Mais uma vez, vivemos um período de indefinições sobre o futuro da biotecnologia e, conseqüentemente, da agricultura no Brasil. E como sempre, três antigas perguntas aquecem a discussão. Continuaremos a ignorar as vantagens do uso de uma tecnologia que permite reduzir significativamente os custos de produção? Qual a justificativa para desconsiderarmos que os consumidores de países ricos, ao contrário de nós, têm acesso ao alimento produzido a partir de plantas transgênicas? Para quê continuar buscando improváveis danos ambientais ou alimentares resultantes de uma tecnologia utilizada há mais de dez anos, sem nenhuma evidência de problema?
De um lado, o governo anuncia investimentos em biotecnologia sem precedentes no Brasil. De outro, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), instituição composta por pesquisadores da mais alta qualificação científica, segue sofrendo uma verdadeira campanha de obstrução. É difícil de acreditar, mas estamos em 2007 e ainda temos como pauta o debate sobre a liberação de variedades de milho GM. Duas delas – a Liberty Link, da Bayer Cropscience, e a Yielgard, da Monsanto – estão há quase uma década em análise pela CTNBio. Enquanto isso, diversos países no mundo cultivam e consomem o milho GM, aumentando suas participações no mercado agrícola internacional e garantindo produtos saudáveis a seus consumidores. EUA e Canadá são bons exemplos, mas até a Europa, conhecida por seu rigor no assunto, já vem consumindo e cultivando o grão transgênico.
Na América Latina, o Brasil também assiste de forma passiva ao avanço da biotecnologia. Recentemente, o governo colombiano percebeu a importância da adoção dos trangênicos para se manter competitivo no setor agrícola e aprovou o uso de sementes de milho GM em zonas agroecológicas. Na Argentina, um estudo, desenvolvido pelos pesquisadores Eduardo Trigo e Eugenio Cap, avaliou o impacto da adoção dos transgênicos na agricultura do país durante a última década. Os números do levantamento indicam que o impacto socioeconômico resultou num retorno de mais de US$ 20 bilhões. Quando considerado somente o milho resistente a insetos, idêntico às variedades em processo de análise de liberação comercial no Brasil, os autores estimaram os benefícios em US$ 481,7 milhões, para o período 1998-2005. Com 17 milhões de hectares de lavoras GM, nosso tradicional vizinho é o segundo maior produtor mundial de transgênicos.
Em uma manifestação recente a favor da liberação do milho GM, um agricultor gaúcho disse: “Queremos o direito de plantar o mesmo milho que nossos concorrentes plantam. Por que o Brasil haveria de ficar para trás nessa tecnologia? Na Argentina, nossos colegas já podem cultivar três tipos diferentes de milho transgênico. Por que vamos nos conformar com o atraso imposto a agricultura de nosso País?” Eu acrescento: como pesquisador também gostaria de ter permissão para transformar o rico conhecimento científico brasileiro em tecnologia que beneficie o produtor rural, o meio ambiente e a sociedade. Está na hora de dizermos “SIM” à biotecnologia agrícola.