Um novo nicho de mercado para a business intelligence (BI) se abre com a possível consolidação do mercado de agronegócios. A chamada Inteligência de Negócios atua no monitoramento de dados e indicadores referentes ao negócio de uma empresa, que pode orientar as tomadas de decisão. Segundo Luciano Fernandes, sócio e presidente de Operações (COO, na sigla em inglês) da Inove Consulting, as 200 empresas do setor de agronegócios existentes no Brasil serão apenas 80 nos próximos 5 anos e a inteligência de mercado deve ser fundamental para esta consolidação. “No cenário pós-crise, as empresas passam a ter que controlar mais. E setores como o sucroalcooleiro são carentes de informação para acionistas”, afirma Fernandes.
Atualmente, o agronegócio representa 20% do faturamento e da carteira de clientes da empresa. Segundo Fernandes, até 2011, a expectativa é que o segmento represente até 40% do seu negócio. Fernandes aposta na velocidade das informações como diferencial para expandir neste mercado. “A gente quer que o projeto seja rápido. Informações precisas e rápidas para os acionistas”, afirma o executivo.
Fernandes explica que algumas informações para este mercado ainda não existem, ou seja, ainda não foram sistematizadas e precisam de uma dedicação específica para coleta e análise. “Diferentemente de outros mercados, onde existem informações sendo coletadas há muitos anos, a entrada neste mercado exige um grande esforço inicial”, afirma Fernandes. A motivação para a empreitada vem da visão de que a consolidação esperada para o mercado fortaleça ainda mais a demanda pelos serviços de BI. “Os planos das empresas acabam tendo que ser revistos semestralmente e isso exige uma precisão muito grande das informações. E quem investe no Brasil precisa controlar indicadores”, explica Fernandes, que atua há 14 anos neste mercado e sua empresa atende também a outros segmentos como o de autopeças e farmacêutico.
“O tipo de cana que se planta; qual é o percentual de açúcar que ela vai produzir se plantada em determinada região? Essas são informações muito sensíveis para o (setor) sucroalcooleiro”, explica Fernandes. A Inove investe já no primeiro semestre de 2010 na abertura de dois novos escritórios: um em Campinas, interior de São Paulo e outro no Rio de Janeiro. São R$ 2 milhões em investimentos iniciais, segundo ele.
“A maioria das empresas deste setor estão na região de Piracicaba e Ribeirão Preto e gostaríamos muito de abrir uma nova operação nessas regiões. Quem sabe num futuro próximo”, revela.
Novos mercados
“A busca por novos mercados, uma vez que tradicionalmente o BI se desenvolve no mercado de manufatura, financeiro e de telecomunicações, mostra um amadurecimento e uma busca por maior visibilidade”, afirma Samuel Carvalho, analista de mercado do International Data Corporation (IDC Brasil). “A importância dos serviços de BI tem aumentado principalmente por que as empresas já se adaptaram ao Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) e agora podem investir mais em Inteligência nos seus negócios”, explica Carvalho.
O BI, criado na década de 1980, é um conceito que está na lista das cinco prioridades dos principais executivos das 340 maiores empresas do mundo, segundo pesquisa divulgada recentemente pelo instituto Gartner.
Os serviços de Tecnologia da Informação (TI), que movimentaram mais de US$ 780 bilhões em todo o mundo no ano passado, deve crescer 5,6% este ano e atingir a marca de US$ 824 bilhões, segundo o Gartner. No Brasil, o serviço de BI deve observar um crescimento de até 10%, como explica o analista do IDC. “A expectativa de crescimento para o serviço no Brasil era de 5% a 10%, mas pelos dados preliminares do mercado, podemos esperar um crescimento de 7% a 10%”, avalia Carvalho.
“O que percebo claramente é que o quarto trimestre de 2009 já foi muito bom”, afirma Carvalho. “Empresas que seguraram o orçamento durante o ano, em função da crise, fecharam negócios no último trimestre do ano.”
A afirmação de Carvalho valida a expectativa de Luciano Fernandes, que apostou na crise financeira mundial como um campo fértil para o crescimento da business intelligence e abriu sua empresa, a Inove, que completa seu primeiro ano de existência. “Abrimos a empresa na crise por que acreditamos que o BI seja mesmo uma solução para a estratégia das empresas”, afirma.
Novas plataformas
Além da aposta em novos mercados, o que possibilita um crescimento expressivo, mas ainda não é um movimento vital para o mercado de BI – um mercado em pleno crescimento -, o desenvolvimento de novas plataforma pode garantir maior rentabilidade. Flávio Bolieiro, vice-presidente da MicroStrategy para América Latina, acredita que o número de usuários dos produtos de BI deve aumentar sensivelmente com aplicativos que permitam ao usuário acessar e editar relatórios e gráficos a partir do celular.
No início do segundo semestre a empresa, que já tem um produto voltado para Blackberry, deve lançar a nova versão de seu produto de BI para iPhone. “Um consultor pode sentar-se à frente do cliente e acessar as informações, e até apresentar esses dados do próprio celular, usando as funções de um telefone touchscreen, de maneira rápida e simples.”
Bolieiro acredita que a entrada em novos mercados seja importante, mas não vital. “O grau de maturidade do mercado brasileiro está aumentando e isso puxa o crescimento no número de aplicações disponíveis e também o número de usuários”, explica. A empresa aposta no segmento hospitalar que, para Bolieiro ainda tem uma participação incipiente na receita, apesar do grande número de clientes.
“Atendemos a um número grande de hospitais, mas o baixo número de usuários dentro desses clientes faz com que a receita não seja tão alta”, afirma. A empresa, que tem mais de 40 escritórios em todo o mundo, faturou US$ 272 milhões até o 3º trimestre do ano passado. (Danilo Sanches)