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Álcool barato compensa

Com o petróleo já superando a casa dos US$ 60/barril (aumento de 60% nos últimos 12 meses), a gasolina brasileira está mais barata do que no exterior. Quanto ao diesel, a diferença é de 14%. Desta forma, a Petrobrás deixou de faturar, neste ano, R$ 1,8 bilhão com a venda de combustíveis derivados do petróleo. A Petrobrás reajustou os preços da gasolina e do diesel pela última vez, em novembro do ano passado, quando o barril do petróleo custava US$ 40. O gás de cozinha (GLP) nunca foi reajustado na administração Dutra. Fica muito evidente a intenção política de não reajustar a gasolina e o diesel, enquanto os combustíveis industriais sofrem majorações mensais, o mesmo sucedendo com os derivados menos populares (nafta petroquímica e querosene de aviação).

Em decorrência, o lucro da Petrobrás foi só de 0,37% maior em 2004, em relação a 2003, embora o maior da história da empresa (R$ 17,86 bilhões) e se estima seja mais elevado neste ano. Contudo, a organização tem sérios problemas estratégicos a resolver, entre eles as vultosas concessões feitas aos fundos de pensão dos funcionários, contratação de assessores designados pelo PT; pretensão do monopólio da cadeia do gás natural e os contratos não transparentes com agências de publicidade. Quanto à produção nacional está bem próxima do consumo (1,8 milhão/diários/média), sendo que a auto-suficiência poderá ser alcançada em 2006/2007. Petróleo alto poderá ser entrave a uma possível queda da taxa de juros. Alguns economistas colocam a inflação brasileira sob a ameaça do preço do petróleo futuro, caso permaneça nos atuais patamares. A valorização do câmbio tem compensado parcialmente a alta do óleo. Enfim, a Petrobrás está gastando menos reais para comprar o mesmo volume do petróleo.

Quanto tempo custará essa situação? Duas refinarias particulares de petróleo (Ipiranga e Manguinhos) já anunciaram a suspensão das suas atividades, pois cada barril de petróleo custa para as unidades de refino privadas US$ 63/barril, incluindo os custos com importação, transporte e armazenamento. Para competir com a Petrobrás, elas teriam de pagar US$ 47/barril. Por outro lado, a estatal tem a vantagem de ser produtora e refinadora do petróleo, o que garante essa compensação. O que poderá acontecer com os futuros preços do petróleo é imprevisível. Com o crescimento da economia mundial, o mundo já está se acostumando com o petróleo com preço elevado (em torno dos US$ 60/barril). Para o Brasil, a situação é um pouco mais confortadora, diante do potencial de produção dos combustíveis ecológicos e renováveis, como é o caso do álcool da cana-de-açúcar e dos óleos vegetais.

O álcool permanece relativamente barato (vendido nas usinas a R$ 0,65/litro do álcool hidratado) e nos postos de abastecimento a R$ 0,90/média. Com isto, dispararam as vendas dos veículos bicombustíveis (gasolina e álcool), já superando 52% de todos os carros vendidos em junho. A tecnologia nacional é cobiçada pelas matrizes das montadoras dos veículos e começa a ser utilizada pelo resto do mundo. No acumulado do 1º semestre de 2005, foram comercializados 303 mil (40% de todos os carros vendidos no País). No ano vindouro, a indústria automobilística irá oferecer carros, que possam ser abastecidos com álcool, gasolina, gás natural e nafta. Toda a gasolina brasileira recebe ¼ de álcool anidro, o que contribui para a diminuição do preço do derivado do petróleo, bem como melhora a qualidade do combustível (octanagem) e também polui, sensivelmente menos, do que o energético fóssil.

O autor é diretor da Divisão de Energia da Fiesp, presidente da Academia Paulista de História – APH e presidente executivo do CIEE.

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