Mercado

Agronegócio altera o mapa de vendas de veículos no Brasil

A retração do poder aquisitivo dos habitantes da região Sudeste foi a responsável por uma queda de 4,1% no volume de vendas de veículos em todo o país nos últimos quatro anos. No período, os mercados cresceram em todas as demais regiões. Houve incremento de 29,7% no Sul, 31,5% no Centro-Oeste, 8,3% no Nordeste e 40,6% no Norte. Sem o Sudeste, o crescimento total teria alcançado 23,8% na comparação entre 2003 e 2000.

O Sudeste ainda concentra a maior parte das vendas. Mas a fatia da região encolheu em mais de 10 pontos percentuais desde 2000. Passou de 63,8% para 53,2%. As demais cresceram, como o Sul, o segundo maior mercado do país, com quase 21% do mercado hoje, ante 15,5% de quatro anos atrás.

A alteração no mapa de distribuição dos carros no Brasil tem acompanhado o movimento do agronegócio. O processo, ainda em curso, ganhou mais impulso nos últimos seis meses. No período, apenas no Mato Grosso, Estado de alta concentração de plantio de grãos, a venda de caminhões cresceu 99,7%, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos (Fenabrave).

A Volkswagen registrou, de janeiro a junho deste ano, aumento de vendas de caminhões de 77% em Cuiabá (MT) e 78% em Maringá (PR), duas regiões fortes em grãos. “Essa vocação agrícola não deve mudar”, afirma o vice-presidente mundial da Volkswagen Veículos Comerciais, Roberto Cortes.

Na Volvo, um dos maiores fabricantes de caminhões pesados do país, 60% das vendas se sustentam do setor agrícola, segundo o gerente nacional, Carlos Pacheco. A empresa registra a finalidade do uso de cada veículo que vende. Segundo cálculos do executivo, mais de 10% dos caminhões comprados para outros usos devem ter influência da agricultura. São veículos utilizados no transporte de insumos, fertilizantes e combustível.

Entre os fabricantes de picapes, saber o preço do saco de soja passou a ser tão importante quanto acompanhar a cotação do aço. A Ford, que despeja no Centro-Oeste 30% das picapes que vende no país, registrou aumento de 70% nas encomendas dessa região. Segundo o gerente regional, Perácio Ferreira, faz 18 meses que o mercado vem crescendo com mais força nas regiões rurais. “A solução do problema dos transgênicos e a entrada do dinheiro da soja fizeram o mercado explodir a partir de setembro passado”, ressalta.

Os executivos da indústria apontam, além da região central, outros focos de boa demanda. Pacheco, da Volvo, destaca áreas do Norte e Nordeste que começam a se sobressair como o cultivo de grãos no Piauí, sudeste do Pará e sul do Maranhão. No Pará, a venda de caminhões cresceu 114,4% no primeiro semestre, segundo a Fenabrave.

O interior de São Paulo também desponta nos resultados. A divisão de caminhões da Volkswagen registrou crescimento de vendas de 62% em São José dos Rio Preto de janeiro a junho. “Trata-se de uma região de alta demanda de transporte de cana”, lembra Cortes. A marca também elevou os volumes em 63% em Porto Velho, por conta, segundo o executivo, do crescimento da atividade madeireira, além de grãos.

O peso do Sudeste é inegável. Mas se a indústria apresentasse o desempenho regional em faturamento no lugar do volume, o resultado destacaria ainda mais as outras regiões. Um automóvel popular- cujo mercado se concentra no Sudeste – custa quatro vezes menos que uma picape incrementada. O preço de um caminhão equivale à média de seis carros com motor 1.0.

“Além disso, o crescimento que hoje registramos nas vendas do Sudeste pode ter a ver com a agricultura, já que há aumento de demanda da indústria de embalagens”, destaca Pacheco, da Volvo.

O agricultor não está comprando apenas mais veículos para trabalhar. A divisão de automóveis da Volkswagen registrou crescimento de vendas numa região que vai do Mato Grosso ao Acre. A fatia de venda de carros e comerciais leves da marca nessa área passou de 13,6% em janeiro para 14,7% em abril. “Apesar de ainda ser uma região onde há muita área verde, o aumento da demanda é nítido, afirma o gerente de vendas e marketing, Paulo Kakkinoff.

No segmento de picapes, a opção dos fazendeiros, segundo contam os vendedores, é pelas versões de veículos com cabine dupla, que comportam a família nos passeios e servem como símbolo de status.

O processo de crescimento das vendas de veículos no país também está mexendo com o marketing nas montadoras. De janeiro a junho, a Ford participou de mais de 100 feiras de agronegócio e já se prepara para a Expointer, uma feira de nove dias que vai acontecer no Rio Grande do Sul no próximo mês.

Kakkinoff conta que no campo é possível fazer um marketing mais direto e personalizado. “Nas regiões rurais, sabemos exatamente quem é o cliente, onde fica a sua fazenda”, destaca o gerente da Volkswagen.

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