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Ambiente para o milho tende a ser hostil ao Brasil no segundo semestre

O mercado internacional do milho vive situações bastante contraditórias entre o curto e o longo prazos. Esta análise procura entender os impactos pelos quais o Brasil pode passar diante do cenário atual.

O que pôde ser observado nos últimos 30 dias foi uma forte valorização nos preços futuros do milho negociados na Bolsa de Chicago. A queda na produção sul-americana, aliada a uma demanda firme pelo produto norte-americano, tem justificado o ciclo atual de alta nos preços do cereal.

A demanda exportadora dos Estados Unidos tem ajudado a reduzir os já apertados estoques de passagem na América do Norte. A expectativa de que a China também venha a demandar volume maior de milho norte-americano tem estimulado os investidores a apostar na alta dos preços.

No entanto, o cenário atual de contínuas valorizações reflete um quadro de curto prazo, onde há aperto de estoques nos Estados Unidos. No longo prazo, o cenário já se mostra diferente.

Com a expectativa de crescimento na área plantada com milho em território norte-americano na safra 2012/13, espera-se que os estoques de passagem sejam maiores no segundo semestre. Por essa razão, os preços futuros do milho com vencimento no longo prazo apresentam-se menores do que os preços praticados no curto prazo.

Estamos claramente diante de um mercado invertido. O contrato para setembro próximo, negociado na Bolsa de Chicago, apresenta-se 10% inferior ao preço do contrato para maio deste ano. A diferença é ainda maior (quase 15%) quando a mesma comparação é feita entre o contrato de dezembro e o de maio.

A expectativa de preços menores para o milho no mercado internacional no segundo semestre não é favorável ao Brasil. A segunda safra brasileira tem todos os requisitos para alcançar volume recorde neste ano.

A área plantada deverá superar o patamar de 6,5 milhões de hectares, que, em condições normais de clima, propiciaria volume de produção superior a 26 milhões de toneladas.

A necessidade de exportação do Brasil torna-se eminente nesse cenário. No entanto, a pressão competitiva dos Estados Unidos no mercado internacional torna-se maior no segundo semestre, quando há a entrada da safra norte-americana.

Para deixar a situação um pouco mais tensa, há excesso de oferta de etanol nos Estados Unidos e a demanda exportadora pelo biocombustível mostra-se fraca.

Para amenizar a situação, os fabricantes de etanol estão reduzindo o ritmo de produção, incluindo, nesse caso, até o fechamento de algumas fábricas.

Portanto, o excesso de oferta de milho que os Estados Unidos vierem a produzir na safra 2012/13 terá forte viés exportador, já que seu mercado doméstico tende a se mostrar mais fraco neste ano.

O Brasil enfrentará um ambiente mais hostil no segundo semestre. Para que os preços se mantenham em alta, seria necessário um conjunto de frustrações produtivas, tanto nos Estados Unidos como em território brasileiro.

LEONARDO SOLOGUREN é engenheiro-agrônomo, mestre em economia e sócio-diretor da Clarivi.

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