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Agroenergia: Agora, pesquisa busca cana com mais fibras

De olho no potencial do mercado de bioeletricidade e no de etanol celulósico, a Rede Interuniversitária de Desenvolvimento do Setor sucroalcooleiro (Ridesa) trabalha no desenvolvimento de uma variedade de cana-de-açúcar com maior percentual de fibras. Ainda sem data de lançamento comercial, a tecnologia promete elevar para 18% a 20% o teor de fibras na cana. As variedades atuais têm percentual médio do cerca de 13%.

Esse é apenas um dos diversos estudos sobre cana desenvolvidos pelos 89 pesquisadores das dez universidades que integram a Ridesa, explica a presidente da Rede, Ana Dayse Rezende Dorea, também reitora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

Essa variedade, com mais fibra, vai potencializar o uso da cana em projetos energéticos, diz Geraldo Veríssimo, pesquisador da universidade alagoana e diretor-executivo do Ridesa. “A maior quantidade de bagaço será benéfica aos projetos de bioeletricidade e de etanol celulósico”.

Detentora de variedades cultivadas em 60% da área de cana do Brasil, a Ridesa completa neste ano duas décadas de atuação. A “idade” sobe para 40 se considerar o trabalho da instituição que a antecedeu, o antigo Programa Nacional de Melhoramento Genético de Cana-de-Açúcar (Planalsucar), pertencente ao Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), criado no fim da década de 60 pelo governo federal, recorda a presidente da rede.

Neste ano, a Ridesa está colocando no mercado 13 novas variedades de cana adaptadas a diferentes regiões do país. Em comum, algumas delas têm um ciclo de produção mais longo. Hoje, as variedades têm ciclo de cinco a seis anos, mas o potencial é avançar para sete a oito anos com manejo e clima adequados, explica Veríssimo.

Alguns dos lançamentos também agregam maior potencial de produção de açúcar, diz o pesquisador. Na média brasileira, um hectare rende 7,5 mil quilos de açúcar, sendo que as indústrias de boa eficiência atingem até 12 mil quilos. “Algumas dessas novas variedades têm potencial para elevar essa produtividade para até 15 mil quilos”, diz Veríssimo, lembrando que o desempenho depende da eficiência de cada usina.

A Ridesa tem um orçamento de cerca de R$ 30 milhões por ano. Metade desse volume é captado entre um grupo de 300 usinas sucroalcooleiras de todo o Brasil. A outra parcela vem de aportes do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) via Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Apesar das novas demandas do setor sucroalcooleiro, como maior teor de fibra e mais rusticidade – para se adaptar à crescente mecanização -, as pesquisas ainda continuam perseguindo resultado nas demandas tradicionais, como produtividade geral da cana e de rendimento dos produtos.

Na década de 70, quando o Planalsucar foi criado, a produtividade da cana era de 50 toneladas por hectare. Ao longo dos anos, os estudos mostraram que a cana é uma planta com potencial de render 472 toneladas por hectares no Brasil. A média dessa produtividade no Brasil é de 80 toneladas. Em São Paulo, esse indicador é mais alto e varia entre 100 e 120 toneladas.

“Em algumas regiões – e em casos pontuais – há variedades que atingem 200 toneladas de cana por hectare, obviamente, em condições de manejo e clima favoráveis”, diz Veríssimo. Ele acrescenta que, em campos experimentais, os resultados indicaram desempenho de 300 toneladas.

Assim, por maior que tenha sido a evolução, há ainda um largo terreno para avançar”, defende o pesquisador Marcos Antônio Sanches, pesquisador da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e também diretor-executivo da Ridesa. Sobretudo, completa Sanches, se se levar em conta que a expansão da cana está ocorrendo em ambientes menos favoráveis. “O desafio é manter as boas produtividades, apesar das condições adversas”, diz o pesquisador UFSCAR.

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