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Álcool do campo ao posto

Estudo preliminar sobre o Balanço Energético Nacional de 2007 elevou a velha, tradicional e cada vez mais charmosa cana-de-açúcar à posição de segunda maior fonte de energia do País. Ela ofertou 16% de toda a energia consumida no Brasil, seguida de 14,7% da produzida com usinas hidrelétricas, ficando o petróleo com 36,7%. Transformada no que os engenheiros chamam de Tonelada de Petróleo Equivalente (TEP), ela produziu 38,4 milhões de TEPs num ano em que todo o Brasil produziu 111 milhões de TEPs.

O interessante do estudo é que ela cresceu 46,1% ao ano num reflexo do fenômeno brasileiro do carro bicombustível que, na verdade, é carro a álcool. E talvez explique porque uma empresa produtora de álcool como a Cosan tenha comprado as operações no País da ExxonMobil International Holdings, passando a controlar 1.500 postos da marca Esso. Ou porque a British Petroleum (BP) comprou metade da Tropical BioEnergia, que junta os grupos brasileiros Santelisa Vale e Maedan numa usina de 435 milhões de litros em Edéia, em Goiás. Mas afinal, esses seriam fatos isolados ou início de uma nova tendência

O pesquisador da Fundaj, Sérgio Kelner, vê na operação da Cosan uma tentativa de pular um degrau da cadeia produtiva de energia. O empresário pernambucano Eduardo Farias, que lidera um grupo que se prepara produzir 15 milhões de toneladas/safra, em 2010, observa que o setor começa a viver o que chama de terceira onda, na estratégia do etanol virar um combustível de classe mundial.

» Renovável poupa combustível fóssil

O evento Cosan-BP ocorrido em abril iniciou um debate no setor energético porque o setor sucroalcooleiro prepara-se para ampliar sua oferta de eletricidade hoje de apenas 3% num grande leilão que vai ocorrer no mês que vem. Para Eduardo Farias, esse evento revela a lógica internacional das grandes corporações petrolíferas de obter um selo ecologicamente correto, podendo colocar no seu portfólio que é produtor de combustível renovável, o que, de certa forma, quanto mais crescer, mais tempo manterá o uso do petróleo no planeta.

» Logística e rede

Sérgio Kelner lembra que no caso Cosan o mercado de ações não reagiu favorável a empresa. Ele tem dúvidas se o grupo terá fôlego para concorrer com os grandes grupos distribuidores e se a logística da rede Esso lhe garante um canal diferenciado para o álcool da marca Cosan.

»Divisor de águas

Eduardo Farias vê na compra pela Cosan da rede de postos da Esso e pela BP de metade de uma usina, um divisor de águas. E admite que empresas do setor poderão comprar distribuidoras verticalizando a atividade do campo ao posto, controlando da produção até a distribuição.

» Negócio nobre

Parece inusitado uma onda, para usar a expressão criada por Farias, de aquisições de empresas de petróleo comprando usinas e usinas comprando postos de combustível, onde a gasolina seria um produto de segunda linha e onde o álcool ocuparia o espaço nobre do negócio.

» Álcool de tudo

Eduardo Farias concorda que pode ser que verticalizar não seja um tendência. Mas não tem dúvidas de que os gigantes do setor de petróleo entrarão no setor do etanol no Brasil com a cana e, nos Estados Unidos, com o milho e depois com celulose de qualquer matéria orgânica que possa produzir álcool.

Nordeste vai virar acessório

E o Nordeste Que futuro vai ter nesse negócio de classe mundial Sérgio Kelner acha que a produção da região será residual e que a vantagem será de logística para os volumes de exportação de grandes grupos.

Caça às boas empresas

Eduardo Farias concorda com isso e diz que haverá uma busca, dos grandes grupos, pelas boas empresas do Nordeste como um complemento de produção para os negócios gerados no Centro-Sul.

» Complementar

Salvo pela estratégia de ter bases de produção de médio porte e que usem toda tecnologia e expertise que o setor tem na região, parece claro que o espaço que está reservado ao Nordeste no cenário do etanol é, de fato, complementar ou residual.

» Novo patamar

Mas ainda que seja atividade cada vez mais concentrada em poucas empresas que farão parte de megagrupos de capital externo e que produzirão o ano todo, em vários Estados , a produção de cana-de-açúcar mudou de patamar. Agora virou matéria-prima de energia.

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