JornalCana

Agronegócio quer mais agressividade de governo no mercado externo

É consenso entre os empresários do agronegócio brasileiro que o futuro presidente do Brasil, além de enfrentar uma agenda inadiável de reformas estruturais – fiscal-tributária, da Previdência, trabalhista e política -, precisará concentrar suas ações principalmente em dois temas: infra-estrutura, para escoar a produção, e relações internacionais, para aumentar as exportações do setor agrícola.

“O crescimento sem precedentes do setor sucroalcooleiro, por exemplo, vai exigir grandes investimentos em logística, estradas, dutos e portos, para o escoamento da produção”, afirma Manoel Ortolan, presidente da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana). Para Ortolan, o próximo presidente, seja Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seja o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), terá de atacar esta questão, “o que resultará em mais empregos e mais renda para a população.”

Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo, diretor da Usina Alta Mogiana, de São Joaquim da Barra (SP), afirma que o País também precisa de acordos bilaterais de comércio com países ricos e de menores obstáculos à exportação de produtos agrícolas. “Para nossas cidades, os benefícios virão através de um maior movimento do comércio e de maior geração de empregos”, diz ele.

A maioria dos produtores rurais e agroindustriais ouvidos por este jornal acredita que tais mudanças ocorrerão mais facilmente se Geraldo Alckmin for o eleito. A preferência recai sobre o tucano principalmente devido à crise na agricultura durante o governo Lula, da qual só escapou o setor de açúcar e álcool.

“Lula não venceu no primeiro turno por causa da crise na agricultura”, diz Leonardo Mendonça Tavares, diretor-superintendente do Grupo Agromen, com sede em Orlândia (SP). Grande produtor de sementes e grãos de soja, milho e sorgo, e com duas usinas sucroalcooleiras em Goiás, o Grupo Agromen tem contato direto com produtores agrícolas de todo o País.

“No Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal e Estados do Sul, a diferença a favor de Alckmin foi de 3,6 milhões de votos no primeiro turno”, contabiliza Mendonça Tavares. Para ele, os agricultores, decepcionados com a política agrícola, e os eleitores de municípios que sofrem com a crise, apostarão em Alckmin no segundo turno.

Ademerval Garcia, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Citrus (Abecitrus), afirma: “Caso o presidente Lula seja reeleito, não vejo mudanças de política que possam impactar a economia nacional, embora, claramente, isso seja necessário. Caso o eleito seja Geraldo Alckmin, creio que temos chance de mudança. Haverá certamente uma equipe de governo melhor preparada, menos ideológica, mais voltada ao desenvolvimento e menos direcionada a fomentar a luta de classes e apoiar os movimentos sociais como vemos hoje”, afirma

Garcia acredita que, com a eleição de Alckmin, haverá mudanças na inserção internacional do País, com a retomada de negociações como a Alca, Mercosul-União Européia e Doha, “ampliando nossos mercados e melhorando especialmente a economia agrícola, importante na nossa região.” Ele acrescenta que um eventual governo federal tucano “dará mais atenção aos grandes paises compradores, como fazem os nossos vizinhos Chile e Uruguai, do que às políticas regionais e populistas da América do Sul, que não nos trazem senão dissabores.”

Marcos Fava Neves, professor de Marketing & Estratégia da Faculdade de Economia e Administração (FEA), de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP), concorda com Garcia: “O PSDB apresenta entre seus filiados e quadros técnicos pessoas que têm um entendimento e posicionamento internacional no agronegócio mais claros. Assim, creio que com Alckmin o setor não correrá riscos de liderança, mas, com Lula, dependerá dele encontrar um outro Roberto Rodrigues para o Ministério da Agricultura.”

Já o empresário Maurílio Biagi Filho acredita que “para a nossa economia, tanto faz ganhar um como o outro, até porque a política econômica exposta por ambos é muito parecida. Apesar de todas as discussões e polêmicas, como câmbio e taxa de juros, a política econômica que está aí é a melhor opção.” Para ele, “a economia na região de Ribeirão Preto, focada na produção de açúcar e álcool, não depende de recursos do governo federal e sim do mercado. É forte, consolidada, está madura. Não vejo grandes turbulências, seja quem for o vencedor.”

Biagi Filho também deixa uma sugestão ao próximo presidente: “A austeridade nos gastos públicos tem de ser uma das principais metas do próximo governo. Sem austeridade não poderá haver crescimento. Além disso, há que se quebrar o círculo vicioso e perverso entre informalidade e carga tributária. Sabemos que quanto maior a informalidade maior a carga para aqueles que pagam, como forma de compensação. Nesse círculo vicioso é impossível crescer e, sem crescimento, não há meta de emprego e renda que seja plausível de se alcançar.”

Para o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), João de Almeida Sampaio Filho, a decisão da eleição presidencial no segundo turno é salutar para o Brasil, já que oferece nova oportunidade para exposição e debate de propostas dos candidatos. Segundo Sampaio, o governo Lula colaborou para o crescimento do agronegócio de açúcar e álcool. “Porém, para o agronegócio como um todo, foi uma gestão ruim.”

Entre as falhas do governo Lula com a agricultura, e que deverão ser corrigidas pelo novo governo, João Sampaio elenca a demora em compreender e agir no combate à crise da área de grãos; a leniência com as invasões de terras e conseqüente desrespeito ao direito de propriedade, bem como conivência com os invasores; estímulo a cisão da agricultura entre familiar e empresarial; aumento de impostos; juros elevados, com sobrevalorização do real frente ao dólar, tornando o câmbio desfavorável ao setor produtivo; corte de recursos para defesa vegetal e sanitária; excessiva burocracia ambiental e relativa à biotecnologia; investimentos escassos em infra-estrutura logística e pesquisa agrícola; e falta de foco nas negociações comerciais.

kicker: Segundo turno é salutar para o Brasil, já que oferece nova oportunidade para exposição e debate de propostas

Inscreva-se e receba notificações de novas notícias!

você pode gostar também
Visit Us On FacebookVisit Us On YoutubeVisit Us On LinkedinVisit Us On Instagram