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Álcool molhado prejudica sete mil carros flexfuel

A adulteração do álcool combustível já fez com que pelo menos 1,5% dos veículos com motores bicombustíveis, os chamados flexfuel, no País, voltassem para a concessionária com problemas no motor, informou o Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom).

Apesar de a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) não confirmar, o diretor do Sindicom, Dietmar Shupp afirma que o chamado “álcool molhado” causou problemas para aproximadamente 7 mil proprietários de veículos bicombustível.

O montante mobilizou toda a cadeia produtiva do álcool, de usineiros a representantes da indústria automobilística, passando pela Petrobras, Transpetro, distribuidoras de combustíveis, Ministério de Minas e Energia e principalmente a Agência Nacional do Petróleo (ANP), que pretende aprovar a adição de um corante no álcool anidro até o final do ano para coibir a fraude.

“Não acredito que possamos acabar com o problema, mas pelo menos reduzir a adulteração em pelo menos 70%”, afirmou a superintendente de qualidade do produto da ANP, Maria Antonieta Andrade Souza, que está realizando uma série de reuniões com o setor, visando resolver os empecilhos técnicos para a coloração do álcool.

A medida visa diferenciar o álcool anidro, que é misturado à gasolina, do hidratado, que vai direto para o tanque de combustível do veículo, acabando com a operação chamada “álcool molhado”.

A fraude ocorre porque o anidro tem tributação menor do que o hidratado. Assim, o adulterador compra álcool anidro direto da usina, adiciona água e vende como se fosse o hidratado.

Mais de 1 bilhão sob adulteração

O Sindicom estima que até um bilhão de litros de álcool , ou cerca de 20% do consumo anual deste combustível no Brasil, seja adulterado. Com a coloração, o consumidor poderá verificar no filtro existente sobre a bomba de combustível nos postos revendedores se o álcool hidratado está incolor como é previsto.

De acordo com o projeto, o corante mais provável adicionado ao anidro seria de cor alaranjada ou vermelha, para não influenciar na cor da gasolina à qual o álcool será misturado. “A medida só trará benefícios.

Os veículos terão menos problemas, os Estados arrecadarão mais impostos, as distribuidoras acabarão com a sonegação e os donos de postos não poderão mais ser alertados”, disse o diretor do Sindicom.

Apesar de ser vista como positiva pelos usineiros, a proposta ainda não é unanimidade no setor. Para Antonio de Padua Rodrigues, diretor da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), o principal problema do mercado do álcool no Brasil é a diferença de tributação entre o anidro e o hidratado.

“O corante não vai resolver a questão que é tributária”, resumiu Rodrigues. Outro ponto de discórdia da proposta é a determinação de que o corante seja adicionado ao anidro nas destilarias, ou seja, antes da distribuição onde ocorre a fraude.

“Só que a adição do corante teria de ser feita nos caminhões que carregam o álcool, já que o produto poderia contaminar, nos tanques das destilarias, outros tipos de álcool, como os destinados à indústria química”, afirmou o diretor da Unica.

Logística ainda não foi solucionada

Outro problema ainda não solucionado para que a medida seja implantada é referente à logística. Segundo o especialista da Transpetro, Ricardo Motta, haverá uma dificuldade de transportar o álcool anidro colorido da mesma maneira que hoje, porque atualmente são utilizados os mesmos dutos para o álcool hidratado.

“Quer dizer que se ficar um resquício de álcool colorido no álcool hidratado, ele será considerado adulterado?”, questionou. Entre as alternativas para solucionar este problema, segundo ele, estariam a construção de um duto paralelo para o transporte específico do álcool colorido ou mesmo seu transporte por caminhão.

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