A presença da broca da cana-de-açúcar prejudica o processo industrial, reduzindo a qualidade da matéria-prima, alerta o professor Dr. Paulo Figueiredo, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Dracena (SP).
“Seja para produção de açúcar ou de etanol, precisamos ter a maior quantidade possível de sacarose, que são moléculas de glicose e frutose munidas por uma ligação. Como a broca prejudica a formação de sacarose, ela diminui a qualidade da matéria prima por ocasião do processamento, além de contaminar o processo de fermentação.
Segundo o professor, o controle da broca exige um esforço com muitas visões. “O que o setor tem praticado para diminuir a infestação é um conjunto de práticas, que inclui o controle biológico e o uso de produtos químicos, quando necessário.
Para Figueiredo, o uso de variedades resistentes é muito importante, pois traz sanidade para as lavouras e, muitas vezes, a planta passa por todos seus ciclos sem a presença da broca.
“Esse esforço concentrado de produtos, que também passa pelo manejo varietal, é a principal estratégia que o produtor deve ter para evitar a presença da broca”, diz Figueiredo.
Clique para aqui para assistir a vídeo com o Dr. Paulo Figueiredo.
O caso da Viterra
O uso da variedade Bt permitiu à Viterra Bionergia S/A reduzir uma infestação de 6,8% de broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis) para 0,001%.
“Zero broca. Isto é fato e comprovado”, diz Luiz Henrique Zucolo Ferreira, coordenador corporativo de Pesquisa & Desenvolvimento da empresa.
Engenheiro agrônomo com experiência de mais de 16 anos em cana-de-açúcar, Zucolo conta que nas áreas com restrições de voo, onde a Viterra não conseguia fazer o manejo com aplicações aéreas, a empresa ficava refém das aplicações terrestres e do emprego manual de Cotesia flavipes (vespa inimigo natural da broca).
“O controle da praga nestas áreas era um grande desafio. Mas com as variedades Bt, conseguimos facilitar o manejo e também eliminar a infestação, que chegou a zero”, diz o agrônomo.
“A gente utiliza como testemunha a bordadura, área que a gente faz com material convencional, e que dá zero de infestação onde está a tecnologia Bt. Não encontramos ali infestação de broca e nem complexo de podridão”, diz o coordenador da Viterra.
Clique aqui para assistir vídeo com Luiz Henrique Zucolo Ferreira, coordenador corporativo de Pesquisa & Desenvolvimento da Viterra.
A Viterra Bioenergia possui duas unidades industriais localizadas no interior de São Paulo: Junqueirópolis (Unidade Rio Vermelho) e Guararapes (Unidade Nova Unialco), que juntas possuem capacidade de processar 7 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra.
Quatro variedades Bt
O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) tem em seu portfólio quatro variedades geneticamente modificadas (Bt), adaptadas às condições de clima e solo das várias regiões, que permitem controle da broca superior a 95%.
As canas Bt estão presentes em mais de 180 usuários entre usinas e fornecedores, que juntos são responsáveis por cerca de 60% da moagem nacional.
Luiz Antônio Dias Paes, diretor comercial do CTC, diz que a cana Bt é a solução mais eficiente, pois entrega uma cana livre de broca, resultado muito superior aos métodos de controle convencionais.
As canas Bt substituem com vantagens econômicas e ambientais os controles convencionais atualmente em uso no setor, que empregam inseticidas químicos ou biológicos.
“O avanço na utilização e ampliação das áreas de cultivo com a biotecnologia são ferramentas fundamentais para o país elevar a produtividade e competitividade do setor sucroenergético, sempre com foco na sustentabilidade e rentabilidade do setor.
CTC lançou variedade de cana Bt em 2017
Líder mundial em melhoramento genético e biotecnologia aplicados à cana-de-açúcar, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) lançou em 2017 a primeira variedade de cana geneticamente modificada do mundo, com a característica (trait) de resistência à broca.
Uma das principais pragas que afetam os canaviais, a broca provoca prejuízos anuais superiores a R$ 6 bilhões às usinas. Esse lançamento foi um marco histórico mundial para o setor de cana-de-açúcar.
Hoje, o CTC possui quatro variedades geneticamente modificadas em comercialização, além de um pipeline robusto de variedades geneticamente modificadas, resistentes à broca e tolerantes ao glifosato.
Com o maior banco de germoplasma de cana-de-açúcar do mundo, o CTC emprega as mais modernas ferramentas de melhoramento genético e biotecnologia – como a seleção genômica. Nos laboratórios em Piracicaba (SP) e Saint-Louis (Missouri-EUA), as equipes de cientistas do CTC desenvolvem trabalhos de ponta em melhoramento e engenharia genética.
A empresa tem como meta dobrar a produtividade dos canaviais brasileiros até 2040, permitindo o crescimento sustentável do setor com maior competitividade e redução do impacto ambiental na produção agrícola.
Criado em 1969, o CTC contribuiu nestes 55 anos de história para o avanço tecnológico do agronegócio nacional e a competitividade do setor sucroenergético, levando o Brasil à liderança mundial do setor, aumentando a produtividade para atendimento da demanda mundial de açúcar, proporcionando visibilidade ao etanol como um dos mais importantes biocombustíveis do mundo e a cogeração através do processamento da palha da cana (bioeletricidade).
Biotecnologia acelera a produção agrícola
A biotecnologia acelerou o melhoramento genético de importantes culturas agrícolas, o que deu origem às plantas geneticamente modificadas, conhecidas como transgênicas.
As plantas GM aumentaram a produção no campo, isso porque a maioria das modificações feitas até hoje torna as plantas resistentes a determinadas e/ou tolerantes a herbicidas.
Os Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) ou transgênicos são respostas da ciência para problemas que afetam a humanidade, como doenças, fome e problemas no clima. A biotecnologia oferece muitas possibilidades para melhorar a qualidade de vida da população em vários campos, como a saúde, o meio ambiente, a indústria e a agricultura.
No campo, a biotecnologia torna a agricultura menos dependente da aplicação de produtos químicos, ao desenvolver plantas resistentes a doenças e pragas, melhorando a qualidade dos alimentos.
Atualmente, o Brasil ocupa a 2ª posição no ranking de países que mais adotam organismos geneticamente modificados (OGM) nas culturas. Cerca de 99% da soja, do milho e do algodão são transgênicos no Brasil.