do preço. Nós temos demanda para energia de biomassa, e acreditamos que quando tivermos toda a biomassa disponível ela será facilmente realocada”, afirma.

 

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