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Agronegócio alivia a crise na Argentina

O agronegócio está aliviando a crise econômica argentina, uma história muito bem conhecida também pelos brasileiros. “Vivemos um momento importante e de bons rendimentos”, diz Javier Urquiza, subsecretário de Economia da Secretaria de Agricultura, Ganadería, Pesca y Alimentos –o órgão correspondente ao Ministério da Agricultura brasileiro.

O desenvolvimento nesse setor pode ser visto facilmente nos números da economia. Neste ano, a agroindústria argentina obterá receitas equivalentes a US$ 16,7 bilhões com as exportações, 60% de tudo que o país vai conseguir com as vendas totais externas.

Os sinais da evolução agrícola são visíveis também nas fazendas. Os veículos antigos e malconservados vistos nas rodovias –efeito da forte crise econômica vivida pelo país nos últimos anos– contrastam com as embarreadas –mas de última geração– caminhonetes que circulam pelas fazendas.

Câmbio e preços Os argentinos chegaram dois anos mais tarde do que os brasileiros nessa pujança agropecuária, e dois fatores foram fundamentais para esse avanço, diz Urquiza.

O primeiro é fruto da política interna. O fim da paridade de um peso por um dólar, no início de 2002, deu competitividade aos produtos argentinos. O segundo motivo são os bons momentos dos preços internacionais das commodities, que aumentaram a renda dos produtores.

A salvação dos argentinos, a exemplo do que ocorre com os brasileiros, também se deve, em grande parte, à soja, produto que está tomando o lugar de outros grãos e da pecuária. Os argentinos destinam 16,3 milhões de hectares de área agrícola para o cultivo de oleaginosas (soja, girassol etc.).

A soja já ocupa 87% dessa área. O girassol, que tinha forte presença nos campos argentinos há uma década, ocupa atualmente apenas 1,8 milhão de hectares (11% da área das oleaginosas).

Muitos tombaram

Omar Etcheverry, um produtor de Navarro, cidade localizada a 110 quilômetros a oeste de Buenos Aires, sintetiza essa mudança na agropecuária argentina. Com 56 anos, e desde os 21 na agricultura, ele diz que “hoje estamos encantados com o setor, pois vivemos um período de recuperação”.

Etcheverry diz que a soja está ganhando espaço em suas terras. O girassol já não tem tanta expressão, e o milho, só nesta safra, perdeu 10% da área para a soja.

O mesmo ocorreu com a pecuária. Enquanto percorre a fazenda, o produtor pára em frente ao confinamento de gado e mostra 600 animais de apenas oito meses que estão à espera de transporte para o frigorífico.

“A ocupação das áreas de pastos por soja nos obriga a vender os animais ainda com pouca idade. Além disso, estamos abatendo muitas matrizes”, acrescenta.

Mas além da concorrência da soja, o produtor faz as contas e diz que não perde dinheiro com essa venda. Os animais pesam de 240 a 280 quilos e devem render de US$ 0,70 a US$ 0,80 por quilo.

Se esperasse mais oito meses, esses animais estariam com 480 quilos, que seriam vendidos a US$ 0,60, mas ele também teria o custo de alimentação.

A euforia de Etcheverry, no entanto, acaba ao falar do passado. “Há três anos pensei em abandonar tudo”, diz. “Nós sobrevivemos –olhando para os filhos, que hoje assumem parte dos negócios–, mas muitos caíram pelo caminho devido a problemas financeiros e climáticos.”

Enquanto circula pela fazenda, o produtor, que anexou áreas de seus vizinhos, fala sobre os maus momentos vividos por outros agricultores, o que os forçou a vender suas propriedades. Um especificamente impressiona Etcheverry. Tradicional produtor e forte na região, perdeu tudo e de forma muito rápida.

O segredo de Etcheverry é estar com os pés em vários barcos. É produtor de grãos, pecuarista, comprador de cereal, exportador, tem uma indústria de ração e uma concessionária de implementos agrícolas. Tudo na própria fazenda.

Efeito paralelo

O bom desempenho do agronegócio argentino puxa os outros negócios do setor. A concessionária de Etcheverry vendeu mais implementos agrícolas nos últimos seis meses do que nos seis anos anteriores, o que leva as indústrias de tratores e colheitadeiras estabelecidas no Brasil a olhar com mais carinho para o mercado argentino.

A líder nacional de colheitadeiras, a New Holland, escolheu a Argentina para o lançamento do seu mais novo projeto: a CS660.

As outras empresas com fábricas no Brasil também vêem com bons olhos o mercado argentino. A John Deere, líder na venda de colheitadeiras na Argentina (36,5% do mercado), espera confirmar essa liderança. Outra que quer ampliar as vendas para aquele país é a Agco do Brasil. Da produção de 629 unidades até maio deste ano, 60% foram para o mercado argentino.

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