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Álcool chega a R$ 2,25 em Ribeirão Preto

Casa de ferreiro, espeto de pau. O dito popular é mais que adequado para descrever a atual situação do etanol em Ribeirão Preto, cidade distante 313 quilômetros da capital bandeirante é sede a maior região produtora de etanol do mundo. Ainda assim, o preço do litro do etanol em Ribeirão Preto quebrou a barreira dos R$ 2 e, nesta última quinta-feira, chegou a ser comercializado em alguns postos da cidade a R$ 2,25. São os maiores valores de todos os tempos na cidade.

A aumento, ocorrido de forma súbita, pegou de surpresa os moradores da cidade. Na última terça-feira, ainda era possível encontrar o combustível a R$ 1,69 na maioria dos postos da cidade. “Aumentou de um dia para o outro. Abasteci na terça-feira a noite a R$ 1,70 e quinta o mesmo posto vendia o combustível a R$ 2,10”, conta a professora Rosa Maria Bogolin, que possui um modelo flex. “Já comecei a usar só gasolina”, contou.

Os donos d e postos, por sua vez, se defendem e afirmam que a responsabilidade pelo aumento vem das distribuidoras. Segundo a gerência de um dos postos que vende o etanol a R$ 2,19, o litro foi comprado da distribuidora a R$ 1,90, sem contar o frete. “Não há como vender a menos de R$ 2 com um preço desses”, acredita Adalberto de Souza, dono de um posto na zona norte da cidade.

Já as distribuidoras procuradas pelo DCI não se pronunciaram sobre o aumento, mas afirmam que estão comprando, na usina, o etanol a R$ 1,50. O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindcom) não quis comentar o aumento, alegando que o mercado é livre e que cabe aos associados definir o valor cobrado pelo etanol.

“Estamos em época de entressafra, portanto é natural que os preços oscilem. Essa é a beleza do livre mercado. Mas não há dúvidas que chegamos a um patamar exagerado no preço do etanol e que, no longo prazo, o preço terá que cair”, afirma o professor de e conomia Vicente Golfeto, que ressalta ainda que a lei da oferta e da procura será a responsável por equilibrar os preços. “Com os preços do etanol nas nuvens, haverá menor demanda, já que a gasolina será mais atrativa. Quando isso acontecer, os preços serão acertados”, avalia.

mbora concorde com a análise de Golfeto, Oswaldo Manaia, presidente regional do Sindicato do Comércio Varejista (Sincopetro), que representa os postos, acredita que os preços altos deverão se manter por pelo menos um mês. “Depois desse período, começará a moagem de cana e a tendência é que os valores caiam”, prevê.

Certo também é a queda no consumo do biocombustível. Segundo a União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), o consumo de etanol hidratado deve cair 50% neste mês e em abril, ante a média registrada em dezembro, de 1,5 bilhão de litros.

Antonio de Pádua Rodrigues, diretor da entidade, participou de reunião na Agência Nacional do Petróleo (ANP), nesta quarta-feira, no Rio de Janei ro, com representantes dos ministérios da Agricultura e das Minas e Energia e de distribuidores.

A expectativa, segundo ele, é que, com o início das safras na região centro sul, o preço diminua. Ainda assim, ele fez questão de ressaltar, no encontro, que não existe risco de descontinuidade no abastecimento de etanol pela ANP. “O aumento de preços é uma situação especial, que não envolve problemas na distribuição do combustível”, cita.

Alheios às justificativas, os motoristas que precisaram abastecer reclamaram – e muito – do valor do álcool. O gerente de Processos André Salles, 32 anos, acredita que a situação é “indignante”. “Isso é porque o álcool é feito aqui no nosso quintal. É uma vergonha vender a esse preço”, disse ele na última quinta-feira, enquanto abastecia – com gasolina – seu veículo.

Já o jornalista Augusto de Campos, 29 anos, não teve a mesma sorte. Dono de um carro que só pode ser abastecido com álcool, ele afirmou que pensa em andar exclusivamente de moto até o preço do combustível voltar ao normal. “Carro só em dia de chuva. Nesse preço, fica inviável”, conta.

Mesmo com o aumento nos preços, é possível encontrar postos vendendo o combustível abaixo dos R$ 2 em ribeirão Preto. Isso porque a diferença dos valores do litro do etanol praticados nos postos de combustíveis de da cidade chega a 20%. “A chave é pesquisar e escolher, como sempre, o lugar mais em conta para abastecer”, indica Golfeto. Já o professor Hélio Braga explica que, além de pesquisar, o consumidor deve fazer a regra dos 70%. “Para saber se o abastecimento com etanol é vantajoso, o motorista deve dividir o valor do álcool pelo da gasolina. O etanol compensa se o resultado for até 0,7”, comenta, ressaltando que, acima disso, o indicado é optar pela gasolina. Vale lembrar que, no caso de Ribeirão, o resultado da operação se aproxima dos 0,90.

Outro reflexo desagradável para o bolso do motorista é que alguns postos aproveitaram a alta do etanol p ara reajustar o preço da gasolina. O valor que era de R$ 2,45 e subiu para R$ 2,69. Júnior Monteiro, gerente de posto de combustível, afirma que o aumento deve ser mantido por algum tempo. “Afinal, a gasolina tem álcool em sua mistura e, se o álcool sobe, o preço da mistura também irá subir”, disse.

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