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Além dos palavrões e xingamentos

Palavrões e xingamentos à parte, ao que parece apenas Mato Grosso do Sul se preocupa com a proibição da expansão do setor sucroalcooleiro no Pantanal, prevista Zoneamento Agroecológico da Cana-de-açúcar do Governo Federal. Pelo menos é o que parece.

Não imagino o governador Blairo Maggi xingando o ministro Minc de veado ou maconheiro. Nem quando o ministro o chamou de devastador e o acusou de querer plantar soja nos Andes Maggi desceu a tamanha deselegância. Ponto para Maggi nesse quesito. Entretanto, dizer palavrões não é a única maneira de demonstrar firmeza e intransigência de opinião ou princípios sobre um tema – com certeza não é a mais apropriada para detentores de cargos eletivos.

O fato é que nossos irmãos pantaneiros do outro lado do rio Cuiabá (refiro-me a Mato Grosso do Sul, certamente, e não a Várzea Grande) demonstram mais preocupação com a explo! ração dessa atividade na chamada Bacia do Alto Paraguai (a qual pertence todo o nosso pantanal também) do que nós. E não é de agora. Basta lembrar o acirramento dessa mesma discussão entre o ex-governador Zeca do PT e a ex-ministra Marina Silva, quando ambos, além de tudo, eram do mesmo partido.

Não sou ecologista nem profundo conhecedor do tema. De zoneamento também não entendo muito. Mas, sei o suficiente para perceber que esse debate precisa ocorrer aqui com a mesma intensidade que acontece lá. Talvez o que tenha pesado bastante nesse desequilíbrio de prioridades seja o peso econômico que o setor sucroalcooleiro representa para cada um dos estados.

O bate-boca entre André Puccinelli e Carlos Minc, um dos assuntos de grande repercussão esta semana na mídia nacional por seu caráter de “involução da espécie”, deveria ser o pretexto ideal para os personagens de Mato Grosso, desde Executivo, Legislativo, setor sucroalcooleiro, trabalhadores e ecologistas, entrarem em cena e demonstrarem, num outro nível, evidente, como se debate um tema tão relevante, com repercussões não apenas ambientais, mas também econômicas e sociais.

Há cerca de dois anos, quando o suplente Carlos Avalone assumiu a vaga de Guilherme Maluf na Assembléia Legislativa, requereu uma audiência pública para se debater o etanol no Brasil e no Estado. As vedações ambientais foram ligeiramente tratadas, pelo que me lembro.

Não sei qual o alcance que esse tema mereceu durante as audiências realizadas pela Assembléia Legislativa para debater o zoneamento agroecológico de Mato Grosso ao longo desse ano. Sei que apenas o senador Osvaldo Sobrinho fez nesta quinta (24.09) um rápido pronunciamento no Senado sobre o assunto, provavelmente pegando uma carona com a senadora Marisa Serrano (MS) – que pediu um mínimo de decoro entre Puccinelli e Minc no debate que protagonizam -, e também dos deputados Percival Muniz e José Riva, daqui, também de forma caudatária, anunciando para seis de outubro uma audiência da Assembléia Legislativa para se debater o zoneamento produzido pelo governo federal.

Do Senado, Sobrinho apelou ao governo federal que não impeça os projetos sucroalcooleiros já em andamento quando saiu o decreto presidencial impondo restrições à atividade, sob pena de graves e extensos prejuízos para toda a região médio-norte de MT.

Espera-se que o Governo de Mato Grosso (aqui citado como Estado e não apenas executivo) trate desse tema como se soja fosse, e mobilize o melhor das suas energias para envolver o máximo de seguimentos num debate profícuo, e não apenas de marcação de posições político-ideológicas. A nossa bancada federal deveria se voltar ao tema com mais entusiasmo e prioridade, afinal, é no âmbito federal que ocorre esse enfrentamento.

(Especialmente o senador Gilberto Goellner e o deputado Homero Pereira, que se autoproclamam representantes do agronegócio e do setor produtivo deveriam se movimentar. Se Jonas Pinheiro estivesse vivo, certamente o tema não estaria sendo negligenciado pela bancada. Ou mesmo se Gilney Viana, nosso maior ecologista, ainda fosse parlamentar).

Dessa forma, se poderá produzir efeitos práticos para a questão. Afinal, o que está em discussão é mais que uma atividade econômica importante: é a vida do pantanal e principalmente a vida dos pantaneiros.

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