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Alemão desconfia do álcool brasileiro

Empresários e consumidores temem dependência do combustível sem garantia de entrega. O Brasil quer fechar com a Alemanha um acordo de cooperação para o desenvolvimento do mercado de etanol no território germânico e em demais mercados pelo mundo. A intenção, segundo o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, é consolidar o produto, fazendo dele uma commodity, para que se estabeleçam padrões internacionais para o produto. A proposta foi lançada durante o Encontro Econômico Brasil-Alemanha, do qual Rodrigues participou, quando foi homenageado recebendo o título Personalidade Brasil-Alemanha 2006.

A Alemanha, como membro da União Européia, tem como meta utilizar 5,7% de etanol misturados à gasolina até 2010 e 6% até 2011. Para o representante do Ministério do Meio Ambiente da Alemanha, Daniel Argyropoulos, a meta está entre as mais ambiciosas de todo o programa de energias renováveis do país, que pretende ter até 2020, 20% de sua matriz energética proveniente de fontes renováveis. Hoje, são 10%.

O país progrediu mais no desenvolvimento do biodiesel, que já participa em 1,6% do mercado de combustíveis no país. É utilizado em baixos índices de mistura no combustível e em veículos adaptados para somente utilizar o produto. Hoje, cerca de 50% dos veículos automotivos do país utilizam diesel. O restante é gasolina, que por hora praticamente não recebe etanol como aditivo.

Há um grande ceticismo sobre o etanol, que foi, durante questionado se seria mesmo um produto que o consumidor brasileiro aprova, se haveria produção suficiente para atender ao mercado, se o preço não se inviabilizaria com uma eventual queda na produção do petróleo e se, afinal, não resultaria em uma nova dependência energética para Alemanha, numa espécie de migração do Oriente médio, produtor de combustível fóssil, para o Brasil, produtor de biomassa.

Rodrigues esclareceu que o país produz 2,5 bilhões de litros além do que consome e que outros 100 projetos devem garantir, até 2010, a ampliação da produção de etanol em mais 12 bilhões de litros. Hoje, a produção é 17 bilhões de litros por ano. Existem ainda cerca de 22 milhões de hectares de terras agricultáveis, aptos para cana de açúcar, acrescentou. Sobre o preço, o ex-ministro disse que o álcool é competitivo mesmo com o barril de petróleo a US$ 40 (U$ 70), já que tem um custo de cerca de US$ 27 pelo equivalente. Além disso, o ex-ministro explicou que a idéia não é vender etanol, mas cooperar para que o país produza etanol a partir da beterraba. Ele também sugere a cooperação da Alemanha para a criação de infra-estrutura no Brasil para o escoamento da produção para o mercado externo.

Empresários brasileiros apresentaram os resultados da indústria automotiva com motores flex-fluel – tecnologia desenvolvida no Brasil pela subsidiária de uma empresa alemã, a Bosch, e aplicada pela primeira vez pela alemã Volkswagen. Segundo o consultor Ingo Plöger, é uma das melhores alternativas para que o etanol se disseminasse na Alemanha. “Se você dá a opção ao consumidor alemão de optar pelo veículo, certamente o mercado deslancharia”, opinou.

Rodrigues também defendeu que os alemães têm sido cautelosos na mistura de etanol na gasolina, já que no Brasil, a gasolina é vendida nos postos com 25% de álcool. “Restringir a 6% pode gerar uma distorção no mercado alemão”, disse, referindo-se a uma possível dependência da produção local.

Mas ao que parece, os alemães não estão muito dispostos a ser mais agressivos e sequer tem metas para depois de 2010. “A União Européia está revendo as metas quanto ao uso de biocombustíveis e decidir por algum avanço, mas por hora não temos qualquer intenção de ampliar”, afirmou Argyropoulos.

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