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Álcool é solução para indústria química

A alcoolquímica tem potencial para demandar 7 bilhões de litros de etanol no mercado interno. Depois de se consolidar no mercado brasileiro de combustíveis – motivado pelo lançamento dos carros flex-fuel -, o álcool pode tornar-se também matéria-prima para a indústria química, que no momento procura alternativas para substituir os insumos derivados do petróleo, cujos preços do barril voltaram a alcançar patamares elevados no mercado internacional, próximos de US$ 70.

Empresas como a Oxiteno não descartam a possibilidade de utilizar, no futuro próximo e “em alguns casos”, a alcooquímica no lugar da petroquímica. “O bom momento do etanol e o presente cenário do petróleo sinalizam que devemos analisar a competitividade da alcoolquímica à luz destes novos parâmetros, definindo, caso a caso, a oportunidade de investimento nessa área”, diz Pedro Wongtschowski, diretor-superintendente da Oxiteno.

Segundo estimativa de Wongtschowski, o potencial da alcoolquímica no mercado brasileiro é enorme. “Em tese, a alcoolquímica pode demandar, só para o mercado interno, cerca de 7 bilhões de litros de álcool por ano”, diz Wongtschowski. Trata-se de um número nada desprezível, considerando que o atual mercado doméstico movimenta anualmente 13 bilhões de litros – a absoluta maioria destinada ao setor de combustível (álcool anidro e hidratado). Uma pequena parte da produção brasileira de álcool – em torno de 2 bilhões – é exportada para o mercado externo.

Diversos produtos convencionalmente derivados da plataforma petroquímica também podem ser obtidos a partir do álcool. O maior exemplo é o eteno, principal petroquímico básico consumido no País, produzido a partir da nafta e que serve de matéria-prima para a produção de resinas termoplásticas (politetilenos e poliestireno), PVC, entre outros produtos. Para Wongtschowski, hoje e futuramente, as mais atrativas aplicações do álcool na indústria química, porém, serão aquelas voltadas à produção de “compostos oxigenados” – que contêm oxigênio na composição de sua molécula -, como o ácido acético, acetato de etila e butanol.

Segundo o Marcello Guimarães Mello, um dos maiores especialistas em energia renovável do País, o álcool nada mais é que um petróleo limpo e renovável. “Ele (etanol) também serve para produzir plástico, borracha, adubo nitrogenado, entre outros”, enfatiza. Na verdade, conforme lembra o diretor-superintendente da Oxiteno, a alcoolquímica não é novidade para as indústrias brasi-leiras. “No Brasil, a alcoolquímica precedeu a petroquímica por várias décadas. Muitos produtos tidos atualmente como petroquímicos, dos quais o exemplo mais relevante é o eteno, tiveram suas produções iniciadas utilizando o etanol como matéria-prima”, diz.

O principal motivo para o arrefecimento da alcoolquímica no passado foi de natureza econômica. “Os produtos petroquímicos, derivados de matéria-prima mais competitivas, produzidos por rotas tecnológicas mais avançadas e em escalas comerciais de produção, apresentaram custos de produção menores que os alcoolquímicos, deslocando-os do mercado consumidor”, explica.

Agora, com a oferta abundante de álcool – que tende a crescer ainda mais, uma vez que são esperados investimentos pesados por parte das usinas sucroalcooleiras – e os sinais de que o preço do petróleo irá se manter em patamares elevados, as indústrias de químicos começam a repensar a possibilidade do uso da matéria-prima oriunda da cana-de-açúcar. Na avaliação do diretor-superintendente da Oxiteno, o avanço da alcooquímica no País dependerá “fortemente” de três principais fatores: a queda no custo de produção do álcool, a manutenção do cenário de alta da cotação internacional do petróleo e disponibilidade comercial de novas tecnologias direcionadas exclusi-vamente para o setor”.

Por enquanto, nas contas de Wongtschowski, o preço de mercado do álcool o exclui como matéria-prima viável para a maioria das aplicações possíveis. No entanto, além do fato do uso do petróleo como matéria-prima ter vida relativamente curta – as reservas atuais no mundo permitem suprir a demanda mundial por 40 anos, conforme estimativas -, é grande a chance de surgirem novas tecnologias no País que reduzem consideravelmente o custo de produção do etanol.

Para Telma Franco, professora da Faculdade de Engenharia da Universidade de Campinas (Unicamp), o custo de produção do etanol pode ser reduzido pelas tecnologias que proporcionam o aproveitamento integral da cana-de-açúcar. Segundo ela, é possível viabilizar a produção de produtos químicos a partir da biomassa e não apenas da produção do álcool pela fermentação da sacarose da cana. “O Brasil tem condições de aproveitar melhor a cana, melhorando o rendimento do bioetanol (álcool) a partir da utilização do bagaço e da palha de cana”, afirma. Nesse processo, são convertidas a açúcares adicionas do bagaço e da palha, os quais, por sua vez, podem ser convertidos a etanol adicional. “Com essa tecnologia, o rendimento do bioetanol pode dobrar sem que precise aumentar a área plantada”, diz o especialista.

Seminário do Uniemp

A alcoolquímica será o tema central do seminário “Perspectiva industriais para o bioetanol”, que será realizado nesta quarta-feira, em São Paulo. Promovido pelo Instituto Uniemp – Fórum Permanente das Relações Universidade-Empresa, da Unicamp, o evento terá a participação de brasileiros e europeus vinculados a instituições de pesquisa, indústrias e órgãos governamentais. “O seminário tem como objetivo proporcionar a troca de experiências nas mais diversas áreas da cadeia de produção e de aplicação do bioetanol”, diz Saul dAvila, diretor de assuntos científicos do Uniemp.

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