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Álcool x alimentos

FELIZMENTE, o debate sobre o impacto dos biocombustíveis na oferta de alimentos não depende das reinações de Fidel Castro. O ditador elegeu o álcool combustível para deblaterar contra o “genocídio” dos pobres que Bush e Lula estariam arquitetando.

Obteve grande repercussão, nesta semana, artigo de C. Ford Runge e Benjamin Senauer, da Universidade de Minnesota (EUA), na prestigiada revista “Foreign Affairs”. Sem chegar ao paroxismo castrista, os autores levam a sério o risco de que a produção de álcool e biodiesel afete a segurança alimentar.

O alvo de Runge e Senauer é o milho, matéria-prima para a fabricação do álcool combustível nos EUA. Além de condenar sua ineficiência (no cotejo com o álcool de cana brasileiro) e os subsídios de US$ 8,9 bilhões (em 2005) que sustentam a modalidade de produção, o artigo destaca que a demanda energética por milho catapultou preços futuros para os mais altos níveis da década, na casa de US$ 4 por bushel (equivalente a 25 quilos do grão).

A alta sofreu um espasmo, na semana passada, quando se soube que a área plantada com o grão cresceu mais de 15%, com redução de 11% na lavoura de soja daquele país. O preço recuou um pouco, mas ainda flutua em patamar elevado. Segundo Runge e Senauer, o bastante para ameaçar os pobres.

A preocupação é legítima e pede debate esclarecido. Análises como a da “Foreign Affairs”, porém, não tomam na devida conta os ganhos de eficiência que tal surto de investimento pode deslanchar -como na produção de álcool a partir de celulose, que dispensaria o milho em favor de capim e restos vegetais. Só no final do texto se faz menção ao investimento de US$ 385 milhões que o Departamento de Energia dos EUA anunciou para erguer seis dessas refinarias.

Tampouco se faz jus, com tal raciocínio, à iniciativa de Bush e Lula de incrementar a produção de cana naqueles países que dispõem de terra para expandir a cultura sem afetar a produção de alimentos. No caso do Brasil, menos de 1% da superfície arável (3 milhões de 340 milhões de hectares) está ocupada com cana para álcool. Há outros 200 milhões de hectares de pastagens, muitas já degradadas, para abrigar a expansão esperada.

Em suma, não está descartado que a febre dos biocombustíveis afete a oferta de alimentos. Isso só vai ocorrer, porém, se da discussão informada não forem derivadas as necessárias medidas de planejamento. É aí que mora o perigo, em especial no Brasil.

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