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Álcool, dólar e o futuro da indústria

É DIFÍCIL negar que a alta do preço de produtos ditos primários, como agrícolas e metais, ajuda a valorizar o real.

O risco, dizem alguns economistas, é que um real forte demais devido a juros altos e/ou a exportação de commodities destrua ou enfraqueça muitos setores industriais. O saldo dessa história seria uma economia ainda mais dependente da exportação de produtos primários e condenada a um nível alto e crônico de desemprego urbano.

Se for mais do que moda ou promessa, a presente onda mundial de adesão aos biocombustíveis poderia reforçar essa tendência de “commoditização” da economia brasileira, visto que o país é um produtor grande e eficiente de biomassa.

Mas, dos problemas ainda pontuais da indústria até o juízo final da desindustrialização, ainda há tempo para a redenção. O próprio caso do etanol pode ser um exemplo de absolvição, digamos, econômica.

O sucesso do álcool resultou de intervenção do Estado, do apoio à pesquisa científica, da atuação do setor privado e, vá lá, de algumas vantagens comparativas “naturais”. E há mais possibilidades para o “complexo etanol” que a mera produção de uma commodity. O grande desastre da cana é o horror em que vive seu milhão de lavradores, muitos dos quais em breve desempregados, dada a mecanização da colheita.

A indústria do etanol surgiu com uma intervenção do Estado à antiga (mas relevante): muita regulação e incentivo fiscal. Mas o negócio reviveu e desabrochou à base de cooperação entre Estado e empresa. Instituto Agronômico de Campinas, Fapesp, Copersucar, Embrapa criaram a biotecnologia da cana e da produtiva agricultura brasileira moderna. Entre as primeiras empresas de capital de risco, muitas são de biotecnologia e surgiram na pesquisa da cana (Canavialis, Allelyx).

Ainda há vasto campo para a pesquisa bioquímica da cana: fazer etanol a partir de bagaço (o pessoal da Unicamp está nessa); criar produtos químicos, plásticos e outros materiais a partir de açúcar. Aliás, esse é o programa do Departamento (ministério) de Energia dos EUA: unir pesquisa pública e privada para inventar uma nova indústria (biomassa).

A indústria da cana gera 1,4% da energia elétrica do país e pode quadruplicar tal participação. O complexo etanol cria encadeamentos industriais importantes. Demanda geradores, turbinas, caldeiras, tanques, dutos, material ferroviário, máquinas agrícolas, fertilizantes. O real valorizado por commodities pode estragar esse parque industrial? Pode, mas não precisa ser assim.

É preciso pesquisa, ciência e um e outro incentivo setorial a fim de incrementar também o parque industrial do complexo açúcar-etanol. E, claro, reduzir os impostos em cadeia, que estão ajudando a matar a indústria, o que demanda decerto uma arrumação das contas do governo.

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