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Alta reflete repasse

Daqui pra frente, salvo alguma promoção do tipo relâmpago, vai ser difícil os consumidores encontrarem o litro do álcool hidratado a menos de R$ 1,10 na bomba dos postos revendedores de Cuiabá e Várzea Grande. Seguindo as sinalizações do mercado, a perspectiva é de que a temporada de preços mais acessíveis ficou para trás, pelo menos em 2009. Como informa o sindicato que congrega os postos do Estado, o Sindipetróleo, nos últimos 30 dias, o valor do litro nas usinas sofreu reajuste de 25% e o efeito em cadeia, elevou o valor de bomba de até R$ 1,02 para atuais R$ 1,29, alta de pouco mais de 26% no varejo.

Ainda como explica o primeiro-secretário do Sindipetróleo, Bruno Borges, a alta de 25% vinda das usinas chegou ao mercado pouco a pouco e “representa, somente, o que vem sendo repassado pelas usinas, e consequentemente, pelas distribuidoras. O álcool, em média, está sendo comprado por cerca de R$ 1,12 pelas distribuidoras e revendido a R$ 1,29 na bomba, cifra que garante margem de lucro de R$ 0,17 ao posto”.

Com o aumento do consumo de álcool, promovida pela expansão dos carros flex fluel – dos bicombustíveis – o hidratado deixou ser o ‘patinho feio’ entre os combustíveis, para se tornar líder em vendas. Como frisa Borges, o produto representa atualmente 70% das vendas dos postos. Se por um lado as vendas no varejo aumentam, o mesmo não ocorre na produção. Como afirmou ontem o superintende do Sindicato das Indústrias sucroalcooleiras do Estado (Sindálcool), Jorge dos Santos, a produção da safra 08/09 de cana-de-açúcar encolheu 12% no Estado e com isso, a prod! ução do combustível será de 100 milhões de litros a menos.

MERCADO – Diante da ditadura da oferta e procura do mercado, Borges crê em novos reajustes na próxima semana, na ordem de 6% a 8%.

Como explica o superintende do Sindálcool, as onze usinas em operação no Estado, são livres para “comercializar o litro dentro da margem de suas necessidades”, e como aponta Santos, “o que gostaríamos era que essa alta percebida fosse sinal de recuperação das usinas e não movimento de mercado”.

Ele explica que problemas pontuais no Sudeste do país, como chuvas que atrapalham a colheita, têm influenciado o mercado e que esse movimento altista possa estar balizando o mercado atual. “A agroindústria é refém do mercado, o sendo assim, muitas vezes, os elos de uma mesma cadeia destoam na rentabilidade”.

MARGENS – Como frisa Santos, qualquer valor de venda do litro abaixo de R$ 0,80 na usina não remunera, assim como abaixo de R$ 1,50 no posto. A moagem no Estado segue até no! vembro e como alerta o superintendente, “sem remuneração, não há investimentos nos canaviais e o recuo da produção, implica em mais retração no ano que vem”.

Já do lado varejista da cadeia, Borges lembra que há quase três anos o mercado cuiabano vem sem regido por liminares impostas pelo Ministério Público Estadual (MPE) que estabeleceram teto de até 20% sobre a margem de lucro dos postos que alvo da decisão judicial. Atualmente, como diz o Sindipetróleo, 18 postos derrubaram a medida e outros 12 ainda operam sob efeito dela. “As limares afetaram o mercado em cheio. Mesmo para postos que ficaram de fora, sofreram o efeito do tabelamento do mercado e ninguém hoje consegue vender o litro com margem acima de 20%”.

Diante do cenário Borges explica que com o litro no varejo a R$ 1,29, a margem de lucro é de R$ 0,17, “metade do que o governo do Estado arrecada somente por meio do ICMS, que com alíquota de 25%, ganha de cada litro vendido R$ 0,39”. Ainda sobre margens, o primeiro-secretário lembra que a média de margem ao álcool no país varia de R$ 0,35 a R$ 0,45 por litro. “Como se vê, aqui novamente, estamos ganhando pelo menos, 50% a menos”.

Borges conta ainda que as liminares criaram ‘dois mundos’ no varejo. “Postos de bandeira branca, mesmo que sob liminar, compram o litro da distribuidora a R$ 1,08 e vendem – com até 20% de margem – a R$ 1,29. Quem é bandeirado, por exemplo, opera com a Petrobras, compra o litro a R$ 1,12 e para ter 20% de margem deveria vender a R$ 1,35. Num mercado nivelado por força de liminar, quem vai pagar R$ 1,35 pelo litro, se há quem vende por R$ 1,29? Em suma, posto que compra mais caro tem de vender mais barato e fica com margem de até 17%, para não morrer, mas consegue se arrastar”.

ICMS – O álcool e a gasolina no Estado têm alíquota de 25%. O valor do imposto é obtido por meio de um preço médio em adoção no Estado, que mostra a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)! , varia de R$ 1,07 a R$ 1,80, dependendo da cidade pesquisada. É o valor médio, hoje me R$ 1,54, que sofre a incidência dos 25% e que leva aos cofres R$ 0,39 por litro comercializado.

MPE – As liminares do MPE têm como objetivo disciplinar o segmento. Conforme investigações feitas pela instituição, o varejo cuiabano registrava até 70% de margem de lucro sobre cada litro do álcool comercializado. As primeiras liminares foram protocoladas em dezembro de 2006 na 6ª Promotoria de Defesa do Consumidor e da Cidadania do MPE.

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